Álvaro Magalhães, antigo jogador do Benfica, apela ao «orgulho» dos jogadores Nélson Veríssimo para não permitir que o FC Porto volte a festejar no Estádio da Luz, no próximo sábado, quando a equipa da Luz receber os dragões em jogo da penúltima e 33.ª jornada da Liga.

«Quem está no clube, vai ter de honrar a camisola e o emblema que traz ao peito. O Benfica tem de competir com a mesma determinação e espírito, como se fosse lutar por um objetivo. É claro que vai cumprir calendário, mas os atletas têm de lutar pela vitória, porque é o nome do Benfica que está em causa e não querem que o cetro seja dado de mão beijada ao FC Porto», frisou o antigo internacional que representou o Benfica de 1981 a 1990, em declarações à agência Lusa.

O Benfica, terceiro classificado, com 71 pontos, recebe o FC Porto, líder isolado, com 85, no sábado, às 18h00, no Estádio da Luz, em jogo com arbitragem de Luís Godinho, da associação de Évora, bastando um ponto aos dragões para destronarem o Sporting.

«Matematicamente, ainda é possível o Sporting revalidar o título, mas o FC Porto só vai deixar fugir este campeonato com um desastre muito grande. Foi a equipa mais regular e competente, muito competitiva, e com um grupo de nomes de grande qualidade técnica. Manteve-se no primeiro lugar devido ao rigor, disciplina, muito trabalho e a um coletivo que funcionou em pleno, à imagem do treinador, e foi mais forte do que os rivais», notou.

Se os dragões «tentarão fazer já a festa», Álvaro Magalhães admite que as águias vão «jogar no erro do adversário», tal como na vitória sobre o Sporting (2-0), em Alvalade, na 30.ª ronda, e em vários duelos do percurso realizado até aos quartos de final da Liga dos Campeões.

«Vai jogar da mesma forma que fez nesses jogos, porque é o estilo do treinador. Eu disse sempre que o Benfica tinha jogadores para construir uma equipa muito forte e discutir o título, mas é a maneira de o Nélson Veríssimo preparar a equipa. Possui atacantes que podem desequilibrar, principalmente o Darwin Núñez, que vai dar muito trabalho aos defensores do FC Porto», projetou, falando do melhor marcador da prova, com 26 golos.

O momento de forma do dianteiro uruguaio, que «deu nas vistas e é tecnicamente muito evoluído», contrasta com a segunda época seguida sem títulos do Benfica, assente num «campeonato péssimo», de uma «equipa muito inconstante e capaz de jogar muito mais».

«A nível internacional, a equipa jogou sempre no erro do adversário e tentou surpreendê-lo. Não é necessário ter muitas oportunidades, mas marcou naquelas que criou e acabou por ganhar alguns jogos. A nível nacional, as coisas têm sido diferentes, pois as equipas também jogam de outra forma. O clube tem tido alguns problemas, mas os benfiquistas todos pensaram que este ano poderia realmente lutar pelo título até ao final», lamentou.

O ex-internacional português, de 61 anos, adverte também que os lisboetas «não podem ser campeões» perdendo 15 pontos em casa, cinco abaixo do recorde do clube estabelecido em 1996/97, rejeitando aliviar esse fracasso com as críticas às arbitragens.

«Não vou por esse caminho. Há que entender que os três grandes são beneficiados em alguns jogos e prejudicados noutros. Por norma, não há grandes diferenças de prejuízo, mesmo que todos os anos haja críticas. Já no meu tempo era a mesma coisa: há sempre reclamações quando perdem, mas ninguém reclama quando ganha. Temos de estar preparados para estas situações e, para isso, convém ganhar mais pontos», defendeu.

Vencedor de quatro campeonatos, quatro Taças de Portugal e duas Supertaças, Álvaro Magalhães viu um trabalho «muito irregular» de Nélson Veríssimo, que deixou a equipa B, então líder da II Liga, para substituir Jorge Jesus em dezembro de 2021, entre derrotas com o FC Porto nos oitavos da Taça de Portugal (0-3) e na 16.ª jornada da I Liga (1-3).

«Não vamos estar a pensar que eliminámos o Ajax na Liga dos Campeões e tivemos uma boa prestação diante do Liverpool, que dominou essa eliminatória a seu bel-prazer. O Benfica não esteve ao seu melhor nível internamente e acaba por ficar no terceiro lugar, com a desvantagem de ter de iniciar a próxima época mais cedo. Pode ter a infelicidade de surgir um tubarão [nas pré-eliminatórias da Champions] e é sempre difícil», avaliou.

Os encarnados vão disputar a fase preliminar da principal prova europeia de clubes pela terceira temporada consecutiva, tendo um princípio de acordo com o treinador alemão Roger Schmidt, que vai ter de «construir um novo plantel, ficar com os melhores e tentar contratar três, quatro ou cinco jogadores de nível internacional que fortaleçam a equipa».

«Há ótimos técnicos portugueses, mas, nesta fase do Benfica, faz bem a mudança para um estrangeiro, que traga outra mentalidade, estilo de jogo e pensamento. Aliás, o clube teve sempre sucesso com os treinadores estrangeiros», concluiu Álvaro Magalhães, que também coadjuvou o espanhol José Antonio Camacho, vencendo uma Taça de Portugal (2003/04), e o italiano Giovanni Trapattoni, rumo ao 31.º de 37 campeonatos (2004/05).