Dez jogos consecutivos como titular, dois golos apontados na Liga turca, Kasimpasa na vice-liderança da competição. Para André Castro, a época não podia estar a correr de melhor forma.

O médio, cedido pelo F.C. Porto ao emblema da Turquia, procurou espaço para crescer e mostra-se satisfeito com a aposta. Na ressaca da quinta vitória consecutiva, onde fez o gosto ao pé, o português concedeu uma entrevista ao Maisfutebol .

«Nesta altura não podia estar mais satisfeito. A verdade é que até agora as coisas estão a correr até melhor do que esperávamos. A equipa está no segundo lugar à frente de Galatasaray e Besiktas, por exemplo», frisa.

O Kasimpasa terminou a época anterior na sexta posição. O objetivo é elevar a fasquia. «Temos de manter a calma, lutar pelo título não era algo que estava no nosso horizonte. Se mantivessemos este segundo lugar, já seria histórico para o clube. A nossa intenção é, sobretudo, ficar acima do sexto lugar e ir às competições europeias.»

Castro chegou ao clube e dispensou o período de adaptação. «Três dias depois de chegar, já estava a jogar». Foi suplente utilizado na primeira jornada e marcou na estreia como titular, no jogo seguinte. Não mais saiu do onze. «Vim para ser feliz, porque só sou feliz se jogar com regularidade. Felizmente, isso tem acontecido.»


A fortuna de Turgay Ciner e o primeiro-ministro

O Kasımpaşa Spor Kulübü regressou ao escalão principal do futebol turco na época 2012/13. Com Djalma (extremo cedido pelo F.C. Porto, entretanto encaminhado para o Konyaspor), a equipa surpreendeu e terminou na sexta posição. Agora, sobe mais um nível. Não é obra do acaso.

«No ano passado lançaram as bases, é uma equipa que vem de baixo mas não nos falta nada. As instalações são muito boas, ao nível de clubes que disputam a Champions e foram chegando jogadores de grande nível.»

Turgay Ciner, o proprietário do clube, contribuiu para este crescimento súbito. «O dono do clube é aqui uma pessoa que controla muitas coisas, dono de shoppins e hotéis. Tem sido muito importante», reconhece Castro.

O dono do Kasimpasa controla, por exemplo, a segunda maior exploração mundial de carbonato de sódio e um grupo de média. O clube tem, por isso, uma significativa capacidade financeira, atraindo jogadores como Andreas Isaksson ou Ryan Babel. Shota Arveladze, antigo internacional georgiano, é o treinador.

Surge ainda outra curiosidade. Castro joga no Estádio Recep Tayyip Erdogan. E quem é Erdogan? O atual primeiro-ministro da Turquia, natural daquela zona.

Kasimpasa é um bairro da capital Istambul. O estádio surge numa zona de elevada densidade populacional. Aliás, era conhecido por ter bancadas de um lado e vista aberta para uma zona residencial do outro. Entretanto, o clube conseguiu aumentar a lotação do recinto e compor o cenário pouco habitual.


«Isaksson será um grande obstáculo para Portugal»

Castro volta à conversa. No balneário do Kasimpasa já se fala do Portugal-Suécia. Afinal, o titular na baliza sueca é seu companheiro de equipa.

«Falámos mal saiu o play-off. Ele não ficou muito satisfeito com o sorteio porque considera que Portugal é favorito. Eu também não fiquei, a Suécia é forte e gostaria de ter a seleção portuguesa  e o meu guarda-redes no Mundial. O Isaksson será um grande obstáculo para Portugal, é um excelente guarda-redes, mas sou português e acredito no sucesso da seleção», frisa o médio.

O jogador luso, por outro lado, não foi chamado por Paulo Bento. «Não exigo nem espero nada, aceito sempre as decisões. Sou português, estou num campeonato muito bom e claro que mantenho o sonho de ser chamado. É com esse objetivo que trabalho todos os dias. Mas se não for, desejo na mesma muita sorte à seleção.»

O médio salienta a qualidade do campeonato turco, lembrando o investimento generalizado em jogadores de topo nos últimos anos. «Aqui, quase todas as equipas têm jogadores conhecidos. Ainda neste fim-de-semana vencemos o Gaziantepspor que tem o Artem Milevskyi, por exemplo.»

«Kasimpasa tem opção de compra, vamos ver»

André Castro está feliz. Chegou à Turquia, começou a jogar e abraçou a nova realidade. «Trouxe logo a minha mulher, arranjei um apartamento, gosto da comida e estou numa zona muito bonita. A única barreira é linguística, algumas pessoas não falam inglês.»

O entusiasmo dos adeptos do Kasimpasa é contagiante. «As pessoas aqui são malucas por futebol e estão encantada pela equipa. Sinto que gostam de mim e espero continuar assim. Estou num futebol que é melhor que eu pensava, num bom campeonato, em grande crescimento, e foi uma aposta acertada.»

O clube turco garantiu o empréstimo de Castro e o
contrato contempla uma opção de compra. Por isso, o futuro está em aberto. «O Kasimpasa tem opção de compra e as coisas estão a correr muito bem. Vamos ver. Tenho mais um ano de contrato com o Porto mas tudo pode acontecer. Penso em jogar bem aqui e a decisão chegará no final da época.»


Está a jogar em duplo-pivôt, à Paulo Fonseca

A conversa chega a um ponto interessante. No Kasimpasa, André Castro surge como o segundo elemento de um meio-campo com duplo-pivôt. «Dos dois, sou o que sobe um pouco mais mas às vezes as oportunidades não aparecem. Felizmente, consegui marcar mais um golo mas não penso muito nisso. Às vezes sai. Sei é que tenho de defender bastante, aqui o ritmo é muito alto.»

O Maisfutebol aproveita a deixa e pergunta: se está a ter sucesso num esquema parecido ao que Paulo Fonseca utiliza no F.C. Porto, não poderia lutar pelo lugar que tem sido ocupado por Defour ou Herrera?

«Sou um jogador com essas caraterísticas mas nunca iremos saber se podia lutar pelo lugar. Nunca tive a oportunidade de ser titular do F.C. Porto no campeonato. Claro que confio muito em mim e acho que podia ajudar, mas foi tudo falado com o clube e chegamos à conclusão que era o melhor para todos. Não guardo qualquer tipo de rancor.»

André Castro não se mostra incomodado. Aos 25 anos, tem uma certeza: «Vou tendo sucesso nos clubes por onde passo.»

«No Olhanense, fui por cinco vezes nomeado como melhor jogador jovem e marquei vários golos. No Sp. Gijón, penso que fiz um trabalho muito bom. Mesmo no F.C. Porto, acho que estive bem quando fui chamado. E agora estou a ser feliz na Turquia. A realidade é essa», salienta.

A saída por empréstimo, mais uma, não afetou a relação entre o jogador e o clube. «No ano passado, penso que ajudei bastante a equipa mas entretanto achámos, em conjunto, que o melhor era eu sair. Não jogando regularmente, não consigo ser feliz. Se um dia voltar e for aposta, claro que ficarei satisfeito. Sou portista e sinto que os adeptos gostam muito de mim.»

O médio português está feliz. Em jeito de despedida, recorda o único episódio menos abonatório das últimas semanas. Apenas para explicar a situação.

«Após o jogo com o Eskisehirspor, mostraram em Portugal um vídeo com um erro meu mas faltou explicá-lo. Foi um erro, de facto, uma bola que eu achei que ia sair e não saiu. O adversário percebeu isso e marcou. Mas já estávamos a perder, era o último lance do jogo e só pensávamos em dar tudo para inverter a situação. Foi um lance estranho mas não mudou nada. Aliás, aqui nem me falaram disso», remata.