Não é normal e por isso Chiquinho Conde está farto de falar com a imprensa. O moçambicano renovou contrato como treinador por... dez anos. «Tem causado grande curiosidade um pouco por todo o mundo», conta. «Renovei por cinco anos, com mais cinco de opção. É um contrato inédito.»

A história é fácil de contar: Chiquinho chegou ao Vilankulo FC em Agosto, conseguiu atingir as meias-finais da Taça de Moçambique e bateu o recorde de pontos do clube no campeonato. Quatro meses depois foi convidado a renovar por dez anos, com uma cláusula de rescisão de 300 mil euros.

No contrato está ainda estipulado que o treinador tem direito a uma vivenda de dois pisos na cidade turística à qual pertence o idílico arquipélago de Bazaruto, na região de Inhambane, a 750 quilómetros de Maputo. «Qualquer pessoa fica perplexa com a duração deste contrato. Não é normal.»

«Mas tenho um presidente que é patrono do clube e que é um fanático do futebol. É empresário turístico e filho do presidente da Câmara. O sonho dele é criar no clube um modelo de gestão igual ao do Manchester United. É um projecto aliciante que passa por tornar este clube conhecido internacionalmente.»

Chiquinho Conde estará para o Vilankulo FC como Alex Ferguson está para o Manchester United. O sonho pelo menos chega lá perto. «Vou ser o manager do clube, ficando responsável pelo futebol profissional. Mas vou ficar também responsável pela formação e é aí que está o futuro do clube.»

Chiquinho ama o Sporting, mas a melhor memória é azul

A conversa com o Maisfutebol tinha, de resto, começado com uma gargalhada: o moçambicano não resistiu quando se lhe perguntou se dez anos não era muito tempo. Por esta altura já falava num tom sério. «É preciso deixar-se trabalhar, as coisas em Moçambique acontecem com muita lentidão.»

«Já conheço o presidente há muito tempo e ele já me tinha confessado este sonho. Este contrato surge após várias conversas, por isso não me apanhou desprevenido. É preciso criar alicerces desde a base. Este é um projecto a médio ou longo prazo que passa por abrir uma academia de formação.»

A aposta em Chiquinho Conde é uma aposta forte: já foi campeão, venceu a Taça e a Supertaça. Já foi até seleccionador. «No Ferroviário consegui colocar três ou quatro jogadores da formação clube na selecção nacional. O futuro do futebol moçambicano tem de estar na formação», acrescenta.

«Estamos numa região conhecida em todo o mundo pelo turismo, que está a crescer depressa e que precisa de um clube forte. O futebol em Moçambique está a desenvolver-se. Em 87 fui o primeiro moçambicano a jogar no estrangeiro, depois houve uma travessia do deserto de vários anos.»

«Agora já voltamos a exportar, há vários moçambicanos em Portugal. O futuro do futebol em África tem de ser esse. O projecto que o presidente tem para este clube encaixa perfeitamente no que é o futuro do futebol local. Por isso estou muito entusiasmado com este projecto. Pode ser um sucesso.»

Chiquinho Conde no Vilankulo: