Sérgio Conceição vs Jorge Jesus; FC Porto contra Sporting. Esta sexta-feira, dragões e leões defrontam-se pela quarta vez esta temporada, naquele que será possivelmente o clássico entre eles onde mais vai estar em jogo.

Se uma vitória da equipa de Alvalade terá o condão de apimentar ainda mais a luta pelo título, um triunfo do FC Porto pode permitir aos azuis e brancos eliminarem da corrida um dos principais rivais que ficaria a oito pontos da liderança quando ficariam a faltar nove jornadas até ao final do campeonato.

Depois de três clássicos marcados pelo equilíbrio – um empate para a Liga, uma vitória do Sporting no desempate por penáltis na Taça da Liga e um triunfo magro do FC Porto (1-0) para a Taça de Portugal – dificilmente Conceição e Jesus conseguirão surpreender-se um ao outro nesta sexta-feira. É pelo menos essa a opinião partilhada pelo treinador Paulo Alves em conversa com o Maisfutebol e até já expressa por Sérgio Conceição durante a antevisão.

Na antecâmara do jogo grande da 25.ª jornada, o nosso jornal recupera as abordagens estratégicas adotadas pelos dois técnicos nos outros três clássicos da época, onde Jorge Jesus e Sérgio Conceição apostaram em modelos de jogo distintos, e tenta perspetivar como será o duelo desta sexta-feira.

Sporting-FC Porto (0-0), 1 de outubro de 2017: 8.ª jornada da Liga

Como jogaram:

O Sporting entrou em campo montado num 4x2x3x1, naquele que o desenho preferencial dos leões na fase de grupos da Liga dos Campeões. Cinco dias antes, o Sporting já tinha alinhado desta forma na receção ao Barcelona, à semelhança do que já tinha feito no arranque da fase de grupos contra o Olympiakos em Atenas.

Um meio-campo musculado para combater um setor intermédio igualmente povoado dos azuis e brancos, com Danilo, Herrera e Sérgio Oliveira, este último uma peça indispensável no onze de Sérgio Conceição em todos os quatro clássicos jogados pelos portistas esta temporada. «Se calhar só o Sérgio Conceição conhece as ideias dele melhor do que eu», avisava Jesus na véspera.

Como foi:

O FC Porto visitou Alvalade após um arranque imaculado de sete vitórias nas sete primeiras jornadas da Liga. Os azuis e brancos foram superiores no primeiro clássico da temporada, mas faltou-lhes a inspiração que Rui Patrício teve em demasia. Depois de uma primeira parte aquém do esperado, com apenas um remate, os leões só subiram uns furos na etapa complementar.

Sporting-FC Porto (0-0, 4-3 g.p.) 24 de janeiro de 2018: meia-final da Taça da Liga

Como jogaram:

Jogo de características diferentes por tratar-se de uma partida a eliminar. O treinador dos azuis e brancos repetiu o desenho tático do primeiro clássico (4x3x3), mas promoveu duas alterações no onze: Ricardo Pereira e Tiquinho Soares renderam Miguel Layún e Aboubakar.

Jesus apostou num Sporting mais arrojado no papel. Apenas com William na linha mais recuada do meio-campo e o reforço Rúben Ribeiro no apoio a Bas Dost, a completar o único 4x4x2 dos leões esta temporada nos jogos com o FC Porto.

Como foi:

O segundo mano a mano entre FC Porto e Sporting esta época teve lugar em Braga e foi apelidado de «fight club», numa alusão à luta que se arrastou até ao desempate através da marca de penáltis, que pendeu para os leões. Não foi um clássico bem jogado (longe disso), mas foi intenso, como comprovam as mais de 50 faltas apitadas por Nuno Almeida.

FC Porto-Sporting (1-0), 7 de fevereiro de 2018: 1.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal)

Como jogaram:

Órfãos de Danilo, que se lesionara na meia-final da Taça da Liga, os portistas regressaram ao 4x4x2, modelo mais utilizado por Sérgio Conceição em 2017/18, mas nunca nos anteriores clássicos contra Sporting e Benfica. Para além de Danilo, o FC Porto não pode contar com Marcano e Aboubakar, também por razões de ordem física. Reyes, Sérgio Oliveira (claro está) e Tiquinho são titulares, tal como Jesús Corona, que é opção inicial pela primeira vez nos jogos contra o Sporting na temporada.

Ainda que o FC Porto tenha cambiado taticamente, foi o Sporting quem mais alterou o enquadramento tático. Jorge Jesus foi ao Dragão com um modelo de três centrais composto por Mathieu, Coates e Piccini: um 3x4x3 que, com Coentrão e Ristovski nas laterais, podia transformar-se facilmente num 5x4x1 com Doumbia no lugar do lesionado Bas Dost e Battaglia no papel de William, que falhou o jogo devido a problemas físicos. Abordagem surpreendente de Jesus? Talvez sim para nós e para o leitor, mas não para Sérgio Conceição: «Depois do último jogo com o Sp. Braga, no dia seguinte disse aos meus adjuntos que o Jesus vinha com linha de cinco», afirmou o treinador dos azuis e brancos no rescaldo da partida.

Como foi:

FC Porto globalmente superior ao Sporting, com Sérgio Oliveira preponderante nos equilíbrios da equipa de Sérgio Conceição e a assistir Soares para o único golo do jogo. Os leões foram resilientes, mas foram tendencialmente curtos ofensivamente e terminaram o jogo reduzidos a dez, por expulsão de Acuña já em tempo de compensação.
 

FC Porto-Sporting, 2 de março de 2018: 25.ª jornada da Liga

À entrada para o frente a frente da época, FC Porto e Sporting já tinham utilizado 19 jogadores cada nos restantes duelos entre eles. Aconteça o que acontecer, é já certo que tanto Sérgio Conceição como Jorge Jesus serão forçados a apresentar onzes inéditos comparativamente aos restantes encontros, por culpa das já confirmadas ausências de Alex Telles (lesionado), Piccini (também por lesão) e da possível impossibilidade de Gelson Martins (castigado) ir a jogo.

O Maisfutebol falou com Paulo Alves, treinador e antigo jogador de FC Porto e Sporting nas décadas de 80 e 90, para tentar perceber como será o clássico desta sexta-feira.

Maisfutebol - Ainda há espaço para grandes surpresas à entrada para o quarto jogo entre as duas equipas esta época?

Paulo Alves - Não me parece que vá haver grandes mexidas. Este é um jogo bastante importante para as duas equipas. Se ganhar, o FC Porto fica praticamente com o título nas mãos e o Sporting também precisa disso. Do lado do Sporting há a dúvida sobre quem substituirá Gelson na direita e há também algumas lesões. Pontualmente, poderá haver uma ou outra mudança, mas não me parece muito mais do que isso.

M.F. – Sérgio Conceição e Jorge Jesus deverão manter-se fiéis aos sistemas de jogo habituais?

P.A. – É um jogo demasiado importante para que possam existir mudança demasiado drásticas no sistema ou nos jogadores. Alguma coisa que não funcione poderá ser decisivo em termos do que possa ser o desfecho do campeonato. Pelo risco que isso possa encerrar não me parece…

M.F. – …

P.A. – De qualquer maneira, sobretudo Jorge Jesus já nos habituou a algumas surpresas, pelo histórico que tem em algumas situações limite como estas. Mas certamente que ele também estará consciente de que há os seus riscos e vai pesar isso na balança.

M.F. – Admite mais surpresas da parte de Jesus do que de Conceição?

P.A. – Sim, sim. Pelo histórico. Não acredito em surpresas muito grandes, mas Jorge Jesus tem esse histórico de tentar surpreender. Por exemplo, não tendo Gelson acredito que possa procurar lançar no lugar dele uma solução de maior equilíbrio? Um jogador não tão rápido, mas que possa equilibrar mais a equipa e tentar de alguma forma intranquilizar o adversário. Já houve jogos em que Jorge Jesus puxou o Bruno Fernandes para a direita para dar mais algum equilíbrio. Também pode passar pelo Bruno César… Só no jogo é que vamos ver. Jesus já nos habituou a muitas surpresas mas acredito que passe por aí.

M.F. – O Sporting pode sair da 25.ª jornada mais dentro da luta pelo título, a dois pontos do FC Porto, ou quase fora dela, a oito. É de esperar uma equipa mais conservadora ou arrojada?

P.A. – Em termos táticos, parece-me que o jogo vai ser muito interessante. O Sporting tem dois problemas: precisa de ganhar e, para isso, precisa de subir linhas. E o FC Porto é terrível com espaço nas costas. Por outro lado, se eventualmente adotar uma postura mais conservadora, à espera do erro do FC Porto, pode dar-se mal. Penso que o Sporting vai tentar pegar na bola cedo, fazer um controlo de jogo com bola para intranquilizar o FC Porto, mas sem se desequilibrar muito.

M.F. – Espera um jogo com uma toada semelhante ao dos anteriores três? Com duas equipas a respeitarem-se mutuamente e com poucos espaços?

P.A. – Espero exatamente isso. Os dois treinadores sabem que têm pela frente uma equipa forte e com argumentos para ganhar. Não acredito que qualquer das equipas vá assumir uma postura muito ofensiva que pode causar desequilíbrios defensivos.

M.F. – Tendo em conta aquilo que tem visto das duas equipas esta época e até as baixas confirmadas e as possíveis baixas para este jogo, quem lhe parece partir em vantagem?

P.A. – Acho que o FC Porto é favorito porque está numa dinâmica muito forte. A equipa respira confiança e percebe que em qualquer altura pode fazer golo. E isso é um trunfo muito grande. Está num momento de grande confiança e de grande qualidade de jogo. Mas nos clássicos isso é muitas vezes relativizado. O Sporting vem de dois jogos com vitórias ao cair do pano e isso pode transmitir alguma intranquilidade. Não atravessa uma fase de grande confiança, os golos não estão a surgir como antes – também pela ausência do Bas Dost – mas, repito, isso é relativo nos clássicos, onde a equipa que não está tão bem consegue surpreender.

M.F. – Em caso de vitória, o FC Porto arrisca-se a «matar» o campeonato ou, para já, só o Sporting?

P.A. – Acima de tudo, o Sporting. Mas ganha um tónico muito grande. Se o FC Porto mantiver cinco pontos de vantagem até ao jogo da Luz, o Benfica ainda terá uma palavra a dizer caso vença o jogo. O FC Porto não matará, para já, o Benfica, mas para o Sporting será uma machadada muito grande.