Portugal nunca venceu a Suécia em casa, mas já foi lá ganhar duas vezes em jogos oficiais. Ambas por 1-0 e decididas com golos de Fernando Gomes, a primeira lançou a seleção na corrida para o Mundial 86 e a segunda não chegou para garantir a presença no Euro 88. António Sousa esteve nos dois jogos. Foi ele que fez a assistência para o golo do «Bibota» na segunda partida, mas curiosamente lembra-se melhor da primeira.

Foi a 12 de setembro de 1984, há mais de 29 anos. O golo aconteceu a 11 minutos do final. Inácio subiu pela esquerda e deu para a cabeça de Gomes. Assim:



Sousa puxa o filme atrás em conversa com o Maisfutebol: «Foi a primeira vez que se conseguiu ganhar na Suécia, que era sempre um adversário muito difícil, pela sua estrutura física, era sempre muito forte. Por ser a primeira vez é aquele de que mais me recordo.»

«As dificuldades que sentíamos com a Suécia tinham a ver com a estrutura física deles, a Suécia tinha sempre equipas fortes em termos de jogo aéreo, e nós sentíamos algumas dificuldades em lidar com isso. Em termos de qualidade de jogo fomos sempre iguais a nós próprios e conseguimos, ao longo dos tempos, evoluir um pouco em algumas vertentes que eram importantes, nomeadamente no jogo aéreo, e em evitar situações de jogo aéreo do adversário.»

«Foi o primeiro jogo da qualificação. A nossa auto-confiança cresceu muito depois de ganharmos na Suécia, onde não era fácil nenhuma equipa vencer», recorda Sousa, que vestiu 27 vezes a camisola da seleção. Apesar disso, Portugal até perdeu depois em casa com a Suécia (1-3), mas manteve-se vivo até Estugarda, quando o pontapé de Carlos Manuel à Alemanha garantiu a presença no Mundial. «Infelizmente perdemos em casa depois com a Suécia, mas recompusemo-nos. Era uma seleção com um nível mental muito forte, a qualidade também era muita, coletivamente fomos crescendo e conseguimos o objetivo.»

Seguiu-se o Mundial do México e seguiu-se Saltillo, tempos conturbados no futebol português. A segunda vitória de Portugal sobre a Suécia aconteceu precisamente no jogo que marcou o regresso dos jogadores que tinham sido afastados da equipa depois da «revolta» no México. Sousa voltou com eles.

Olhando para trás, o antigo internacional acha que Saltillo se resolveu por si. «Não houve nenhum tipo de negociação, houve alteração em termos de mentalidade das pessoas que estavam à frente da Federação. Perceberam que o principal interesse era o desporto, a seleção e ter os melhores ao serviço da seleção. Nós aceitámos o que nos foi dito e voltámos a jogar pela seleção com muito orgulho.»

A visita à Suécia aconteceu a 23 de setembro de 1987, depois do empate caseiro com Malta (2-2), um resultado humilhante a mais de meio caminho de uma campanha medíocre de Portugal para o Euro 88. Voltaram então Sousa, mas também Futre ou Fernando Gomes.

«Foi um reaparecimento feliz, pelo facto de podermos voltar a representar a nossa seleção», resume Sousa 26 anos depois, para recordar de seguida o lance que decidiu o jogo, aos 34 minutos. «Controlo a bola, vejo o Gomes na zona certa e faço o cruzamento. Ele aparece muito bem e marca», descreve, prosseguindo a comentar a sua relação com Gomes, seu ex-companheiro de equipa do FC Porto, que o Maisfutebol contactou para este artigo, mas não teve autorização do clube para falar. 

Fala Sousa: «Havia um grande conhecimento entre nós, éramos colegas de equipa. Foram muitos anos juntos, oito anos em conjunto, o conhecimento era perfeito.» 



A Suécia, essa, não tinha mudado muito, diz Sousa. «Não houve grandes alterações. O estilo é o mesmo, no presente também. As equipas nórdicas vivem muito do jogo aéreo», analisa, fazendo a ponte para a atualidade.

«As equipas adversárias é que começaram a ser muito mais inteligentes, fazem melhor leitura do adversário, procuram cometer poucos erros em termos defensivos, evitar cantos contra, precisamente para que o adversário não possa usufruir dos lances de bola parada», observa: «O que temos, como costumo dizer, é de dar-lhes a bola a cheirar, obrigá-los a correr, desgastá-los. As equipas que o conseguirem fazer, atrás disso podem ter sucesso.»

E Portugal, que esperar? Sousa não esconde alguma apreensão para o play-off. «Antevejo uma eliminatória complicada. Não que não tenha confiança no valor da nossa seleção em termos coletivos e individuais. A minha única dúvida é o que ela nos tem dito nos últimos jogos. Não tem sido a seleção que era há alguns anos, está mais debilitada.»

Aposta em William Carvalho

«Acredito plenamente que vão conseguir e estou convicto que iremos estar no Brasil. Mas é preciso muita concentração, a equipa tem de apresentar-se segura, com um meio-campo forte, que ultimamente não tem tido», continua, para entrar depois no centro desta questão, o meio-campo.

«Tem sido a nossa grande lacuna, têm faltado algumas pedras que possam acrescentar alguma coisa.. Em termos de opções e qualidade se calhar neste momento não temos o que tivemos noutros tempos, é preciso meter alguém capaz de acrescentar algo mais positivo», defende Sousa, para responder assim, quando se pergunta se vê alguma alternativa, ou se ela poderá ser William Carvalho, que se estreou na convocatória de Paulo Bento.

Sousa acredita, sem grandes reservas. «Estou plenamente convencido, apesar da sua juventude, pelo que nos tem dito e pelo que temos visto dele, que vai assentar que nem uma luva. Espero que possa ser aposta do Paulo Bento, por não ter um trinco à moda antiga. Este miúdo tem sido uma delícia, e uma surpresa muito agradável com a idade dele.»

Vai mais longe, Sousa: «Embora não tenha ido ainda aos AA, tem jogado regularmente e muito bem no Sporting e está automatizado. Estou convicto que o Paulo Bento o vai pôr a jogar de início.»

William tem dois jogos para poder estrear-se, sendo que Paulo Bento deixou em aberto a sua utilização. Disse o selecionador que o médio do Sporting pode ser útil em função da «estratégia que a equipa possa utilizar num dos jogos»: «Não significa que seja o primeiro ou o segundo jogo.»

Sim, serão dois jogos. E voltando ao início da conversa, a partida da Suécia será decisiva, conclui Sousa. «Não vai ficar nada resolvido na Luz. Seria o ideal, mas não vai. Claro que se conseguirmos em casa um resultado que nos dê alguma tranquilidade será melhor. Espero que o Cristiano Ronaldo esteja inspirado e consiga mais uma vez fazer a diferença, está numa fase excelente da carreira, e possamos garantir um bom resultado na Luz. Mas a decisão final irá ser sempre no segundo jogo.»

Se as vitórias de Portugal frente à Suécia são escassas, o passado recente tem equilibrado as contas. A última derrota da seleção nacional aconteceu também em 1984, no apuramento para o Mundial 1986, e foi em casa. Desde então Portugal venceu duas vezes (a tal de 1987 e num particular em 2002) e registaram-se cinco empates.

Todos os jogos de Portugal com a Suécia

1955, Particular, Portugal-Suécia, 2-6
1959, Particular, Suécia-Portugal, 2-0
1966, Apuramento Europeu, Portugal-Suécia, 1-2
1967, Apuramento Europeu, Suécia-Portugal, 1-1
1981, Apuramento Mundial, Suécia-Portugal, 3-0
1981, Apuramento Mundial, Portugal-Suécia, 1-2
1984, Apuramento Mundial, Suécia-Portugal, 0-1
1984, Apuramento Mundial, Portugal-Suécia, 1-3
1986, Apuramento Europeu, Portugal-Suécia, 1-1
1987, Apuramento Europeu, Suécia-Portugal, 0-1
1988, Particular, Suécia-Portugal, 0-0
2002, Particular, Suécia-Portugal, 2-3
2004, Particular, Portugal-Suécia, 2-2
2008, Apuramento Mundial, Suécia-Portugal, 0-0
2009, Apuramento Mundial, Portugal-Suécia, 0-0
Balanço: 15 jogos, 3 vitórias, 6 empates, 6 derrotas (14-24 em golos)