Em 2002 Samyr Laine era caloiro em Harvard. Dividia quarto com outro estudante e faziam as coisas que os estudantes fazem. Computador, jogos na consola, poucas horas de sono. Hoje, Samyr vai aos Jogos Olímpicos. E o seu antigo colega de quarto é um dos homens mais ricos do mundo: Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook. Se o português Nélson Évora, campeão olímpico do triplo salto, estivesse nos Jogos Olímpicos de Londres (não vai por estar lesionado), teria Samyr Laine como adversário. É nessa disciplina que ele vai competir, pelo Haiti.

O dormitório D11 de Harvard tinha quatro estudantes. Samyr Laine partilhava um dos dois quartos com Zuckerberg. Passaram um ano entretidos, recorda Laine. «Divertimo-nos bastante no nosso ano de caloiros, fartámo-nos de jogar PlayStation. Provavelmente não dormíamos tanto como devíamos. Mas nenhum de nós dormia tão pouco como o Mark, e agora podemos ver porquê», diz o atleta, agora com 27 anos, numa entrevista ao Bloomberg: «A forma como ele dominava os computadores, mesmo no primeiro ano, era quase cómica. Muitas vezes punhamo-nos a ver quanto tempo ele demorava a entrar nos nossos computadores.»

Zuckerberg criou o Facebook no segundo ano na universidade e Laine foi a 14ª pessoa a registar-se naquela que se tornaria a rede social mais famosa do mundo, depois de receber uma mensagem do antigo colega de quarto. Hoje ainda são amigos, falaram pela última vez em Junho, conta Laine. Zuckerberg não confirma nem desmente, porque um porta-voz do Facebook recusou passar-lhe o pedido do Bloomberg para falar dos antigos colegas de quarto.

Ambos seguiram caminhos separados. Laine dedicou-se ao atletismo e seguiu direito, enquanto continuava os treinos. Terminou o curso, mas de caminho recusou dois empregos em firmas de advogados para prosseguir o objetivo de chegar aos Jogos Olímpicos. A carreira profissional pode esperar, diz.

Ainda detém o recorde de Harvard no triplo salto e nesta altura a sua melhor marca pessoal é de 17.39 metros. Bem longe do recorde mundial, uma marca estratosférica de 18.29 metros estabelecida pelo britânico Jonathan Edwards em 1995, mas não muito dos 17,67m que deram o ouro a Nélson Évora em 2008.

Enquanto isso, vive com 1250 dólares que o Comité Olímpico atribui aos atletas de países pobres, mais o apoio financeiro da organização US Athletic Trust e... um acordo com uma pizzaria. Quando procurou um patrocínio da cadeia Zpizza, ofereceram-lhe em troca uma conta corrente de comida de borla. Ele aceitou, e é lá que vai buscar comida três ou quatro vezes por semana.

A pergunta que se segue é-lhe feita vezes sem conta. Por que não pede dinheiro a Mark Zuckerberg? «Toda a gente me pergunta isso. A nossa amizade não se baseia no facto de ele ser o Mark Zuckerberg, Personalidade do Ano da Time. Baseia-no facto de sermos dois miúdos de 17 anos que por acaso ficaram juntos num quarto. Não pedi a nenhum dos meus amigos. Por isso não é diferente com ele, que é meu amigo», responde.

Samir nasceu nos Estados Unidos, mas o pai é do Haiti e ele optou por adotar a nacionalidade de família. Para começar, porque era mais fácil ser selecionado para grandes competições do que pelos Estados Unidos, onde a concorrência era fortíssima. Depois, porque acha que pode ajudar o país, um dos mais pobres do mundo.

Para isso, está a criar uma fundação, «Jump for Haiti», para ajudar a criar condições para os jovens praticarem desporto. Nessa altura talvez peça finalmente ajuda a Zuckerberg. «Claro que, no fundo, gostava de ter sido um dos investidores originais do Facebook. Mas o Mark e eu seguimos caminhos diferentes, que ainda estão de alguma forma ligados. Se o Facebook se tornar um grande doador da «Jump for Haiti», talvez seja então a forma de eu beneficiar com ele», admite.