A comunicação é um setor cada vez mais importante no futebol profissional.

Não há clube na Liga que não tenha um departamento para o tema e os treinadores não prescindem de os utilizar como auxílio antes das conferências.

Seja como for, nisto da comunicação, o
registo pessoal conta muito.

José Couceiro pegou num V. Setúbal em crise e conseguiu, em seis jornadas, colocá-lo a meio da tabela. Graças às palavras? «É claro que, hoje em dia, a comunicação conta muito. Toda a gente sabe isso. Mas quem joga são os jogadores. São eles que decidem as partidas», recorda o técnico, que na primeira passagem pelo Sado já tinha mostrado bons resultados.

Rui Vitória, treinador do V. Guimarães, é outro exemplo de quem tem sabido usar a força da palavra para fazer face às dificuldades.

Num Vitória com poucos recursos, ganhou a Taça de Portugal na época passada, não fez má figura na Liga Europa e pratica um futebol elogiado por todos. Para o técnico vimaranense, a chave está em mostrar, como treinador, «serenidade, mesmo quando se passa por turbulência».

E Rui Vitória até usa como exemplo uma experiência recente vivida pelo grupo: «Agora, quando jogámos para a Liga Europa, quando viemos da Croácia o avião parecia uma pena, tremeu todo, foi assustador. Nos primeiros minutos da viagem, quando tudo parecia calmo, as hospedeiras eram só sorrisos. Mas na parte final da viagem, quando o avião tremeu, as caras delas já eram susto. Ora, o treinador não pode fazer como essas hospedeiras. Não pode mostrar medo, mesmo quando há turbulência a agitar o grupo. Tem que manter a serenidade».

O espírito de grupo e a aposta na juventude, com jogadores produtos da «cantera» vimaranense, ajudam a exaltar a noção do coletivo.

Não por acaso, Rui Vitória aponta quase sempre essas duas ideias nas conferências.

Os chineses de João de Deus na Oliveirense


A fazer um excelente campeonato está João de Deus, no Gil Vicente. O quarto lugar dos gilistas tem ares de fazer história, mesmo sendo à 11.ª jornada.

A serenidade que o técnico exala pode dar confiança ao grupo. João de Deus confirma que a «comunicação com os jogadores faz-se de forma direta e natural».

João de Deus dá, até, um exemplo divertido e que mostra como a comunicação tem tanta importância numa lógica de grupo: «Quando estava na Oliveirense, tinha dois jovens chineses, com bastante valor até. Eles não falavam inglês, nem francês, nem espanhol. Nada. Ora, é óbvio que isso dificultou a integração deles e é óbvio que não aproveitámos deles tudo o que poderíamos».

Pedro Emanuel revela ter a preocupação de lançar sempre uma «headline», uma ideia forte em cada conferência: «Como estou em Arouca, e Arouca parece que fica longe de tudo, é raro aparecerem muitos jornalistas, é a forma que encontro para ver se a mensagem passa».

A comunicação como estratégia

Nuno Espírito Santo é, no Rio Ave, um treinador com cautelas assumidas. É raro vê-lo expansivo. Mede muito bem tudo o que diz. E isso é estudado: «Vejo a comunicação como uma estratégia. Um instrumento que nos poderá ajudar a vencer e que pode levar-nos a criar problemas ao adversário. É instrumental».

O técnico do Rio Ave garante que gosta de «ser espontâneo» nos finais de jogos. E aponta: «O pior que pode acontecer é que os treinadores se deixem influenciar pelos assessores, por todos aqueles dados estatísticos, lances polémicos de arbitragem... Isso contagia o que vamos dizer. Acho que é melhor sermos autêntico. Assumo que isso pode influenciar o que vou dizer».

Problemas em comum

Há coisas no futebol que são mais universais do que parecem. José Couceiro aponta uma delas: os benefícios da estabilidade. «A estabilidade que o Paços de Ferreira tem tido nos últimos ano, por exemplo, ajudou a valorizar as carreiras dos treinadores que por lá passaram. Foi assim com o Rui Vitória, com o Paulo Fonseca, com o Paulo Sérgio... Isso é uma tendência que pode ser seguida por outros clubes».