«Isto é um sonho. É uma história escrita por Deus», declarou emocionado Junior Messias no final do triunfo do Milan em Madrid frente ao Atlético (0-1).

Na estreia na Liga dos Campeões, o brasileiro de 30 anos fez aos 87 minutos o golo que salvou os milaneses da eliminação das competições europeias e que baralhou ainda mais as contas do grupo do FC Porto na Champions.

Ao terceiro jogo pelos rossoneri (entrou sempre como suplente fez um total de 74 minutos), depois de um arranque marcado por problemas físicos, o avançado emprestado pelo Crotone virou protagonista de um «conto de fadas».

Há meia-dúzia de anos, este mineiro de Belo Horizonte que chegou a jogar nos escalões de formação do Cruzeiro, emigrou para Itália. Não para jogar futebol, apenas à procura de uma oportunidade de emprego.

Chegou a Turim com 20 anos e encontrou trabalho como estafeta de uma loja de eletrodomésticos.

«Vim para cá em 2011 com o meu irmão com a ideia de ter uma vida melhor. Comecei a trabalhar, constitui família, entrei num clube de futebol em 2015, comecei a ser convocado... Tudo aconteceu naturalmente. Subi a escada degrau a degrau», afirmou ao TNT Sports.

O sonho de virar craque na Europa, que ficara para trás, foi reavivado quando em 2015 o treinador Ezio Rossi, do Casale, o descobriu no futebol amador.

«Estive cinco anos sem documentos. No dia seguinte a consegui-los, esse treinador ligou-me», recorda.

Com mulher e um filho a cargo, Messias aceitou o desafio de deixar o emprego para jogar no clube de uma pequena cidade entre Turim e Milão e nessa primeira época apontou 21 golos em 32 jogos na Eccellenza, divisões regionais que correspondem ao quinto escalão do futebol italiano.

Seguiram-se o Chieri, na Serie D (quarta divisão), e o Gozzano, que ajudou a subir à Serie C (2018/19), até em janeiro de 2019, assinou por um clube profissional: foi contratado pelo Crotone, da Serie B, onde nas duas últimas épocas apontou 15 golos e fez mais de 70 jogos.

Até que no início desta temporada surgiu o interesse do Milan, que pagou 2,5 milhões de euros pelo seu empréstimo e ficou com uma opção de o contratar em definitivo a troco de mais 5,5 milhões.

De um momento para o outro, Messias passou a trabalhar no moderno centro desportivo de Milanello e a competir por um lugar no ataque com referências como Ibrahimovic e Giroud ou com o português Rafael Leão.

O degrau a degrau pelo qual se pautou a sua vida traduziu-se há um par de meses num salto de gigante. Seguiu-se a estreia no início de outubro: um quarto de hora em campo num jogo que terminou com uma vitória sofrida em casa da Atalanta (3-2). No passado fim de semana, um mês e meio depois, Messias fez o seu segundo jogo pelo líder da Serie A, a par do Nápoles: meia-hora na derrota em casa da Fiorentina (4-3).

Tudo isto antes do grande momento da passada quarta-feira: entrou a 25 minutos do final para salvar o Milan de dizer adeus à Europa.

Cruzamento de Kessié sobre a esquerda para o coração da área e o brasileiro cabeceia para o fundo da baliza de Oblak. Ato contínuo: corre para junto da bandeirola de canto, aponta aos céus e vencido pela comoção cai no relvado abraçado pelos companheiros de equipa.

Naquela noite, em Madrid, o ex-estafeta tornou-se em mais um brasileiro a brilhar pelo Milan. Um herói canarinho com o manto rossonero como o foram Cafú, Kaká, Ronaldinho, Rivaldo ou Ronaldo Fenómeno.

Naquela noite, em Madrid, Messias foi o salvador, «como numa história escrita por Deus».