Foi a dez mil quilómetros de Buenos Aires que o River Plate bateu o Boca Juniors e ergueu a Copa Libertadores, numa final que parecia interminável.

No Santiago Bernabéu, em Madrid, o dérbi dos dérbis teve intensidade, grandes golos, expulsões, agressividade, enfim, teve de tudo. Lutou-se em cada lance como se fosse o último durante e no fim foi um pequeno génio colombiano, com umas costelas de dragão, a decidir a partida.

Nas bancadas, e ao contrário do que tinha acontecido no Monumental, a festa também foi bonita, com Millonarios de um lado e Xeneizes do outro. Serviu, pelo menos, para se esquecer durante 120 minutos aquele dia 24 de novembro que envergonhou o sol argentino.

Dentro da cancha, o River foi superior durante mais tempo e ganhou com mérito próprio o direito de levar o caneco de volta para a capital argentina.

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Ainda assim, foi o Boca a entrar melhor. Aproveitando a intranquilidade demonstrada pela dupla do meio-campo adversário Ponzio e Enzo Pérez, os comandados de Gustavo Barros Schelotto exploraram a fraqueza central do River e conseguiram chegar várias vezes com perigo à baliza de Armani.

Pablo Pérez, o capitão xeneize, teve nos pés as duas melhores oportunidades na primeira parte, mas não conseguiu concretizá-las. Já Benedetto, que também tinha marcado na Bombonera, não se fez rogado, meteu as garras de predador de fora, e adiantou o Boca no marcador.

E tudo Quintero mudou

Se as finais se jogam no campo, não é mesmo verdade que também se jogam nos bancos. E aí, o River também se superiorizou. Quintero, jogador emprestado pelo FC Porto, foi lançado à hora de jogo e mudou completamente a partida.

Sempre muito ativo, o mago colombiano emprestou o critério que tanto tinha faltado ao River no primeiro tempo e, quase sozinho, virou o jogo para os Millonarios. Aos 68m, desenhou, juntamente com Ignazio Fernández, a jogada do golo do empate de Lucas Pratto e pôs em delírio os adeptos do River.

O Boca, claramente desgastado e até algo desligado, com pouca dinâmica entre os vários setores, aguentou o assalto final dos 90 minutos, mas a expulsão de Wilmar Barrios, logo nos primeiros instantes do prolongamento, complicou aquilo que já parecia complicado.

O River cresceu ainda mais na partida e no Bernabéu começou a pairar a inevitabilidade de um golo com tons de branco e vermelho, que acabou por acontecer aos 109 minutos: Quintero ganhou espaço à entrada da área e atirou uma bomba Monumental para dentro da baliza, com a bola a beijar a barra antes de entrar.

Uma maneira perfeita de escrever a história do futebol argentino e de dar uma vitória épica aos Millonarios, açucarada pelo pé esquerdo de um baixinho de 1,68 metros que se agigantou no maior palco de todos.

Se a vida já estava complicada para o Boca, mais ficou ainda quando Gago se lesionou e teve de abandonar o relvado, deixando a sua equipa a jogar com nove. A final ficava mais perto do fim da história, mas o Boca ainda esteve perto de empatar no assalto final, só que o sonho de Jara esbarrou no poste de Armani.

No desespero, Andrada deixou a sua baliza a nu e foi tentar o impensável, mas abriu o caminho para a corrida gloriosa de Pity Martínez. O extremo argentino cortou a meta libertadora e confirmou o triunfo Millonario.

Na final que era muito mais que uma final, mas ao mesmo tempo era só um dérbi de bairro, o River Plate foi melhor e reservou-se, com todo o mérito, ao direito de escrever uma das páginas mais bonitas da sua história. A história Monumental.