Falar de Cherbakov traz muito de memórias amargas. O esquerdino chegou a Portugal com uma mão cheia de ameaças. Tinha sido o melhor marcador do mundial de juniores e era um dos mais animadores projetos de futebolista do continente europeu. O futuro era dele, portanto.

O resto já se sabe.

Um acidente de automóvel, numa madrugada de Dezembro, roubou-lhe os sonhos. Atirou-o para uma cadeira de rodas. O Sporting perdeu a promessa quase cumprida, mas não perdeu o sportinguista. Cherbakov continua a dizer que torce de verde e branco. É o clube da sua vida.

Atende o telefonema do Maisfutebol em Moscovo para falar numa qualidade rara: ele é o único ucraniano que vestiu a camisola leonina. «O Sporting teve sorte com o sorteio», atira rápido. «Pode ganhar fácil. Pode ganhar os dois jogos, mas quinta-feira em Alvalade ganha de certeza.»

Cherbakov ficará todo contente, adianta. Ele que, apesar de viver na Rússia, diz sentir um coração ucraniano a bater no peito. Tanto assim, aliás, que depois da separação da União Soviética começou por representar a Rússia em sub-21. Mais tarde, fez a escolha lógica: vestiu a camisola ucraniana.

Nas palavras nota-se um certo lamento para queda do antigo império soviético. «Isto já não é nada do que foi antigamente», atira. «Agora há a Ucrânia, a Rússia, a Bielorrússia... O Metalist é uma equipa ucraniana, tudo bem, mas não me diz nada. Nasci em Donestk e cresci no Shakhtar.»

Cherbakov: «Sporting não tem de jogar bonito, tem de ganhar»

Também ele, como outros ucranianos, sente pouca proximidade com um clube de uma cidade distante e pouco representativo do país. «Na quinta-feira o Metalist deve jogar com nove ou dez estrangeiros. Nove ou dez», repete. «O futebol ucraniano hoje em dia não representa o país.»

Do adversário leonino diz nem sequer saber muito. «É uma equipa muito distante do Shakhtar ou do Dínamo Kiev. Não tem o mesmo poder. É um clube para andar em terceiro ou quarto lugar na liga ucraniana. Na Europa é mais perigosa, porque pode utilizar mais estrangeiros, mas é acessível.»

«Por isso digo que o Sporting teve sorte. Sobram oito equipas na Liga Europa e a maior parte delas são muito fortes. Podia ter saído um At. Madrid ou um At. Bilbao. Aí sim, ia ser difícil», sublinha. «Assim acho que o Sporting segue em frente. Entrando nas meias-finais, tudo pode acontecer.»

Apesar da distância, Cherbakov continua muito bem informado sobre o Sporting. «Mantenho o contato com o Izmailov», conta. «Ele conta-me como vão as coisas. Também vejo alguns jogos. O Sporting já perdeu tudo esta época. Só sobra Liga Europa e a Taça de Portugal não pode falhar.»

À distância promete ficar a torcer para que Sá Pinto chegue longe. «Já ouvi falar muito bem dele. Mas é preciso dar-lhe tempo. O Sporting precisa de tempo.» Do Metalist, nada mais. «Só vejo os jogos que faz na Europa. Não me diz nada. Os clubes da minha vida são o Shakhtar e o Sporting.»

Os golos de Cherbakov no Mundial de juniores.