Candidato à presidência do Comité Olímpico de Portugal (COP), cujas eleições estão agendadas para o dia 19 de março, Laurentino Dias, que desempenhou o cargo de ministro do Desporto entre 2005 e 2011, pretende «continuar o trabalho e a missão desenvolvida por José Manuel Constantino nestes últimos anos» e responder à exigência inerente ao Contrato-Programa firmado com o Governo para o quadriénio 2024-2028.

Mostrando-se «decidido e determinado a ajudar o desporto a ir para a frente», o candidato defende que o COP «tem de ser um exemplo de transparência para o país inteiro e, sobretudo, para a comunidade desportiva» e deve estender a sua presença a outros pontos do mapa. «Temos de ir junto das pessoas, das autarquias e dos clubes. Uma delegação do Norte ajudará a cumprir esse papel», acredita, em entrevista à agência Lusa.

Laurentino Dias entende que «o COP tem condições para oferecer serviços que, hoje, as federações não olímpicas têm de ir contratar no exterior», bem como que «o financiamento geral do sistema desportivo precisa de ser repensado».

Apontando que, em 2023, o Estado distribuiu pelas 67 federações desportivas, «números redondos», 30 milhões de euros provenientes do Orçamento do Estado e das receitas dos impostos dos Jogos da Santa Casa, e outros 70 milhões de euros resultantes dos jogos online e do Placard, o candidato critica que a repartição dessas verbas tenha sido feita «mais ou menos assim»: «69 milhões de euros por três ou quatro federações e o outro milhão distribuído pelas outras 60 e tal federações, das quais 47 receberam zero».

«Esta distribuição está a gerar um desequilíbrio profundo no sistema desportivo», nota, acrescentando que «não vale a pena disfarçar e fazer como faz uma federação, dessas que recebem muito dinheiro, que escreve na última linha (do orçamento) uma coisa chamada donativos “milhões de euros”. Não são donativos, não. É receita pública que vem dos impostos».

«É preciso falar claro. Com transparência e com verdade, não haverá donos disso tudo. Haverá a economia que nós temos, os dinheiros que nós temos, distribuídos com igualdade, com solidariedade e com equilíbrio. E é isso que nós desejamos», sublinha Laurentino Dias, que concorre à presidência do COP juntamente com Fernando Gomes, que liderou a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) nos últimos 13 anos.

«Já temos um secretário de Estado [Pedro Dias] que veio da FPF. Termos um presidente do COP vindo também do futebol dá azo à "futebolização" do desporto português ou do COP. Surpreendeu-me a candidatura do Fernando Gomes, porque, para sermos candidatos a uma instituição, é preciso que a sintamos ao longo da nossa vida», criticou Laurentino Dias.

O antigo ministro do Desporto acrescentou que «a FPF nunca apostou na seleção olímpica» e criticou as recentes homenagens às delegações portuguesas presentes em Paris 2024 no jogo entre Portugal e Escócia, para a Liga das Nações de futebol. «Foram agora porquê? Porque o Fernando Gomes estava a pensar em ser candidato? Sim, estes amores de última hora não são bonitos. Mas, pronto, são legítimos, de qualquer forma. Iremos os dois a votos e o movimento desportivo terá a oportunidade de fazer essa escolha», concluiu Laurentino Dias.