Mas calma, nem sempre isso acontece. Se olharmos para as últimas cinco épocas (contando com a atual), chegamos à conclusão que são muito mais as vezes em que as mudanças de treinadores funcionam do que as que não resultam. São 69% de situações em que a equipa melhora os seus resultados contra 31%. A diferença assinalável.

Aproveitando o facto de neste fim-de-semana Jorge Paixão (Sp. Braga) e Jorge Costa (P. Ferreira) assumirem novos cargos, mergulhámos nos números e os resultados não deixam de ser reveladores. O critério essencial foi transformar a eficácia da chicotada psicológica transformando os pontos conquistados em percentagem do máximo que cada equipa poderia obter no período de tempo em que o técnico está no comando.

O primeiro gráfico demonstra todos os treinadores que estiveram envolvidos em trocas enquanto a época estava a decorrer, ficando evidente a excelente campanha de Sá Pinto no Sporting em 2011/12, quando substituiu Domingos e garantiu o quarto lugar, com 75% dos pontos conquistados. O problema foi não ter conseguido manter o nível na época seguinte, o que levou a que fosse substituído por Oceano, depois por Vercauteren e finalmente por Jesualdo Ferreira, que apesar de ter conseguido subir o nível de eficácia pontual, não evitou que os leões ficassem fora das competições europeias.

Algo semelhante aconteceu com Pedro Caixinha, que há duas épocas conseguiu levar o Nacional a um campeonato tranquilo (com 57,9%), mas no ano passado acabou por ter de ser substituído por Manuel Machado devido aos péssimos resultados (27,8%).



No extremo oposto da tabela estão vários casos de treinadores de transição, como soluções interinas, que raramente conseguem uma sucessão de bons resultados, mas também péssimas apestas, com a mais chocante a ser a de Rogério Gonçalves em 2010/11 na Naval 1º de Maio, somando apenas um ponto em 7 jogos (a equipa viria a descer, mesmo que Mozer tenha melhorado o desempenho da equipa).

Também o caso de Paulo Alves, esta época, na Olhanense, revela uma péssima carreira, com apenas um ponto em 6 jogos, levando o clube a mudar a agulha rapidamente para um terceiro treinador (iniciou a época com Abel Xavier) para tentar evitar a descida de Divisão.

Estes dois casos são paradigmáticos das situações em que equipas mudam várias vezes de treinador e não conseguem evitar o falhanço de objetivos básicos, como a manutenção. Tanto Rogério Gonçalves como Paulo Alves foram despedidos após a 14ª jornada, uma das três mais usadas pelos dirigentes para operar modificações. Apesar de ser a terceira que provoca mais vítimas entre os técnicos é, também, aquela que menos resultados práticos tem, pois em cinco mudanças duas delas foram para pior e mesmo nas três em que a percentagem melhorou só numa ocasião as equipas não desceram (Toni substituiu João Carlos Pereira em 2009/10, mas o Belenenses desceu; Mozer substituiu Rogério Gonçalves em 2010/11, mas a Naval desceu).

No gráfico 2 é possível confirmar que as mudanças não acontecem em todas as jornadas e existem três que se destacam pelo número de alterações: a 7ª, a 20ª e a 14ª. 40% das alterações nas equipas técnicas acontecem nestes três momentos da temporada.



Poderá dizer-se que a
sétima é a melhor para operar mudanças profundas e com sucesso. Nas oito vezes em que os clubes decidiram trocar de treinador nessa ocasião só numa o clube não conseguiu que a alteração resultasse - a tal Naval de 2010/11 pelo manifesto erro de casting com Rogério Gonçalves, que entrou para o lugar de Viktor Zvunka à 7ª jornada, foi substituído por Mozer à 14ª e ainda assim a equipa da Figueira da Foz não evitou a descida à II Liga.

Quanto à 20ª jornada é uma incógnita, dado que duas das cinco alterações neste momento nas últimas cinco épocas aconteceram precisamente esta temporada, com as saídas de Jesualdo Ferreira e Henrique Calisto. Nas outras vezes só numa ocasião a troca trouxe menos eficácia nos resultados, mas ainda assim o clube não saiu prejudicado: foi com o Sporting de 2010/11, que trocou Paulo Sérgio (55%) por José Couceiro (50%) e manteve-se em 3º lugar, falhando na altura a luta pelo título.

Nesta análise, registo ainda para um caso peculiar, o de Ulisses Morais, o treinador com mais mudanças de equipa nestas cinco temporadas. O gráfico 3 demonstra a capacidade do treinador.



Ulisses treinou sempre pelo menos uma equipa da I Liga nas quatro primeiras épocas e só nesta temporada não foi chamado para salvar alguém. Ainda assim, é uma evidência que o seu melhor resultado foi de 40,1%, o que não é necessariamente mau, ainda que muitos dos seus colegas tenham conseguido fazer melhor, mesmo em equipas que lutavam para não descer.

Esse melhor resultado aconteceu em 2009/10, quando substituiu Paulo Sérgio no Paços de Ferreira, curiosamente aproveitando o facto do primeiro ter dado o salto para o V. Guimarães e não ter sido uma chicotada psicológica no sentido mais restrito. Ulisses, por outro lado, tinha sido despedido três jornadas antes da Naval, onde fez o pior resultado destas cinco presenças (8,3%).

Na pele de bombeiro de serviço foi na temporada seguinte para a Académica, substituindo José Guilherme com sucesso (33,3% e permanência). Mais uma época, mais uma salvação, em 2011/12 no Beira Mar, resolvendo os problemas deixados por Rui Bento para deixar a equipa de Aveiro na I Liga, com um registo interessante (40%). O problema é que na época seguinte os resultados não apareceram (26,3%) e Ulisses foi substituído à 19ª jornada por Costinha, que fez pior (24,2%) e desceu à II Liga.