O Ministério Público (MP) pediu penas suspensas para os 26 arguidos julgados pelo envolvimento no esquema de doping na equipa de ciclismo W52-FC Porto.
Nas alegações finais do julgamento da operação «Prova Limpa», num pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, o procurador apontou que ficaram provados todos os crimes que constam da acusação.
O procurador dividiu os arguidos em graus de responsabilidade, considerando que os «principais mentores e responsáveis» pelo esquema de doping eram Adriano Teixeira de Sousa (Adriano Quintanilha), que à data dos factos era patrão da W52-FC Porto, Nuno Ribeiro, ex-diretor desportivo, e Hugo Veloso, contabilista da equipa.
Segundo o MP, é difícil determinar as penas a aplicar e os arguidos «não devem cumprir pena efetiva», mas devem passar por penas suspensas e pagarem indemnizações, para «sentirem na pele» a condenação e «reconhecerem o mal que fizeram». Para os três principais arguidos, o MP pediu penas suspensas a rondar os cinco anos de prisão e «uma indemnização mais avultada» à Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC).
O procurador apontou que o esquema de doping «denegriu a imagem do ciclismo nacional».
«Com este esquema o ciclismo morreu. Foi um escândalo tão grande e tão avassalador, foi escandaloso», defendeu.
Os fornecedores das substâncias dopantes, como farmacêuticos, foram colocados num nível intermédio de responsabilidade, enquanto os ciclistas ficaram no último grau de responsabilidade. O magistrado sublinhou que «já pagaram um bocado pelo que fizeram», porque «meteram no corpo, com ligeireza e intensidade, substâncias que deram cabo da saúde».
Também esta quarta-feira, Nuno Ribeiro e Adriano Quintanilha apresentaram versões opostas e contraditórias. O ex-diretor desportivo assumiu haver doping durante todo o ano na equipa, financiado e incentivado por Quintanilha, «mestre da manipulação, que queria ganhar a todo o custo».
Já Adriano Quintanilha disse, por seu lado, estar inocente e desconhecer o uso de doping pelos ciclistas, acusando Nuno Ribeiro de «não dizer uma verdade» em julgamento.
O procurador do MP considerou que a versão de Nuno Ribeiro é mais condizente com os factos e refutou a tese de Quintanilha, de que não sabia de nada.
«A prova abundante, documental e não só, a lógica e o bom senso, as conversações de WhatsApp dão validade à versão do arguido Nuno Ribeiro. O manancial de seringas, kits de transfusão de sangue que foram apreendidos. Não faz sentido nem cabe na cabeça de ninguém que o senhor Adriano Quintanilha desconhecia o esquema», frisou.
O advogado de Adriano Quintanilha, de resto, pediu a absolvição do arguido, por considerar não ter ficado provado o envolvimento no esquema.