A decisão da Comissão Arbitral Paritária é uma derrota de Bruma, de quem o representa e da estratégia montada. A seguir poderá ser vitória do Sporting.

Ao ser derrotado na CAP, Bruma falha o objetivo fundamental: ficar livre, escolher o futuro clube. Não li o acórdão, não li os argumentos das duas partes, não tenho formação jurídica que me permita avaliar em rigor a decisão. A CAP é um órgão com longo histórico, discreto e respeitado. Isso chega-me. ( até por isso, o presidente do Sporting não precisava de usar a velha cartada da pressão em formato de papel de jornal, em dia de reunião. Ficou-lhe mal.)

À luz da decisão, tornou-se evidente que o movimento do jogador foi arriscado, demasiado arriscado. Um risco que a aproximação do fecho de mercado torna ainda mais elevado.

Restam a Bruma duas opções. De acordo com o que afirmou Bebiano Gomes no «Maisfutebol», TVI24, o caminho da litigância continua sobre a mesa. Isto implicará novos processos, provavelmente o recurso à FIFA e seguramente maior tempo de paragem. Semanas, meses, no limite um ano, até ao final da época 2014.

A outra opção é fazer de conta que nada disto aconteceu e retomar o diálogo com o Sporting. Eventualmente até aparecer para treinar, se for preciso.

Claro que para haver diálogo são necessárias pelo menos duas pessoas. Neste caso, os dirigentes do Sporting.

Apesar de ter vencido na CAP, não creio que o Sporting esteja em muito melhor posição hoje do que, por exemplo, antes do Mundial Sub-20. O jogador deixou de morar na Academia de Alcochete, não treina, não tem reconhecido o clube como entidade patronal. O acórdão poderá ajudar o clube a reclamar, mais tarde, uma indemnização. Reforça a posição negocial no imediato, mas na prática só resta um ano de vínculo com Bruma, alguém em parte incerta, que não pode jogar porque não aparece. Enfim, é preciso andar depressa.

Ao clube restam três caminhos. Aceitar Bruma de volta, o que só seria compreensível se o futebolista renovasse. Aceitar eventuais propostas que possam existir, receber algum dinheiro e fazer de conta que nada disto aconteceu. Escolher também a litigância, procurando tornar este caso exemplar e apostando na via judicial para, mais tarde, eventualmente receber algum dinheiro.

A decisão da CAP foi ótima para o Sporting, que salvou uma bola que ameaçava entrar na sua baliza. Mas só por si nada resolve. Falta fazer golo no outro lado do campo.

A decisão da CAP foi péssima para Bruma que entrou no jogo com uma estratégia que nunca pareceu suficientemente sólida e que neste momento precisa de um daqueles lances em velocidade para voltar a equilibrar a partida. Depois de tantas semanas parado, será ele (e os que o rodeiam) capaz?

NOTA: Percebo o argumento de quem acha que os jogadores têm o dever de tratar bem quem os acolhe em jovens, quem lhes dá condições. Mas também percebo o outro lado. Por cada Bruma existem 50 jogadores que saem da formação dos grandes clubes para uma vida dura, de pouco dinheiro. A transição de júnior para sénior é o momento mais delicado na carreira de um futebolista e não parece existir uma solução mágica que resolva isto de uma forma agradável para toda a gente. Haverá sempre lágrimas e momentos menos bonitos. A este nível, o futebol é um negócio, cada um defende o melhor para si e não há inocentes. Algo que a natural ausência de distanciamento impede os adeptos mais sanguíneos de compreender e aceitar. O que não os autoriza a insultar quem está do outro lado, sobretudo quando os insultos são de cariz racista, como infelizmente li ontem à noite em contas de Twitter.