«Tudo o que puder correr mal, vai correr mal, no pior momento possível»

A Lei de Murphy a ecoar nos corredores do Estádio de Dragão após o clássico frente ao Benfica. O novo campeão nacional segue para as finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal à custa de um FC Porto a necessitar urgentemente de uma terapia de choque.

A decisão surgiu nas grandes penalidades e castiga uma formação portista sem engenho nem arte para superar um adversário em inferioridade numérica durante uma hora de jogo. Aliás, a questão psicológica não pode ser relativizada: este Porto está doente.

Do outro lado surgiu um Benfica a esbanjar confiança. Inverteu-se a tendência dos últimos anos. A equipa de Jorge Jesus cresceu com a expulsão de Steven Vitória – irónico, não? – e não sentiu tantas dificuldades na etapa complementar. 

Leia os destaques do Benfica  

Face ao desenrolar do encontro e ao antecedente na Taça de Portugal, em que o FC Porto caiu perante um Benfica com dez, a maioria dos apostadores colocaria as suas fichas nos encarnados. A sorte é de quem mais procura.

Garay até foi o primeiro a falhar mas Jackson Martínez confirmou uma jornada horrível e fez o mesmo. Primeira oportunidade falhada. Mais à frente, Fabiano defende o remate de André Gomes e o Dragão foge da felicidade novamente. Oblak responde e trava o ensaio de Maicon. Ivan Cavaleiro não treme, ao contrário de Fernando, porque tudo no FC Porto, hoje em dia, é falta de confiança.

Mais um sucesso bastante festejado pela equipa de Jorge Jesus. Afinal, teve como palco o Estádio do Dragão e permite ao Benfica manter o sonho do pleno. A Liga está garantida, as pernas de unidades influentes estão frescas para a segunda mão das meias-finais da Liga Europa e há duas finais agendadas com o Rio Ave: Taça da Liga e Taça de Portugal.

Para o FC Porto, a Supertaça de Portugal parece argumento curto, muito curto. 

Mais um aspeto a confirmar a Lei de Murphy: neste momento decisivo, nem os dragões com rendimento mais elevado apresentaram o nível habitual. Jackson e Quaresma - lesionou-se nos primeiros minutos e parece ter acusado isso mesmo - não desequilibraram, Fernando falhou o derradeiro castigo máximo.

Leia os destaques do FC Porto  

Steven não dançou o Cha Cha Cha

Luís Castro apresentou o melhor FC Porto possível, ou pelo menos os nomes que lhe davam mais confiança para o clássico, enquanto Jorge Jesus priorizou a visita à Juventus e fez descansar mais de meio Benfica.

Steven Vitória e Jardel formaram uma inusitada dupla de centrais no Estádio do Dragão. A equipa encarnada demonstrou alguma tranquilidade nos primeiros minutos de jogo mas viria a acumular erros incontáveis no processo defensivo.

Rapidamente, o FC Porto montou o cerco a Jan Oblak e foi aproveitando as falhas. Silvestre Varela deu o sinal, Hector Herrera seguiu a lógica e o golo parecia uma inevitabilidade. Porém, Jackson Martínez estava em processo de divórcio com a baliza contrária.

Em cinco minutos, o avançado colombiano falhou duas oportunidades soberanas. Na primeira, pode queixar-se de um passe desajustado de Herrera – o mexicano é um poço de força mas nem sempre toma as melhores decisões no último passe.

Já perto da meia-hora, de novo Héctor Herrera a explorar uma cratera no lado direito do Benfica, sem o devido acompanhamento de André Gomes. Porém, Defour não deu a melhor sequência ao lance, atirando para fora.

A defesa do novo campeão nacional tremia. Steven Vitória transmitia pouca segurança ao setor e terminou um final de tarde errático com uma entrada mal medida sobre Jackson Martínez. Ao minuto 31, Cha Cha Cha foi mais rápido que o central e caiu no limite da área, ainda do lado de fora. Expulsão justificada.

Benfica cresceu em inferioridade numérica

Curiosamente ou nem por isso, o Benfica denotou mais coesão a partir desse instante. Pouco depois, foi Alex Sandro a protagonizar um lance polémico, desviando com o braço junto à linha da grande área portista. Jackson Martínez, a caminho do intervalo, ainda falhou mais uma clara ocasião de golo. O FC Porto, porém, estava em contra-ciclo.

Jorge Jesus ajustou a sua estratégia de imediato, sacrificando Lima para lançar Garay e completar novamente o setor defensivo. Cardozo, sem grande mobilidade, era agora a unidade mais adiantada.

O Estádio do Dragão aguardava por uma reentrada forte do FC Porto mas isso não aconteceu. Aliás, Luís Castro sentiu necessidade de trocar Defour por Quintero para ter outra capacidade de penetração, isto depois de um remate perigoso do belga ter sido desviado por Jackson.

Seria precisamente Quintero a iniciar uma rara movimentação perigosa da formação azul e branca na etapa complementar. A tabela com Herrera provocou um desequilíbrio, Quaresma tirou o cruzamento mas Jackson Martínez, em final de tarde para esquecer, cabeceou por cima

Grande penalidades com estranha naturalidade

Os adeptos portistas lamentavam a falta de inspiração das principais unidades, com Ricardo Quaresma a seguir a mesma linha, e o extremo português viria a ser substituído ao minuto 71. Pelo caminho, uma provocação dos benfiquistas e um beijo na camisola. Entrou Ghilas.

O Benfica sentia-se mais confortável nesta realidade, aceitando o seu papel e denotando tremenda capacidade de sacrifício. Jorge Jesus refrescou a equipa com Enzo Pérez e Markovic. Jan Oblak – a melhor unidade encarnada no Dragão – foi servindo para as encomendas que iam chegando agora a um ritmo decrescente.

Com estranha naturalidade, o encontro caminhou para as grandes penalidades. Uma vez mais, o FC Porto não demonstrou capacidade para aproveitar a vantagem numérica no clássico. E assim sendo, entregou o favoritismo no momento decisivo para o Benfica. A fortuna estava claramente do lado encarnado. Como se veio a confirmar.