O recordista de vitórias na Volta a Portugal, David Blanco, teceu críticas ao pelotão nacional da 82.ª edição da prova, considerando que os egos dos ciclistas, nomeadamente da W52-FC Porto e da Efapel, se sobrepõem aos interesses da equipa.

«Na etapa da Torre, realmente ri-me muito, porque sabia que ia acontecer isso, e é pena. Falei com eles [Alejandro Marque e Gustavo Veloso] antes e disse-lhes o que ia acontecer e aconteceu tal e qual. É triste que seja tão previsível. Sabia que os egos iriam superiorizar-se aos interesses da equipa. E isso não deveria acontecer», destacou o pentacampeão da prova rainha do ciclismo nacional, à Lusa.

O galego de 46 anos nunca foi de meias palavras, tendo-se sempre destacado pelas suas tiradas brilhantes e honestas. Agora, de novo, Blanco abdicou de ser politicamente correto, criticando a atitude do pelotão e, especialmente, das duas equipas mais fortes da edição que termina no domingo, em Viseu.

«Fico triste porque algumas equipas deram uma imagem triste do que consideram ser o ciclismo. Nos dois dias, houve duas pessoas que demonstraram os valores do ciclismo. E houve outros que, na quarta etapa, saíram com muita raiva, mas que no dia da Torre, para mim, foram uma vergonha», disse referindo-se, pela positiva, aos seus grandes amigos Marque e Veloso (ambos da Atum General/Tavira/Maria Nova Hotel), e, pela negativa, aos corredores da W52-FC Porto e Efapel, que «estão a pensar mal uns dos outros o dia todo».

Sobre a Efapel, o antigo ciclista, defendeu que se António Carvalho, que «foi toda a subida [da Torre] pendurado, não está em condições, deveria ser o primeiro a abdicar do seu lugar [de líder] e começar a trabalhar para os colegas» Frederico Figueiredo e Maurício Moreira, respetivamente terceiro e quinto classificados na geral liderada por Marque, que tem cinco segundos de vantagem para Amaro Antunes, da W52-FC Porto, a quem deixou reparos.

«Na W52-FC Porto, no momento em que [Ricardo] Vilela abriu, começaram a fazer figura de tontos. Se tivessem perseguido os três, tinham apanhado o Alex, o que acontece é que cada um ia a pensar no seu lugar na geral», disse, numa referência à atitude de Amaro Antunes, Joni Brandão e João Rodrigues, os três chefes de fila dos dragões, na terceira etapa, que Marque venceu e na qual vestiu a amarela.

Blanco venceu cinco vezes a Volta

De resto, o galego aponta mesmo a equipa azul e branca como dominadora, por ter ciclistas «muito superiores». Ainda assim, há um senão: «se têm de utilizar o cérebro, entram em curto-circuito. Para mim, o maior problema é que não há quem diga ‘tu tens de fazer isto, tu isto’. A W52-FC Porto nunca corre como equipa. No ano passado, correram para eliminar o Gustavo, por exemplo. Têm sempre os mais fortes e por isso é que ganham. Nunca correram como equipa, na minha opinião. Como equipa corre o Tavira», disse, estendendo críticas ao resto do pelotão.

«Na Volta, há equipas que se conformam em meter um homem na fuga num dia que seja plano, aparecer na televisão, e já está. As outras equipas estão a ‘pastar’. Havia mais gente que na Guarda podia ganhar a [quarta] etapa, mas quando temos condutores em vez de diretores, acontece o que aconteceu», vincou.