"Conto direto" é a rubrica do Maisfutebol que dá voz a protagonistas dos escalões inferiores do futebol português. As vivências, os sonhos e as rotinas, contados na primeira pessoa.

Martim Maia, 23 anos, médio do Amora

«Comecei a jogar futebol aos 8 anos. Andava na natação, mas não gostava muito. Por influência do meu pai e do meu irmão fui para as escolinhas do FC Porto. O meu pai foi jogador e passou por Sporting de Covilhã, Famalicão e União da Madeira, entre outros, e foi internacional jovem por Portugal. Fez uma carreira curta, mas boa.

O meu já estava no FC Porto e acabei por ir também para a Constituição. Estive três anos, salvo erro, no FC Porto. Nessa altura lembro-me de treinar ao mesmo tempo que o Rúben Neves, por exemplo. Não estive lá muito tempo e fui para o Leixões com 11 anos. O Leixões foi sempre um bom clube e habitualmente tinha boas equipas nas camadas jovens. Não sabia se queria ser jogador, só sabia que gostava do que fazia. 

O Leixões disputava sempre o campeoanto nacional e fiquei lá até aos sub-16. Foi uma experiência interessante. Jogava no escalão acima e senti que podia haver ali alguma coisa. Trabalhava bastante e gostava mesmo muito do que fazia.

Entretanto tive uma proposta do Rio Ave. Como sabemos, o Rio Ave é um excelente clube mesmo nas camadas jovens. O clube estava a começar a crescer e senti que era altura de mudar e ir para uma coisa um pouco mais séria, digamos assim. Aí senti que poderia ter uma carreira no futebol.

Durante o tempo em que estive no Rio Ave tive uma ou outra lesão que me obrigou a estar parado alguns meses. Passei pelos sub-16, sub-17 e sub-18, e joguei ainda na equipa B e nos sub-23. 


 

Martim Maia evoluiu no Rio Ave, sobretudo na Liga Revelação.



A época nos sub-23 foi muito boa e foi essa época que me permitiu chegar à II Liga. Foi o primeiro ano em que houve competição nos sub-23. Todas as pessoas assistiam aos jogos na televisão e o facto de termos chegado à final da Taça Revelação e termos ficado em terceiro lugar, ajudou a que tivéssemos maior visibilidade. 

Era difícil chegar à equipa principal do Rio Ave. A equipa era muito forte. Treinei muitas vezes com a equipa A, consegui evoluir e aprender. Não tive nenhuma praxe. Quando estive lá, o Rúben Ribeiro, o Geraldes e o Diego Lopes foram os jogadores que mais me impressionaram. A equipa tinha jogadores muito bons.

Senti que era altura de mudar e fui para o Casa Pia. Não havia a Liga 3, apenas o Campeonato Nacional de Seniores. Tinha assinado contrato com o Rio Ave e o meu objetivo era sair por empréstimo para jogar. Sabia que seria difícil jogar na equipa principal do Rio Ave. A visibilidade que a Liga Revelação deu, abriu-me as portas do Casa Pia. 

Nesse ano tivemos três treinadores antes do campeonato ser interrompido pela pandemia de covid-19. Coletivamente a temporada não estava a correr bem. Ainda assim, foi o meu primeiro ano como profissional e considero que a experiência foi boa. 


 

Martim Maia esteve no Casa Pia na época 2019/20

Na Liga Revelação havia mais espaço, todas as equipas queriam jogar. Na II Liga há jogadores mais experientes e às vezes não dá para jogar e é preciso ganhar na raça. No ano seguinte tive a possibilidade de ir para a Polónia. Ofereceram-me um contrato em definitivo por dois anos e aceitei. Se calhar não iria ter lugar no plantel do Rio Ave e era uma coisa boa para mim. Joguei na II Divisão da Polónia, no Sosnowiec, e acho que a experiência correu bem.

O facto de haver lá mais dois portugueses, o Gonçalo Gregório e o João Oliveira, ajudou. Vivíamos no mesmo condomínio, mas em apartamentos diferentes. Íamos e voltávamos juntos para o treino e passávamos muito tempo juntos.

A meio da temporada mudámos de treinador. O novo treinador não via em mim o que o outro viu e acabei por não jogar tanto. Como esse treinador ia continuar na época seguinte e eu tinha mais um ano de contrato, decidi rescindir. 


 

Martim Maia viveu uma curta experiência na segunda divisão da Polónia.

Estava à espera de entrar na II Liga, mas não consegui. Acabei por aceitar o convite do Amora. Acho que a época está a correr bem. Seria bom se conseguíssemos ir à fase de subida. Nunca houve o objetivo de subir, mas os jogos foram passando e agora há a possibilidade de nos apurarmos. Faltam duas finais, vamos ver.

O meu dia a dia é simples. Vivo com mais dois colegas perto de Almada e chegamos normalmente ao clube por volta das 9h00. Tomamos o pequeno-almoço e começamos a treinar às 10h30. O treino termina por volta da hora de almoço e regressamos a casa para comer. Por vezes quando posso, faço trabalho de ginásio ou treino com um personal trainer. Quando não o faço, fico por casa a descansar e aproveito para ver filmes e séries. Habitualmente deito-me cedo e preparo-me para outro dia.»