Ainda hoje Isaías e Kulkov sentem o chamamento de Londres. A ressonância de uma noite magnífica. Perfeita, se tal coisa houver. 6 de Novembro de 1991. O Benfica a silenciar os canhões do Arsenal em pleno Highbury. 1-3 na Taça dos Campeões Europeus, o único triunfo na história do emblema da Luz na capital inglesa.

O hino imortalizado por Joe Strummer e os The Clash sonoriza o momento.

«London calling to the faraway towns

Now that war is declared-and battle come down

London calling to the underworld

Come out of the cupboard, all you boys and girls»


Mais de 20 anos depois, exige-se a mesma superação, a mesma crença heróica, a mesma paixão na resposta ao London Calling. Agora contra o Chelsea.

«Foi uma vitória impossível, chegámos a ser sufocados pelo Arsenal», recorda Isaías ao Maisfutebol, desde o sossego de Cabo Frio. Porquê Isaías? Os desmemoriados talvez se tenham esquecido, mas foi este avançado brasileiro a decidir tudo.

Isaías, pescador em Cabo Frio: «Arrisquem o remate!»

«Fiz dois grandes golos. O do empate a um golo e o terceiro já no prolongamento.» Na Luz o jogo tinha ficado 1-1. Em Inglaterra, Colin Pates marcou para o Arsenal aos 20 minutos e tudo se complicou. Até aparecer o génio de Isaías.

«Não fui só eu, toda a equipa aguentou bem a pressão do Arsenal. Depois o Kulkov marcou o segundo golo e eu bisei. Foram golos belíssimos, todos eles, e uma verdadeira lição aos que não acreditavam em nós. E eram muitos. Todos, aliás, desde dirigentes a adeptos. Ninguém sentia ser possível vencer o Arsenal em Londres.»

Vasily Kulkov confirma a versão de Isaías. Não na pacatez de Cabo Frio, mas no amanhecer de Moscovo. «Tivemos total liberdade nessa viagem. Fomos fazer compras à cidade, comemos e bebemos o que bem nos apeteceu. Acho que só os jogadores sentiam ser possível fazer o que fizemos.»

O «milagre» lá aconteceu e o Benfica qualificou-se para a fase seguinte. Isaías não perde uma oportunidade de rever a partida. «Tenho o jogo gravado em DVD e mostro-o a todos os meus amigos. Sou uma pessoa nostálgica, saudosista, preciso de ter essas imagens comigo.»

Kulkov é, por natureza, mais frio. De todo o modo, tem na cabeça todos os pormenores dessa campanha. «No avião, já de regresso a Lisboa, bebemos todos champanhe. Tivemos uma receção maravilhosa em Portugal», recorda o antigo médio russo, atualmente a trabalhar no Spartak de Moscovo.

«London calling, yeah, I was there, too

And you know what they said? Well, some of it was true!

London calling at the top of the dial

After all this, won't you give me a smile?»


Arsenal-Benfica, 1-3 (06/11/91):

ARSENAL: David Seaman; Lee Dixon, Tony Adams, Colin Pates (Steve Bould, 105) e Nigel Winterburn; Paul Davis, Anders Limpar (Perry Groves, 75), Paul Merson e David Rocastle; Kevin Campbell e Alan Smith.

Treinador: George Graham

BENFICA: Neno; Veloso, Paulo Madeira, Rui Bento e Schwarz; Vítor Paneira, Rui Costa (César Brito, 81), Kulkov e Jonas Thern; Iuran e Isaías (José Carlos, 119).

Treinador: Sven-Goran Erikson

Golos: Colin Pates (20), Isaías (36 e 107), Kulkov (100)

O resumo do Arsenal-Benfica de 1991:


Arsenal-1 Benfica-3 de 1991 por MemoriaGloriosa