«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Calma! Venho em paz. Este não é um texto escrito por um pelotão de fuzilamento. Para criticar ou languescer a SAD da Codecity ou a direção do Clube de Futebol Os Belenenses, façam o favor de ler o artigo do meu camarada Sérgio Pires: «Joga para quem este Belenenses ‘so SAD’?»

Por não possuir elementos suficientes que me permitam analisar, de forma justa, a disrupção que vitimou o histórico emblema lisboeta, opto por olhar para o mais evidente: a qualidade da equipa de futebol treinada por Jorge Silas.

Podemos começar pelo empate na Luz, claro, mas este Belenenses SAD/Codecity/Belenenses tem feito um campeonato digno e fiel aos ditames da história da Cruz de Cristo.

Muriel, Diogo Viana, Gonçalo Silva, Nuno Coelho, Licá e o menino Kikas são justos herdeiros da cátedra erguida por monstros de outros tempos, monstros das minhas cadernetas e do arquivo enciclopédico do nosso futebol.

Os irmãos Vicente e Matateu, o trágico Pepe, as quatro Torres de Belém (Feliciano, Capela, Vasco e Francisco Gomes), o felino José Pereira, os ‘magriços’ Jorge Martins e Jaime das Mercês, e os inesquecíveis Stoycho Mladenov e Mapuata. Tanta história, tanto futebol. Até uma telenovela em horário prime time acolheu o Clube de Futebol Os Belenenses

O Belenenses, na minha memória, é isto. Um clube a equipar de camisola azul, calções brancos e meias azuis, o símbolo inconfundível e jogadores capazes de andar perto do pódio ou, pelo menos, a cheirar os lugares da UEFA.

As confusões dos últimos tempos têm entorpecido a opinião pública e afastado os olhares da atual equipa treinada por Silas. Injustamente. Se há culpados em tudo isto, esses não são nem os treinadores nem os futebolistas.

Uma equipa privada de calor humano, sem beneficiar do fator casa (Jamor e Bonfim), em condições de treino limitadas, longe das manchetes e das primeiras páginas pelos melhores motivos.

A estas contrariedades sérias, Silas e companhia respondem com o mérito que o sétimo lugar atual comprova. A cinco pontos, apenas cinco, da zona de acesso à Liga Europa.

O tapete do Restelo merecia estes rapazes, estes rapazes mereciam o privilégio de jogar no Restelo. A especificidade do futebol moderno, quiçá uma legislatura incapaz e a inflexibilidade de quem manda, estão a brincar com um património valiosíssimo e intransmissível.

Falemos de futebol para não nos perdermos no labirinto do Direito e das querelas sem fim. Falemos das ideias de Jorge Silas, à prova de bala, seja na Luz ou no Jamor, seja a visitar o Dragão ou na neutralidade que a sua condição de orfandade impõe.

De leis percebo pouco, de futebol sei qualquer coisa. Os homens de Silas são dignos da Cruz de Cristo.

Eu vi o Belenenses a derrotar o Barcelona em setembro de 1987. Não brinquem com a minha nostalgia.

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».