As ruas cheias de gente, uma romaria encarnada ao estádio da Luz, as barracas de bifanas cheias de povo e o Bayern Munique a vencer. A vida está a voltar ao normal, mas essa não é a única novidade que sai desta noite da Luz.

Porque o Bayern até pode ter feito mais de três golos num jogo, como tem sido hábito na época, pode ter goleado o Benfica pela enésima vez na Europa, como fez e faz com tantos outros, pelo continente fora. Mas há também a história deste Benfica, que perdeu com o Bayern como sempre, mas jogou como nunca: durante 70 minutos.

O primeiro pontapé do jogo foi de um grande simbolismo. O Bayern não começa um jogo desta importância com um passe para trás. Não, saiu para a frente, logo a procurar um espaço entre as linhas que Jesus tinha traçado.

E aí começou a perceber-se a estratégia do treinador português. Na saída para o ataque do Bayern, o Benfica tinha claras referências individuais. Por onde andava um homem de negro, andaria um de encarnado.  

Depois, havia que cuidar do homem dos golos. O primeiro a atender Lewandowski foi Vlachodimos, aos cinco minutos. O polaco acabaria por fazer o golo da praxe, mas teve de esperar bastante até lá.

Coman também testou Vlachodimos, mas entre as duas defesas do internacional grego o Benfica equilibrou e respondeu à pressão com pressão. Correu riscos medidos na saída de bola, alternando saída curta, com bola longa. Nesta, era preciso que Yaremchuk e Darwin lutassem com Süle e a parede que é Upamecano.

Faltou, porém, aquele pedaço entre Neuer e a baliza e aos 39 minutos de jogo, a estratégia de Jesus roçou a perfeição: Neuer fez uma defesa monstruosa e o plano passou por cima da baliza.

O mesmo se pode dizer no segundo tempo. O Bayern voltou com tudo, Vlachodimos teve de intervir para o poste, mas os alemães tinham mais um dado. Perceberam melhor a fragilidade do Benfica na lateral-direita, com Coman a ir no um para um com Diogo Gonçalves e a ganhar-lhe claramente. Müller viu um golo anulado por fora de jogo, o segundo da noite para o Bayern, mas era percetível que ali havia um problema.

A boa organização defensiva dos encarnados foi atirando para mais longe essa questão e, do outro lado, Neuer surgiu de novo a mandar a boa exibição do Benfica para fora. Outra defesa incrível, de um super-homem vestido de guarda-redes, a remate de Diogo Gonçalves. O que Jesus meteu na teoria, estavam a colocar os jogadores no papel. 

Mas para se tirar pontos ao Bayern é preciso fazer golos e esse até foi o pecado fatal na Luz: a eficácia tinha ser total perante este gigante. Yaremchuk fez o assalto final à baliza germânica num duelo intenso e leal com Upamecano. O ucraniano rematou ao lado e, depois, veio outro jogo.

O golo de Sané voltou a trazer todo o Benfica à terra e o autogolo de Everton acabou com qualquer réstia de esperança. Até final, foi simples: um quarto de hora de pesadelo. O Bayern meteu Gnabry, ligou a máquina e fez o que quase sempre tem feito: são agora 31 golos contra seis do Benfica em onze jogos entre ambos.

Talvez a grande diferença para outras noites, é que desta vez, a 'Besta' vinha mesmo de negro.

(imagens vídeo Eleven Sports)