O Sporting-FC Porto deste domingo será apenas o segundo jogo protagonizado pelas duas equipas na Taça da Liga, mas insere-se numa longa série de clássicos em provas a eliminar: não contando com a Liga ou a Supertaça, será o 50º embate oficial entre leões e dragões. E o saldo, até à data, não podia ser mais equilibrado: 17 vitórias para cada lado e 15 empates.

Tudo começou no velhinho Campeonato de Portugal



Começar pelo princípio obriga-nos a recuar quase 92 anos: em junho de 1922 registou-se a primeira edição do Campeonato de Portugal, antepassado direto da Taça. Nessa primeira edição punha frente a frente os vencedores dos campeonato regionais de Porto e Lisboa e proporcionou o primeiro embate «a doer» entre dragões e leões.

O jornalista Pedro Jorge da Cunha já contou essa história no Maisfutebol e vale a pena recordá-la aqui, mas para o que nos interessa fica o registo da primeira nota de equilíbrio: o FC Porto ganhou o jogo em casa (2-1), a 4 de junho, o Sporting fez o mesmo no Campo Grande (2-0), uma semana depois. Como a diferença de golos não contava, fez-se um jogo de desempate, no Bessa, que sorriu aos dragões, mas apenas no prolongamento (3-1).

A desforra do Sporting chegou no ano seguinte, na mesma competição: vitória por 3-0 sobre o FC Porto, na meia-final da prova, em Coimbra, a anteceder a conquista do primeiro título nacional dos leões, na final com a Académica.

Até à última edição da prova, em 1938, houve mais oito confrontos diretos, com a particularidade de se registarem, na meia-final de 1933, os primeiros empates oficiais entre as duas equipas, antes de o Sporting vencer o jogo de desempate. O saldo de jogos no Campeonato de Portugal foi ligeiramente favorável ao Spoting (5 vitórias contra quatro) Mas, curiosamente, foi o FC Porto a vencer sempre que as equipas se encontraram em finais, em 1922, 1925 e 1937.

Três finais com direito a repetição

A Taça de Portugal arrancou em 1939, mas foi preciso esperar cinco anos para que FC Porto e Sporting se cruzassem pela primeira vez. Em 1944, os dragões saíram por cima no duplo confronto nos oitavos, mas caíram na ronda seguinte, frente ao Estoril. Já em 1945, o Sporting desforrou-se em grande estilo: depois de ceder um empate em casa, goleou no Campo do Lima (1-4) com Peyroteo e Albano a bisarem. Os leões acabariam por conquistar o troféu, afastando o Benfica nas meias-finais e vencendo o Olhanense na decisão, ainda no campo das Salésias.



Foi por essa altura que o clássico se reforçou no imaginário dos adeptos portugueses, sendo mesmo pretexto para uma inesquecível incursão no cinema, aqui recordada. E embora o Sporting dominasse as décadas de 40 e 50, quanto a títulos nacionais, o equilíbrio continuou a ser a nota dominante nos confrontos a eliminar: o Sporting saiu por cima nos duelos de 1952, 1954 e 1966, o FC Porto respondeu afastando os leões em 1958, 1961, 1967 e ainda em 1977.

Só em 1978, 39 anos depois do arranque da Taça de Portugal Sporting e FC Porto se defrontaram pela primeira vez numa final da prova. Começou aí uma tradição que se manteve quase até aos nossos dias: depois de um empate (1-1) no primeiro jogo, foi preciso encontro de desempate, que sorriu aos leões pela margem mínima (2-1).

O filme repetiu-se nas finais de 1994: depois de 0-0 no primeiro jogo, a partida de desempate terminou com a vitória do FC Porto, por 2-1, com a entrega do troféu a ser marcada por lamentáveis incidentes e carga policial sobre os adeptos. E, por incrível que possa parecer, o recurso a jogo de desempate voltou a acontecer na terceira final protagonizada pelas duas equipas, em 2000: 1-1 no primeiro jogo, 2-0 para o FC Porto no segundo, com golos de Clayton e Deco.

Foi preciso mudarem os regulamentos, e acabar-se com o jogo de desempate na Taça, para se conhecer a primeira decisão do troféu entre os dois rivais que não transitou para outro dia: em maio de 2008, no Jamor, o brasileiro Rodrigo Tiuí viveu a sua tarde de glória, marcando os dois golos que levaram a Taça para Alvalade. Mas também aqui com recurso a horas extraordinárias, já que a final só se decidiu no prolongamento.



O hábito de fazer horas extraordinárias

Esse é, por sinal, mais um sintoma do equilíbrio em clássicos entre Sporting e FC Porto nas provas a eliminar: nas 21 temporadas em que se cruzaram na Taça, só em nove o desfecho foi conhecido no tempo normal. Em sete situações (1952, 1966, 1978, 1984, 1994, 1996 e 2000), foi preciso recorrer a prolongamento e jogo de desempate, mais três (1987, 2001 e 2008) houve recurso a prolongamento, e ainda mais duas (2006 e 2008) necessitaram de desempate por grandes penalidades. Em ambos os casos, o desfecho foi favorável ao FC Porto, por 5-4 no desempate.

O primeiro desses jogos, no estádio do Dragão, acabou por proporcionar um momento curioso, num duelo entre Vítor Baía e Ricardo, rivais que tinham a titularidade na seleção como espinha atravessada nas respetivas gargantas. Depois de um empate (1-1) nos 120 minutos, como golos de Liedson e McCarthy, os dois guarda-redes viraram protagonistas, com Baía a defender um remate de João Moutinho, enquanto Ricardo converteu um dos remates, mas não evitando o afastamento da sua equipa.

Dois anos mais tarde, em Alvalade, o FC Porto voltou a ser mais feliz no desempate, mas já com Helton entre os postes: o guarda-redes portista impediu que o Sporting defendesse o troféu conquistado seis meses antes, detendo os remates de Abel e Rochemback. Esse foi, curiosamente, o jogo que esteve na origem do fenómeno Hulk: contestado na chegada ao Dragão, e nos seus primeiros meses em Portugal, o brasileiro marcou nesse jogo um golo inesquecível, que o projetou para a titularidade no FC Porto.

Daí para cá, apenas mais dois confrontos em provas a eliminar, curiosamente ambos concluídos com goleada: em 2009, o primeiro e único para a Taça da Liga, com o Sporting a vencer a meia-final por 4-1. Um ano depois, no Dragão, foi o FC Porto a sorrir nos quartos de final, vencendo o leão por 5-2. Os golos do Sporting foram marcados por dois jogadores que viriam a passar mais tarde pelo Dragão, Izmaylov e Liedson, enquanto João Moutinho era ainda o capitão dos leões. Desse jogo, em fevereiro de 2010, apenas três jogadores do FC Porto (Maicon, Fernando e Varela) e dois do Sporting (Rui Patrício e Adrien) permancem nos respetivos clubes.

Balanço

49 jogos entre FC Porto e Sporting em provas a eliminar
Sporting, 17 vitórias
FC Porto, 17 vitórias
15 empates

36 na Taça de Portugal:
Sporting, 11 vitórias
FC Porto, 13 vitórias
12 empates
(47-52 em golos)

8 no Campeonato de Portugal:
Sporting, 5 vitórias
FC Porto, 4 vitórias
3 empates
(21-14 em golos)

1 na Taça da Liga:
Sporting, 1 vitória
(4-1 em golos)