Aos 35 anos, a história de Doriva escreve-se com um capítulo diferente de outras que nos traumatizaram num passado recente. Com uma arritmia cardíaca e exames que comprovaram um problema no tônus do coração, o médio brasileiro decidiu pendurar a chuteiras, afastando-se das imagens que perduram na memória colectiva, motivadas pelos desfalecimentos de jogadores como Féher ou Serginho em pleno relvado.
Em entrevista ao Maisfutebol, na recta final de uma semana conturbada, Doriva justifica uma das decisões mais difíceis da carreira e recorda um ano memorável com a camisola do F.C. Porto, período curto mas suficiente para convencer os adeptos dos dragões. «Os golos que marquei ao Sporting foram memoráveis. Foi o único hat-trick da minha carreira», lembra o jogador, que abateu os leões à bomba, num jogo de campeonato em Dezembro de 1998 (3-2).
Um dos golos viria a ser atribuído a Mário Jardel, mas não belisca o mérito do volante que chegou às Antas como uma revelação, reforçando o estatuto com a presença no Campeonato do Mundo de 1998, pela selecção do Brasil. «Tive uma carreira fantástica e o tempo que passei em Portugal foi maravilhoso. Lembro-me dos golos ao Sporting e de um ao Croatia de Zagreb, na Liga dos Campeões, em que o guarda-redes não quis fazer barreira», recorda, entre sorrisos.
Vídeo: Doriva marca ao D. Zabreb
«Fiquei no Porto em 1997 e 1998, mas surgiu uma proposta irrecusável da Sampdória, muito boa para o clube e para mim, portanto acabei por sair. Tinha assinado por quatro anos e meio, mas fui para Itália e acabei por ficar na Europa durante mais de oito anos», afirma Doriva, que não descarta um regresso ao nosso país: «Adoro o país e recebo sempre muito carinho dos portugueses. Quem sabe de não regresso um dia, para treinar uma equipa?»
O convívio com Féher, imagem que motivou a tomada de posição
Doriva preparava-se para disputar o Campeonato Paulista, a última etapa da sua carreira, com a camisola do modesto Mirassol. Nos últimos dias, os exames médicos realizados ditaram a reforma antecipada: «Já tinha projectos para parar depois do campeonato, mas temos de ser prudentes com a saúde. Não é um problema grave, permite-me ter uma vida normal, mas como o meu pai e o meu avô faleceram de doenças no coração, é melhor parar.»
«Fiquei chocado com as histórias de jogadores que morreram em campo. Não esqueço o Féher. Conheci-o quando cheguei ao Porto, ainda convivemos um pouco, e fiquei horrorizado com o que lhe aconteceu. Eu e todo o Mundo. Isso também me fez pensar que era melhor parar, gozar a vida, estar com a minha família», atira o brasileiro, afastando-se definitivamente da competição profissional.
Dorival Guidoni Júnior vai misturar-se com a multidão nos próximos meses, enquanto se prepara para o regresso ao futebol, noutras funções. O vício da bola será combatido com prudência. «O médico diz que eu posso levar uma vida normal, jogar peladinhas com os amigos e tudo. Daqui a dois meses vou fazer de novo exames, porque o problema até pode ser temporário. Quero continuar ligado ao futebol, quem sabe como treinador, mas agora é altura de aprender, aprender bastante, para regressar», conclui o antigo jogador do F.C. Porto.