A iniciativa solidária «Do Futebol para a Vida» reuniu 27 mil euros numa semana e meia para apoiar 110 jogadores em dificuldades para fazer face à pandemia de Covid-19, mas a causa criada por um grupo de atletas do Campeonato de Portugal vai muito além disso.

«Até sexta-feira respondemos a 211 apelos, entre 110 atletas, 30 famílias de jogadores e 71 civis sem ligação ao desporto. Recebemos 27.146 euros e já gastámos 7.424, o que deixa um saldo de 19.722 para os próximos tempos», informou à agência Lusa David Dinamite, defesa do Real Massamá e um dos promotores da onda solidária.

A iniciativa foi criada a 14 de abril pelos capitães do Real e do Loures, o luso-guineense Ibraime Cassamá e o português Hugo Machado, que envolveram os sitrenses Sandro Lima, Paulinho e Daniel Almeida.

A causa sensibilizou também Bruno Fernandes, Carlos Vinícius e o treinador Silas, mas também outros jogadores, técnicos, presidentes, árbitros, empresários e chefes de claques, que contribuíram com a doação de bens de primeira necessidade ou transferiram fundos.

«A iniciativa cresceu de forma natural e não tem maldade nenhuma, muito menos é feita pelo senhor de gravata que se esconde atrás de uma qualquer empresa. Como é mais fácil doar assim, a mensagem foi passando de boca em boca até chegar aos jogadores profissionais da Liga e II Liga, que têm sido impecáveis e dão-nos confiança total. (...) Sentimos muita vergonha por parte das pessoas que necessitam de ajuda, mas no final agradecem, alguns choram e dão-nos força para continuarmos. No Fátima, ajudámos a cozinheira, o diretor desportivo e um senhor a trabalhar no estádio, porque já não recebiam há alguns meses e passavam por sérias dificuldades», referiu David Dinamite.

«Alguma malta da AD Oliveirense chegou até nós a viver com filhos em condições precárias, mas há outros clubes a dever dinheiro e bens essenciais. E quando falamos com essas pessoas por videochamada, costumam mostrar-nos o frigorífico completamente vazio, o que nos mete muita impressão e [causa] alguma emoção», acrescentou.

A causa já tem um site na Internet (www.futebolparaavida.pt), onde é possível agilizar o contacto com os mais necessitados.

E quase diariamente o grupo depara-se com situações de extrema necessidade. «Esta semana apanhámos uma equipa recente da distrital algarvia, o Sharks United, com 21 pessoas numa casa. Estavam lá 16 jogadores, duas crianças e os três proprietários da moradia. Viviam em condições abaixo do normal e lembrámo-nos de um ex-jogador da região, que jogou muitas vezes contra nós, para deixar lá as compras que fez», contou à Lusa o defesa do Real Massamá.