Quase 343 anos após o Tratado de Lisboa, que devolveu Ceuta a Espanha, esta cidade europeia em solo africano volta a ter forte sotaque português. Pelo menos a nível futebolístico. É que a Asociacion Deportiva Ceuta, equipa que defronta o Barcelona nesta terça-feira, para a Taça do Rei, tem oito elementos que falam a língua de Camões.

O líder deste contingente é João de Deus. Antigo seleccionador de Cabo Verde, este treinador português de apenas 33 anos assumiu o comando da equipa da 2ª divisão B espanhola no início da época. Para a equipa técnica levou Marco Tábuas (treinador de guarda-redes) e o Niko Popovic, que embora tenha nascido em solo sérvio tem nacionalidade portuguesa.

Embora se prepare para travar um duelo táctico com Pep Guardiola, um dos melhores treinadores do Mundo, João de Deus mostra enorme tranquilidade na véspera do primeiro embate. «Não é um jogo que me faça ganhar ou perder algo importante. Para nós é um jogo para desfrutar. Queremos mais jogos destes, no futuro. De preferência semanalmente», diz ao Maisfutebol, assumindo a ambição de outros voos.

O campeão espanhol visita Ceuta com apenas dez elementos da equipa principal e seis da «B». Jogadores como Messi, Villa, Iniesta ou Xavi ficam de fora, mas o técnico português não interpreta isso como falta de respeito. «Estão em várias frentes, e esta só agora vai começar. O Guardiola está a fazer a gestão adequada.»

Os outros cinco elementos com sotaque português são jogadores. Todos internacionais caboverdianos, e por isso habituados a trabalhar com João de Deus. Dois deles nasceram em Portugal, ainda assim: Sandro e Vítor Moreno. Os outros são Fock, Valter e Gilson Silva.

Dois luso-caboverdianos fora da festa

Sandro até tem sido capitão de equipa, na ausência de Pepe Martínez. Mas frente ao Barcelona o médio ex-V. Setúbal não vai ter esse estatuto. «Fui expulso na eliminatória anterior, por acumulação de amarelos, e tenho de cumprir agora. Um colega meu viu vermelho directo e cumpriu no campeonato. É um bocado triste», lamenta.

Vítor Moreno também fica de fora, mas por lesão. Ele que até podia marcar Messi, mas afinal nenhum dos dois participa nesta primeira mão. «Quando lidamos com jogadores de top, como o Messi ou o Ronaldo, nem vale a pena pensar nisso», conta ao Maisfutebol.

O jogo da segunda mão, em Camp Nou, surge como uma nova oportunidade para Sandro e Vítor Moreno defrontarem o Barcelona, mas representam também escassas hipóteses de surpreender. «A regra não ajuda os clubes pequenos. Podíamos ter um dia muito bom em casa, e o Barcelona ter o contrário, mas se acontecer alguma coisa metem a artilharia toda no segundo jogo», afirma Sandro.

A viver a sua primeira experiência fora do futebol português, Vítor Moreno faz um «balanço positivo». «Ainda estou a adaptar-me, a ver se vale a pena», acrescenta. Sandro já tinha jogado quatro épocas em Espanha (Hércules, Villarreal e Salamanca), mas ainda assim fala numa «experiência diferente». É que estar em Ceuta é ter os pés em dois continentes diferentes. «É mais África que Europa. Torna-se engraçado. É uma cidade pequena, mas existe uma cultura mista», acrescenta o médio.