«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

O adeus é um sentimento de perda emocional. Nele não entra a estatística, o cabeceamento para o golo, o corte decisivo, o acumulado de troféus e manchetes. No adeus sentido, em jeito de obrigado, só identifico melancolia e abraço.

Os sentimentos, as emoções, o coração acelerado, todos suplantam a mera análise desportiva. Mesmo a que justifica a excelência.

Não acredito num futebol sem heróis e só acredito em heróis bons, dignos, fiéis às causas defendidas.

Luisão é um desses heróis.

Pelo menos no universo benfiquista, do futebol com memória. E não, isto não é um trocadilho com a suposta amnésia do presidente das águias.

Chego aqui para confessar que me faz, sempre fez, confusão este tipo de despedida apressada. Fim ao matrimónio, camas separadas, adeus e obrigado. É ótimo, não foi?

Os 16 anos de águia ao peito justificavam, no mínimo, uma análise cuidada à situação de Luisão no final da época passada. Se era para continuar, então que fosse num quadro de utilidade digna.

Atirar Luisão para quinta opção na hierarquia dos centrais foi um ato de desrespeito e hipocrisia.

Por um lado, anuncia-se a renovação do histórico capitão e o presidente fica bem na fotografia. O adepto aplaude, relembra a lei do xerife dentro do balneário, todos ficam felizes.

Por outro, o planeamento desportivo ignora completamente o homem que deu mais de 500 jogos ao Benfica. Inútil, um estorvo.

O desconforto pode ser negado pelas partes, mas é evidente que Luisão não queria uma última época assim. Longe dos convocados, longe do espaço onde foi feliz.

E assim, sem grande surpresa mas com uma sensação de ingratidão suprema, chegamos a setembro e a separação é oficializada. Num estádio sem adeptos. Isto faz algum sentido?

Os clubes de futebol, não só o Benfica, são irritantemente incompetentes na arte do «adeus e obrigado». Sentem a obrigação de despedir-se dos seus ídolos, mas não sabem como fazê-lo.

Luisão devia ter saído no final da temporada anterior ou, já que renovou, ser levado a sério na presente campanha. Até ao fim. Assim, tudo soa a sorrisos forçados e a um reconhecimento artificial.

O Girafa, insisto, merecia jogar por uma última vez para as bancadas da Luz. Cheias. 

PS: sinto os casos como os de Luisão como meus. Visceralmente. Também eu senti a rejeição repentina ao fim de dez anos num clube. Muito mais pequeno do que o Benfica, mas dono do meu coração. Não é isso, afinal, o que conta?  

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».