Diz em jeito de brincadeira: «A minha vida dava um livro». É verdade. Cassiano, 29 anos, médio brasileiro do Penafiel, já jogou em várias nações diferentes e Portugal é o nono país na sua carreira. Depois de defender as cores do Nacional de Montevideu, do Uruguai, circunscreveu no mapa o quinto país onde iria jogar futebol. «Estava a negociar a renovação com o Nacional, quando apareceu uma proposta irrecusável da Coreia do Sul». Nem pensou duas vezes. Deu prioridade à componente financeira, colocando o bem-estar da família à frente de todos os interesses. Como sempre, aliás.
Por isso, entre 2002 e 2003 vestiu a camisola do Pohang Steelers. Mas chegou a arrepender-se. «Depois de um jogo, o capitão de equipa pegou num taco de basebol para bater nos jogadores». Nem queria acreditar. Para bater em jogadores coreanos. Outro episódio chocou-o de tal forma que resolveu partir em direcção a outras paragens: «No final de um jogo, o nosso guarda-redes, que é internacional, começou a gritar com um dos meninos da defesa. O rapaz baixou a cabeça e ele agrediu-o ao soco. Nem sabia o que fazer. Se havia de ajudar ou não. Depois de ser agredido, o rapaz agradeceu-lhe».
É uma situação chocante, mas que Cassiano explica pela própria cultura asiática: «Há um respeito muito grande em relação aos mais velhos. Ninguém pode discutir com eles, porque a sua opinião é sagrada». A agressão ao colega de equipa foi a gota de água para dar um novo rumo na sua vida. «Ao ver aquilo, só pensava em ir embora. Por isso, quando me fizeram um proposta para ir jogar nos Emirados Árabes Unidos, nem pensei duas vezes». Era o sétimo país na sua carreira. Na época 2003/04 assinou pelo Al-Shaab: «O Dubai é uma cidade extraordinária, onde se vê ouro em todo o lado».
Recusou jogar na China
O primeiro contacto com o país deixou-o maravilhado: «Quando fui escolher casa, mostraram-se um palacete maravilhoso. Quis logo morar ali. Ainda me perguntaram, não quer ver mais? Pode gostar de outras casas. Não, não quero, respondi. Aqui está legal. Era uma casa enorme e fantástica». Futebolisticamente, nunca teve problemas e depressa se transformou num ídolo dos adeptos. «Há dois estrangeiros por equipa, porque os jogadores são amadores. Trabalham de dia e jogam à noite». Na rua, entendia-se em inglês. Era assim que se desenrascava no dia-a-dia.
Mas em 2004, Cassiano regressou ao Brasil, apesar de ter propostas do mundo árabe. Jogou no Botafogo e em Janeiro deste ano chegou a Penafiel. «Tinha a oportunidade de regressar à Europa. A língua é a mesma e estou perto de Espanha, onde se encontra a minha esposa, que será mãe em breve». Isso influenciou a sua decisão. Por isso, abdicou de jogar na China e recusou propostas da Tunísia e do Egipto. «Sou um aventureiro, gosto de viajar e de conhecer o Mundo. Não tenho problemas de adaptação nem sinto saudades do meu país», diz com orgulho.
Só lhe falta passar por África e pela Oceânia para jogar nos cinco continentes. Próximo destino? «Jogar num grande clube do futebol português. Por que não?»