O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que estão no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

Leia a apresentação de João China

JOÃO CHINA, METALLURG DONETSK (UCRÂNIA)

«Olá caros leitores do Maisfutebol,

Hoje vou escrever sobre uma grande instituição onde estive durante oito anos: o Sporting Clube de Portugal.

Antes de mais quero agradecer publicamente à família Galambas e à família Mira que me acolheram nas suas casas durante os primeiros três anos de Sporting devido a minha tenra idade e também ao treinador Nuno Nare e à sua família.

O Sporting tem uma grande escola de jogadores e o seu segredo passa por diversas áreas, começando por um grande e competente gabinete de prospeção de atletas, acompanhado por diretores, treinadores e outros elementos com muitos anos de casa, muitos deles até ex-jogadores que passam a mística do clube e criam um ambiente familiar e vencedor.

Nestes anos passaram por lá grandes jogadores e outros que foram enormes promessas mas nem todos singraram. Muitos desapareceram por um motivo ou por outro.

Da minha geração, quem teve mais sucesso foi o Ricardo Quaresma. Embora sendo um ano mais novo, acompanhava sempre a nossa equipa. Era e é um craque.

Certo dia, quando ele tinha 15 anos, houve um treinador (Zezinho) que o castigou pela sua rebeldia. Disse-lhe que, enquanto não mudasse, não iria jogar na equipa principal. O Quaresma respondeu que iria jogar sim, e que iria ter a camisola 10 nas costas. Não sei se chegou a ter o número 10, mas acabou mesmo a época a titular e o resto já se sabe.

O Carlos Martins era muito extrovertido e um amigo que nunca se calava, dava muitas dores de cabeça aos treinadores. Uma vez, em Belém, saiu do banco de suplentes e marcou um golaço. Depois de marcar, foi diretamente para o banco e disse ao mister Venâncio que aquele não era lugar para ele.

O Beto e o Hugo Viana também estão a fazer boas carreiras, tinham igualmente um talento enorme mas eram mais reservados. Nesse período, tive a oportunidade de viver algum tempo no lar do Sporting, onde estavam nomes sonantes como Simão Sabrosa, Luís Boa Morte ou Cristiano Ronaldo.

Ali vivia a seleção dos 30, jogadores que o Sporting acreditava serem mais-valias para o futuro. Vivi momentos engraçados, como as praxes da ordem, o ter de dividir uma televisão entre 30 jovens e as peladas às duas da manhã na antiga Nave do Estádio de Alvalade. No dia seguinte, a escola ficava um pouco distante para nós...

Agora, com a Academia, tudo é diferente. Não falta nada aos jovens jogadores, apenas perdem um pouco da liberdade que tínhamos naquela altura. Tive bons treinadores como Osvaldo Silva, Nuno Naré, Rui Palhares, Leitão, Zezinho, Venâncio, Alexandre Paiva e César Nascimento. Todos me ensinaram algo, cresci como jogador e como homem. Também não posso esquecer diretores como Mário Lino, Aurélio Pereira, entre outros.

O Sporting é um aquário de jogadores prontos a ser pescados. Devia haver uma aposta mais forte na formação, como está a acontecer agora. Está provado que, sem essa aposta, o clube perde identidade e valor. Basta olharmos para a seleção nacional nos últimos anos e vermos quantos jogadores são formados no Sporting, já para não falar da quantidade de nomes espalhados por vários campeonatos.

Foi um orgulho para mim ter passado por uma escola que formou dois jogadores premiados como os melhores do Mundo. Espero que venham mais no futuro e desejo que o Sporting volte a lutar pelo título de campeão nacional.

Deixo um obrigado pelo interesse e um abraço a todos os leitores do Maisfutebol,

Até breve,

João China»