Jorge e Paulo Machado. Dois irmãos, cinco dias, duas oportunidades para bater o Benfica. O primeiro, conhecido como Gomes, é o maestro do Cinfães. Entra em campo já neste sábado, para a Taça de Portugal.

O segundo representa o Olympiakos, que irá visitar o Estádio da Luz na próxima quarta-feira, para a Liga dos Campeões. Atrás deles estará o bairro do Cerco do Porto, algumas dezenas de portugueses (e portistas) a torcer por outras cores.

«Bom, bom, era ganharmos os dois. Claro que lá no bairro, como são todos portistas, vão torcer a dobrar», admite Paulo Machado, internacional português, ao Maisfutebol.

O bairro não ficará completamente deserto mas uma boa parte irá sair de casa. Neste sábado, o destino é Cinfães. A meio da semana, segue para o Estádio da Luz.

«Eu já arranjei muitos bilhetes para o nosso grupo lá do Cerco e o Paulo vai fazer o mesmo, é sempre assim. Gastei algum dinheiro, mas o Paulo vai gastar mais. Também ganha mais, portanto faz sentido», brinca Gomes.

Os dois jogadores cresceram naquele bairro e não esquecem as origens. Paulo Machado apoia uma creche, é padrinho de um torneio de futebol local e pretende lançar uma fundação.

O internacional português despontou nas camadas jovens do F.C. Porto, o irmão adotou a alcunha em homanagem a um goleador azul e branco. «Eu sou portista e morava lá no bairro, perto das antas. Andava sempre com uma camisola do Porto com o 9 e marcava muitos golos, então começaram-me a chamar Gomes, de Fernando Gomes. Até hoje.»

«Claro que amanhã só penso é no nosso jogo. Mas mais à noite, quando puder, vou ver o resumo do jogo do FC Porto, tem de ser», diz Gomes, ao Maisfutebol.

 

«Pode ser que enjoem pelo caminho»

Paulo Machado já foi a Cinfães ver um jogo do irmão. Neste sábado não o poderá fazer mas sabe que o Benfica terá vida difícil. Antes de mais, pelo percurso.

«Já lá fui e não é nada fácil. São 30 minutos de curvas. Pode ser que os jogadores do Benfica enjoem pelo caminho», diz o jogador do Olympiakos, secundado por quem faz diariamente aquela viagem. «Mesmo nós que estamos habituados, temos de parar cinco/dez minutos para recuperarmos quando lá chegamos.»

Gomes partirá do Porto às 8h30 da manhã, juntamente com alguns colegas de equipa. «Nós vamos comer lá, às 10h30. Não convém fazer a viagem de estômago cheio, dá para enjoar sim. Eles devem comer à mesma hora e depois fazem o caminho, mas vão ficar bem mais perto.»

«Espero que meu irmão canse o Benfica»

Paulo Machado fala do mano mais velho com carinho. E não fala em vão. Quem acompanhou os primeiros passos de Gomes sabe que este tinha um potencial tremendo. Aos 33 anos, de qualquer forma, ainda promete dar dores de cabeça aos jogadores do Benfica.

«A mesma qualidade que eu? Não, ele tem mais! É um jogador muito forte, gosta de ter a bola nos pés. Vou ficar a torcer por ele e já temos falado sobre isso: espero que o meu irmão canse o Benfica. Que os leve a prolongamento e penálties se for preciso», brinca o internacional português.

O jogador do Cinfães aceita o desafio, salientando sempre que o mais importante é ajudar o seu clube. «Claro que dizemos isso em tom de brincadeira. Já não é fácil segurar o Benfica durante 90 minutos, quando mais em 120. Mas o sonho comanda a vida, vamos tentar.»

«É uma grande oportunidade para os nossos jogadores, às vezes um jogo destes muda uma carreira. O Lima, há cinco anos, estava no Vizela, na 2ª Divisão B. Temos uma equipa forte, um treinador (João Manuel Pinto) que sabe tudo sobre estes jogos e vamos tentar surpreender», diz Gomes.

«Ganhava 300 contos quando tinha 17 anos»

Paulo Machado garante que o irmão tinha condições para jogar a um nível alto. O que falhou então na carreira de Gomes? «Fui pai com 16 anos, com 17 jogava nos seniores do Senhora da Hora e fui ganhar 300 contos para o Leça. Se calhar cometi erros mas isso acabou por ajudar o Paulo a chegar onde chegou, a ter outro tipo de apoio, a tomar outras decisões.»

«Podia ter dado outro rumo à carreira mas gosto do percurso que fiz. Eram outros tempos. Não tive tanto apoio, saí das camadas jovens do Boavista por malandrice, porque faltava a treinos, etc. Uma pessoa que me ajudou muito foi o mister Sérgio Cunha, foi como um segundo pai para mim. Foi na altura dele que fui à seleção sub-18. Não me esqueço disso», faz questão de frisar.

Gomes tem 33 anos e muito futebol nos pés. Era um goleador. Agora, joga como número 10. «Dantes corria mais que a bola. Agora digo: ‘dá cá a bola e vai andando que ela já vai lá ter’», remata o médio ofensivo do Cinfães.

«Se calhar apareço de bigode no Estádio da Luz»

Paulo Machado está na Grécia, onde contraiu a primeira lesão preocupante da carreira. Ainda assim, não descarta a possibilidade de jogar no Estádio da Luz. «Não vou jogar neste sábado mas pode ser que consiga ser chamado para o Benfica, acredito que sim.»

«Se for, pode ser que apareça outra vez de bigode». Ele explica. Certo dia, o médio decidiu partilhar uma imagem sua com bigode. Uma brincadeira, apenas. Mas os adeptos do Olympiakos adoraram e começaram a associá-lo a Nikos Anastopoulos, uma figura histórica do clube e da seleção grega.

O médio português ficou surpreendido e promete recuperar o bigode um dia destes. Mais importante, de qualquer forma, é voltar a jogar. «Ia a chutar e levei uma pancada forte. Podia ter sido muito mais grave, acabei por ter sorte. Foi um hematoma, mas muito forte. Agora estou recuperado e espero voltar a jogar. Já no Estádio da Luz, se possível», remata.