A lei já existe há dois anos, desde que publicada em decreto em 2004, mas só há cerca de um mês foi colocada em prática. Quatro adeptos do Lixa foram proibidos de entrar em recintos desportivos durante um ano e um outro adepto cumpre a mesma proibição durante ano e meio. A sentença foi decretada pelo Tribunal Judicial de Felgueiras, após julgamento, e foi tornada pública há dias pela Federação Portuguesa de Futebol.
O caso que motivou a pena, esse, remonta à época 2004/05, a um Lixa-Vizela que terminou com a vitória dos visitantes por 1-0. O Vizela acabaria mesmo por subir nesse ano à Liga de Honra. O Maisfutebol falou com João Lachado, um dos condenados em tribunal, para perceber melhor a história destes adeptos que se tornaram os primeiros em Portugal a ser proibidos de entrar em recintos desportivos.
«Entrei só para ver a banda passar»
Ficou a saber-se então que tudo começou numa invasão de campo. «Havia um descontentamento muito grande em relação à arbitragem e eu fui uma das largas dezenas de pessoas que entraram em campo», contou. «O árbitro assinalou um penalty contra o Lixa que não existiu, as pessoas exaltaram-se, havia um portão que estava aberto e entramos por ali adentro. Eu entrei como os outros. Até fui dos últimos a entrar. Os árbitros já estavam no balneário, em segurança, e eu fiquei no relvado a falar com dois jogadores do Vizela que conhecia dos tempos em que jogaram no Lixa. Depois as pessoas voltaram para as bancadas e o jogo foi retomado até ao fim».

«Só fui identificado porque sou cá da terra»
Uma invasão à boa maneira portuguesa, de resto. «Não houve agressão nenhuma, não houve desacatos, entrei apenas para ver passar a banda, como se costuma dizer». A curiosidade acabou por custar-lhe caro e João Lachado foi identificado. O curioso é que só o descobriu dois dias depois. «Não fui detido, na altura nem soube que tinha sido identificado, só 48 horas depois é que recebi em casa uma carta a dizer que tinha sido identificado. Sou cá da terra, as pessoas conhecem-me, viram-me lá dentro e atiraram as culpas para cima de mim e dos outros quatro companheiros». Mais de um ano depois chegou o julgamento. «Apresentei a minha versão do que tinha acontecido à juíza e ouvi a sentença que me proibia de entrar em campos de futebol durante um ano».
«Se um dia destes me lembrar de ir a um jogo, vou igual»
Há pouco mais de um mês, portanto, que João Lachado cumpre pena de impedimento de entrar em recintos desportivos durante um ano. Para já, garante, diz que a tem cumprido. Mas só porque lhe apetece. «Se um dia destes me lembrar de ir a um jogo, vou igual. Por acaso ainda não me deu para isso». Uma das questões que se colocam é mesmo essa, como fazer cumprir a sentença. Por princípio deveriam ser as forças policiais e o Governo Civil a fazê-lo, mas tal não acontece. João Lachado diz que nem sequer está obrigado a apresentar-se na esquadra à hora dos jogos do Lixa. «Se decidir ir ao futebol só os guardas da GNR que me identificaram é que podem tramar-me, os outros não sabem quem eu sou ou que estou proibido de entrar em estádios».