Há precisamente um ano, Luis Suárez mordeu Giorgio Chiellini no Itália-Uruguai do Mundial 2014, no Brasil.

Por infeliz coincidência cronológica, um comportamento de um jogador em outra partida envolvendo a seleção celeste acabou como o fenómeno mais destacado que se seguiu ao apuramento do Chile para as meias-finais da Copa América eliminado o Uruguai.

O chileno Gonzalo Jara saltou para as bocas do mundo do futebol pelo gesto com que provocou o uruguaio Edinson Cavani. O ponta de lança celeste acabou expulso do jogo, como se sabe, pela reação que o árbitro viu.



E é, agora, precisamente, o que o árbitro não viu, que está em causa. Jara passou a protagonista da Copa América depois da provocação que ditou a reação que levou à expulsão de Cavani. E, no meio desse protagonismo, o chileno foi logo lembrado em situações idênticas.

Neste jogo, foi pela mão no rabo de Cavani. Há pouco mais de dois anos, noutro Chile-Uruguai neste mesmo Estádio Nacional de Santiago, da qualificação para o Mundial 2014, foi pela mão nos genitais do uruguaio Luis Suárez.



Luis Suárez não está nesta Copa América – precisamente na sequência da mordidela a Chiellini que lhe deu nove jogos de suspensão – mas foi um dos internacionais uruguaios a manifestarem-se após a eliminação da sua seleção.

Numa posição dividida em quatro partes, onde exalta o «orgulho» na seleção celeste e nos seus companheiros, agradecendo-lhes e destacando as 15 vezes que o Uruguai venceu a Copa América – o recorde –, Suárez não deixa de dar uma alfinetada a quem nunca venceu o troféu – como os anfitriões, os únicos sem o conseguir de quem chegou aos quartos de final.
 


As reações uruguaias estenderam-se a vários níveis de jogadores. Um dos presentes na Copa América, o capitão uruguaio Godín, pediu uma intervenção institucional, numa citação do portal «Terra»: «No lance envolvendo Cavani as imagens valem mais do que as palavras. Mesmo assim, o árbitro resolveu expulsá-lo apesar das imagens que mostram Jara com o dedo em Cavani. Espero que a CONMEBOL atue de forma oficial e que o punam como a FIFA fez com Suárez.»

Mas os que também já não fazem parte da seleção de Óscar Tabárez também se manifestaram. Diego Lugano, por exemplo, prometeu a Jara uma «coversa» no futuro.
 



O apoio à seleção celeste
por parte da comunicação social do Uruguai pode ser exemplificado pelas críticas que englobam a arbitragem do brasileiro Sandro Ricci.
 



A rivalidade entre Chile e Uruguai tem tudo para aumentar depois de caso, um caso que já não é inédito, como se viu, e que, também, tem um protagonista habitual. Jara teve pontaria
para provocar os goleadores mais perigosos do Uruguai. Em 2013, o episódio foi com o temido-por-qualquer-adversário
Suárez. Agora, foi com Cavani, o jogador a temer mais na seleção de Tabárez.

Sem qualquer golo nesta Copa América em que o Uruguai defendia o título detido desde 2011, Cavani era dos jogadores com mais responsabilidade nesta seleção – sobretudo porque não podia dividir essa responsabilidade com o castigado Suárez ou com o já ausente da celeste
Diego Fórlan. Mas não só.



Cavani jogou dois dias depois de saber que o seu pai esteve envolvido num acidente de viação mortal. Luis Cavani foi acusado de homicídio e ficou preso, segundo relatou o «La República» já na quarta-feira. O pai do jogador do Paris Saint-Germain é acusado estar a conduzir com uma taxa de alcoolémia cinco vezes a permitida um veículo que embateu numa mota provocando um acidente mortal.

O acidente aconteceu na segunda-feira. O estudante de 19 anos faleceu na terça-feira, no hospital. A acusação e a confirmação da prisão aconteceram na quarta-feira, dia do jogo. Ainda na terça-feira, Óscar Tabárez não sabia se podia contar com o seu jogador.

«Não posso contar o que falei com Cavani. É uma tema pessoal. Está afetado, como qualquer pessoa nessa situação ficaria, e demos-lhe todo o apoio. Ele vai participar no treino de hoje, mas ainda não tomou uma decisão. Nas próximas horas ele vai dizer se fica ou se vai», dizze Tabárez na conferência de imprensa, segundo o «ESPN».

Cavani treinou, ficou e jogou. As palavras da sua mãe não indicavam se não esse desenlace. «O que eu peço à imprensa é que trate as coisas com muito cuidado. A única coisa que quermso é que o Edi não se sinta afetado por isto. Ele não tem nada a ver [com o que se passou]. O importante é que possa sentir-se bem para poder jogar e transmitir a alegria que transmite aos uruguaios quando joga. Eu disse-lhe em frente
, que faça o que sente. Ele é totalmente alheio a uma desgraça que só conhece quem lá esteve», afirmou Berta Gómez à AP, numa citação do «La República».



Depois do jogo, depois do jogo que foi, o que está debaixo dos holofotes é o que vai a CONMEBOL fazer. Jara está debaixo de fogo e a AP já anuciou que o defesa chileno não deverá jogar mais na Copa América (o Chile tem as meias-finais para disputar e, depois, ou a final ou ou o jogo do 3º e 4º lugares).

Fonte do organismo que rege o futebol da América do Sul disse à AP, numa citação do «AS», que «vai abrir-se um processo» para se passar às instâncias disciplinares. O jornal espanhol acrescenta que a provocação de Jara, apesar de não ter sido registada pelo árbitro, pode ser julgada na secretaria, como se de um caso de agressão de tratasse; o que, também, implicará um castigo entre um a três jogos.

Para esta sexta-feira estão prometidas decisões mais concretas sobre o caso - também Ricci já não deverá voltar. Por enquanto, os chilenos vão festejando a passagem às meias-finais da Copa América. E o guarda-redes Claudio Bravo não deixou de meter-se
com Jara quando a comitiva chilena foi saudada pelos seus adeptos quando chegou ao seu quartel general.