Há personagens clássicas na trama do futebol português. Sergey Cherbakov está entre as de maior interesse. Pelo talento natural demonstrado e pela tragédia que o atirou para uma carreira de rodas. O ucraniano, paraplégico, soube recuperar o gosto pela vida.

Sem paciência para a mágoa e a auto-complacência, Cherbakov teve força para voltar ao futebol.

É olheiro do Lokomotiv Moscovo e falou na Ucrânia ao Maisfutebol. Natural de Donetsk, uma das cidades-sede da prova, Cherba contagiou de bom humor a conversa.

«Devo ser o único europeu que apoia três países: Ucrânia, Rússia e Portugal», diz logo de entrada ao nosso jornal. A explicação é simples. Cherbakov nasceu na Ucrânia, passou grande parte da vida na Rússia e alguns anos mais relevantes com a camisola do Sporting.

«Sofri muito por Portugal. Tive muita pena da equipa pela derrota. Os avançados não têm confiança a rematar», confessa o ex-jogador leonino, agora com 40 anos. «O Cristiano Ronaldo fez muito pouco frente à Alemanha. É a estrela da equipa e tem de jogar mais».

Vídeo: recorde um fantástico golo de Cherba em Alvalade

Portugal joga em Lviv e Cherbakov tem «muita pena» de não poder assistir aos jogos. A viver em Moscovo, o ucraniano não perde uma partida «pela tv» e sente-se «feliz» por ver «algumas melhorias» nas condições estruturais do país-natal.

«É uma oportunidade única para melhorar a Ucrânia. Há novas estradas, aeroportos remodelados e hotéis reconstruídos. Falta é saber se esta competição vai conseguir melhorar a qualidade de vida das pessoas».

Neste aspeto, Cherbakov tem dúvidas. «Há festa para um mês, ok, e depois? A população vai enriquecer? A Ucrânia tem muita gente estúpida no governo, vários políticos medíocres. O Euro é uma oportunidade fantástica e tenho medo que a desaproveitem».

«Portugal só ganha se marcar primeiro»

O jogo com a Dinamarca, esta quarta-feira, deixa Cherbakov apreensivo. «Portugal só ganha se marcar primeiro. Se sofrer um golo será difícil dar a volta», prevê. «A Dinamarca tem uma defesa sólida e é difícil marcar-lhe golos. Teve sorte contra a Holanda, mas ganhou».

Convidado a escolher uma seleção favorita, Cherbakov hesita e foge à pergunta. «Qualquer equipa pode ser campeã. Estou a adorar os jogos, o nível está altíssimo. Não lhe sei dizer qual o principal candidato».

Após pedir «tolerância e paciência» para as obras atrasadas na Ucrânia, Cherbakov despediu-se com um lamento.

«O Sousa Cintra [ex-presidente do Sporting] nunca me ajudou. Escreva isso, por favor. Vários clubes em Portugal lembraram-se de mim ao longo dos anos e o meu ex-presidente nunca cumpriu a promessa de me fazer um jogo de solidariedade. Só queria deixar este desabafo».

Cherbakov, ucraniano, fã da Seleção Nacional. Uma figura clássica no futebol português.