O FC Porto é dos três «grandes» o clube que mais gasta na gestão corrente, embora não seja aquele que mais receitas consegue. Os dragões consomem nesta altura em custos com pessoal essencialmente tanto quanto as receitas que geram no dia a dia, excluindo transações de jogadores.

Um problema assumido pela SAD, que na apresentação das contas definiu como objetivo reduzir em 20 milhões nos próximos dois anos o atual valor de 75,7 milhões gastos em pessoal.

Depois de o Benfica ter apresentado na noite de segunda-feira o Relatório e Contas do exercício de 2015/16, seguindo-se a Sporting e FC Porto, o Maisfutebol apresenta dados comparativos dos gastos e ganhos mais relevantes dos três «grandes». No saldo global, recorde-se, o Benfica anunciou 20,4 milhões de lucros (contra 7,1 em 2014/15), o FC Porto um prejuízo recorde de 58,4 milhões (contra 19,3 milhões de lucro em 2014/15) e o Sporting 31,9 milhões de prejuízo (contra 19,3 milhões positivos em 2014/15).

Como regra, globalmente, todos aumentaram os gastos operacionais, não contando com a aquisição de jogadores, como atestam os números finais.

Gastos operacionais (excluindo transações de jogadores)

Benfica: 118.170 milhões (106.474 em 2014/15)

FC Porto: 124.425 milhões (110.334)

Sporting: 78.494 (52.105)

No que diz respeito a custos com pessoal, o valor que mais pesa nas contas, o Benfica é o segundo na lista, com gastos de 61,4 milhões de euros, valor que também aumentou em relação à época passada, em cerca de 1.8 milhões de euros. E o Sporting continua em terceiro, mas na última época quase duplicou os gastos com salários.

Um dado também assumido pelos «leões» na apresentação de contas que fecha a época da contratação de Jorge Jesus. «O aumento verificado nas remunerações do pessoal decorre essencialmente do reforço efectuado durante esta época no plantel com a contratação da equipa técnica, aquisições de jogadores e renovações de contratos de trabalho desportivo de modo a garantir a necessária sustentabilidade da performance desportiva da Sporting SAD», diz o relatório e contas da SAD leonina.

Custos com pessoal

Benfica: 61.456 (59.607)

FC Porto: 75.790 (69.999)

Sporting: 48.865 (25.140)

Remunerações jogadores e equipa técnica

Benfica: 51.881 (47.673)*

FC Porto: 54.327 (54.120)

Sporting: 37.165 (18.524)

*Benfica não discrimina apenas gastos com jogadores e equipa técnica. Esta rubrica engloba as remunerações fixas referentes a pessoal que, diz o relatório, «dizem respeito aos salários de atletas, equipa técnica e dos restantes colaboradores». E ainda as remunerações variáveis, que englobam «essencialmente contrapartidas face a objetivos de desempenho individual estabelecidos nos contratos de trabalho de diversos atletas e técnicos», bem como «prémios de jogo» e de objetivos.

Quanto às remunerações a administração/orgãos sociais, o FC Porto também segue na frente, com cerca de 1.5 milhões de euros para cinco administradores da SAD: Pinto da Costa, Adelino Caldeira, Fernando Gomes, Reinaldo Teles e ainda Antero Henrique, que subiu ao Conselho de Admnistração no decorrer do exercício, tendo entretanto deixado a SAD. O valor total apresentado para remunerações a orgãos sociais é de 1.970 milhões, dizendo o relatório que engloba a adminstração da SAD «e suas subsidiárias».

O Benfica pagou 537 mil euros a dois administradores, Domingos Soares Oliveira e Rui Costa, um valor ligeiramente inferior ao do último exercício. E o Sporting quase triplicou o valor em relação à última época, fruto dos aumentos de salários dos administradores executivos, onde se inclui o presidente Bruno de Carvalho, aprovados em Assembleia Geral em setembro de 2015.

Remunerações orgãos sociais:

Benfica: 537 mil euros (558)

FC Porto: 1.476 milhões*

Sporting: 410 mil euros (163)

*Dados relativos ao Conselho de Administração da SAD; Na rubrica «remunerações aos orgãos sociais» o relatório e contas do apresenta o valor de 1.970 milhões, que diz ser relativo à remuneração dos membros do CA da SAD «e suas subsidiárias». Esse valor era de 1,827 milhões em 2014/15.

Menos receitas TV para o Benfica, FC Porto cai na bilheteira, Sporting perde nos patrocínios

Quanto às receitas correntes, o Benfica lidera os ganhos, sendo que a principal variável para os «encarnados» foram as receitas da Liga dos Campeões, onde chegou aos quartos de final da competição em 2015/16: cresceram de 14.522 na época anterior para os 35.026 orçamentados neste relatório.

Rendimentos operacionais (excluindo transações de jogadores)

Benfica: 126.075 (101.974)

FC Porto: 75.811 (93.589)

Sporting: 68.750 (58.382)

Competições europeias

Benfica: 35.026 (14.522)

FC Porto:  11.603 (36.170)

Sporting: 8.486 (11.339)

Outra das principais fontes de receitas dos clubes é a parcela dos direiros televisivos. Aqui o Benfica apresentou perdas em relação à época anterior, que o relatório diz dever-se «a uma ligeira redução das receitas de distribuição» da Benfica TV.

O Sporting é quem mais cresce no que diz respeito a direitos televisivos, de 17,3 para 24,8 milhões, valor que se explica pela renegociação do contrato com a PPTV. Todos os grandes formalizaram neste período novos contratos televisivos para o futuro, sendo que o acordo dos «leões» foi o único que teve influência também no acordo em vigor.

O FC Porto também aumentou as suas receitas televisivas, de 1.251 para 22.314 milhões, verba que o relatório e contas explica dever-se em parte «aos rendimentos progressivos garantidos pelo contrato» com a PPTV, mas também a um «aumento das receitas advindas dos direitos de distribuição do Porto Canal», que acontece «devido aos rendimentos garantidos no contrato assinado com a Altice em 27 de dezembro de 2015».

Direitos televisivos

Benfica: 33.434 (34.628)

FC Porto: 22.314 (17.251)

Sporting: 24.809 (17.353)

Quanto a outras receitas correntes, nota para a perda de receitas de bilheteira do FC Porto. O relatório dos dragões dizem que estas ficaram «penalizadas pela decisão» do FC Porto e da SAD «de deixar de transferir, a partir de julho de 2015, 25% das quotizações pagas pelos associados para a SAD. Além disso, diz o documento, também se verificou «uma diminuição das receitas obtidas na comercialização de bilhetes jogo a jogo devido à diminuição dos jogos para as competições europeias» no Dragão.

O Benfica aumentou as receitas de bilheteira, fruto essencialmente dos jogos da Liga dos Campeões, e o Sporting está em linha, embora tenha crescido se somarmos os bilhetes de época e os camarotes, como pode ver em baixo.

Quanto a outra das fontes de receitas relevantes, a de patrocínios e publicidade, o Benfica segue na frente, seguido do FC Porto, ambos com sinais de crescimento. O Sporting perde ligeiramente em relação ao exercício anterior.

Bilheteira

Benfica: 7.821 (5.200)

FC Porto:  3.399 (4.269)

Sporting: 3.795 (3.646)

Receitas totais de bilheteira

(incluindo bilheteira, bilhetes de época e camarotes)

Benfica: 21.704 (18.366)

FC Porto: 14.655 (15.159)

Sporting: 14.198 (12.595)


Patrocínios e publicidade

Benfica: 21.151 (20.029)

FC Porto:  14.183 (13.565)

Sporting: 9.921 (10.181)

Merchandising

Benfica: não discriminado

FC Porto:  4.583 (3.828)

Sporting: 3.255 (1.317)

Negócios com jogadores: as diferenças

Quanto às receitas extraordinárias, as que dizem respeito a vendas com jogadores, no caso do FC Porto são responsáveis numa parte substancial pelos maus resultados. Os dragões apresentam receitas de 75,357 milhões, citando como principais contribuintes para os números as vendas de jogadores como Alex Sandro ou Maicon, mas na época anterior esse valor era de 118 milhões. Também gastaram 36,6 milhões, mais do que na época anterior. No balanço, ganharam menos 43.842 em transferências que na época anterior.

O Benfica foi quem anunciou maiores receitas esta época com transações de jogadores, essencialmente pelas transferências de Renato Sanches, Gaitán, Ivan Cavaleiro e Lima, um total de 81,893 milhões de euros. Quanto a aquisições de passes de jogadores, o Benfica reporta 15 milhões de euros gastos.

O Sporting anunciou ganhos com transferências de 7,6 milhões, sendo que os gastos se cifram nos 25.510 milhões, sendo Alan Ruiz, que custou oito milhões de euros, a contratação mais cara do período. Nas contas do Sporting não entram as transferências de João Mário e Slimani, as quais, estimou Bruno de Carvalho, representarão uma mais-valia de 54 milhões de euros.

Transações de jogadores

Vendas

Benfica: 81.893 milhões (78.825)

FC Porto: 75.357 milhões (118.476)

Sporting: 7.632 (27.304)

Compras

Benfica: 15.011 (13.501)

FC Porto:  36.699 (35.975)

Sporting: 25.510 (10.017)

O Benfica passou a divulgar no atual relatório os ganhos efetivamente gerados com as transações dos jogadores, algo que o FC Porto já fazia. Nessa informação deduz-se aos valores comunicados na origem várias parcelas, que se prendem com intermediação, vulgo comissões, compromissos com terceiros, efeitos de atualização financeira ou ainda aquilo que se designa por «valor líquido contabilístico do direito do atleta à data de alineação».

É a atualização das reais mais-valias da transferência de cada jogador, explica ao Maisfutebol António Samagaio, professor no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). O valor contabilístico, por exemplo é apurado «dividindo o valor da aquisição pelos anos de contrato».  

O especialista defende que estas deduções até deviam ser feitas na origem. «Quando comunicam a transferência os clubes deviam dizer qual seria a mais-valia, o ganho efetivo», afirma, lembrando como os valores acabam por ser muito diferentes. Veja-se os casos dos valores referentes a Gaitán ou Markovic, por exemplo, no caso do Benfica.