Todas as partidas de futebol têm 90 minutos, começam com o mesmo número de jogadores e colocam frente a frente duas equipas. Mas depois, há jogos e jogos. Ao longo da história, os jogos entre clubes da mesma cidade ou de cidades vizinhas, os chamados derbies, mostraram que também se podem resolver rivalidades à face da relva. E a beleza do futebol está, também, aí. Cada jogo, cada derby, cada clássico é nova oportunidade de demonstração de força, num ciclo quase ininterrupto.

Ora, num fim-de-semana em que as atenções desportivas estão centradas no Sporting-Benfica, o MaisFutebol explorou outras rivalidades que entrarão em campo por estes dias. A Europa vai estar a ferver , com derbies e clássicos em várias ligas.
Em Espanha joga-se aquele que será, sem dúvida, o mais mediático de todos. A rivalidade entre os dois crónicos candidatos ao título ultrapassou as quezílias regionais. O Barcelona-Real Madrid é uma questão de história e de orgulho. Carlos Secretário, que passou pelo emblema da capital, lembra que há muito que este deixou de ser um simples jogo de futebol. «É o jogo mais mediático, não só em Espanha, mas no Mundo. E quando os jogos são em Barcelona acho que tudo é vivido de forma mais intensa, porque há questões políticas, relacionadas com a independência da Catalunha, que os adeptos levam para o estádio e o jogo, para eles, ganha outros contornos», afirma ao MaisFutebol.
O mediatismo é mesmo o factor que diferencia o clássico espanhol de qualquer jogo em Portugal, segundo Secretário, mas «para os jogadores a responsabilidade é a mesma», mesmo que haja estórias que ficam para sempre: «Recordo-me de uma vez que fui jogar a Barcelona e à chegada os adeptos partiram-nos os vidros do autocarro. Mas o clássico que me deu mais gozo jogar em Espanha foi um Real Madrid-Barcelona em que ganhámos 2-0. Houve adeptos que ficaram dois e três dias nas filas para comprar bilhete. E nessa altura estava um frio de rachar. É nestes jogos que se vê a devoção dos adeptos ao clube.»
Moreira, o português do derby de Belgrado
Também na Sérvia há jogo grande. O Estrela Vermelha recebe o Partizan e o português Moreira vai estar em campo, do lado dos visitantes, se é que se lhes pode chamar assim: «Os estádios ficam a cinco minutos a pé um do outro. Há muitas parecenças com a rivalidade entre Benfica e Sporting porque o Estrela e o Partizan também são praticamente vizinhos. Mas acho que em Portugal não há nenhum jogo que se compare a este.»
Afinal de contas, para Moreira, como em tantas outras coisas no futebol, também aqui se deve tudo a uma questão de «intensidade». «O derby aqui é mais agressivo, mas no bom sentido. Antes dez ou quinze dias já se começa a falar do jogo, porque os adeptos vivem isto intensamente. Eles aceitam quase tudo, perder este jogo é que não. Até podes ter perdido dez jogos seguidos, mas se ganhares o derby fica logo tudo bem», assegura.
E Moreira revela mesmo que não são só os adeptos a viver o jogo com tamanha intensidade: «Os jogadores cá da Sérvia também vivem muito este jogo. É de loucos. Passam dias e dias a falar disso. Sente-se que estão nervosos muito tempo antes. Há uma obrigação em ganhar, até para a auto-estima de cada um.»
Do derby português, o avançado apenas queria importar uma coisa: o mito de que o jogo é ganho por quem está pior. «Dava jeito, porque vamos a quatro pontos e se perdermos fica complicado», atira, por entre risos. Moreira diz-se «preparado» para ajudar o Partizan a conseguir um bom resultado, como fez no ano passado. «No último derby empatámos 1-1 e eu fiz o golo do empate aos 95 minutos. Foi a loucura. Nos dias que se seguiram as pessoas vinham ter comigo na rua, queriam agradecer-me. É incrível a forma como eles vivem estes jogos aqui», afirma.