O contacto com Robert Sanda não é simples. Este médico nigeriano, radicado nos EUA, criou num site social um grupo de apoio à selecção da Coreia do Norte para o Mundial de 2010. Mas não contava que os aspectos políticos do país asiático interferissem naquilo que diz ser apenas «uma brincadeira bem intencionada».

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Após o contacto telefónico do Maisfutebol, Robert Sanda diz-nos estar com medo de ser escutado pela CIA ou pelo FBI. «Eles podem gravar a nossa conversa e alterar aquilo que eu disse. Não viu o filme Uma questão de nervos? Há uma cena em que o depoimento do Don Vitti (Robert De Niro) é alterado pelo FBI antes de ser escutado pelo Dr. Sobel (Billy Crystal).»

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Perante este argumento, rendemo-nos e acedemos à pretensão de Robert Sanda: fazer a entrevista por mail. As perguntas são enviadas. Tentámos, pois, perceber os motivos que levaram um nigeriano - que vive nos Estados Unidos - a demonstrar o seu apoio público à Coreia do Norte.

«Que fique bem claro! Não simpatizo com a ideologia reinante na Coreia do Norte. Detesto política. Mas acredito que a melhor forma de lidar com um regime totalitário tem de ser esta: convencê-lo que o mundo não é o seu inimigo.»

«Avancei com uma importante acção diplomática»

A opinião de Robert Sanda é, pelo menos, curiosa. Original. O nigeriano está ansioso pelo Mundial 2010 e por uma boa prestação da Coreia do Norte.

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«Para alguns países, vencer o Campeonato do Mundo é o único objectivo. Para outros, como a Coreia do Norte, participar é a maior das vitórias. Ao criar este grupo de apoio, senti que estava a avançar com uma importante acção diplomática. Há centenas de pessoas que partilham a minha visão e acreditam nas minhas reflexões: uma postura de aproximação tem muito mais hipóteses de chamar a atenção do governo norte-coreano.»



Para Robert Sanda, é possível convencer Kim Jong-il, o Querido Líder, que «o poder no futebol» pode substituir «a corrida pela supremacia nuclear». «Eles têm sido o centro das atenções pelos piores motivos. A repressão interna, o programa nuclear, a pobreza extrema e os abusos aos direitos humanos. Isso tem criado uma vala enorme entre este país e o resto do mundo. A Coreia do Norte vai ao Mundial como se fosse um prisioneiro que está a cumprir pena perpétua e a quem é concedida uma saída precária.»

«Um dia, a Coreia do Norte vai organizar o Mundial»

Em resumo, para Robert Sanda, é «imperativo» que o resto do mundo dê uma demonstração de simpatia ao povo da Coreia do Norte. «Temos o dever de receber bem os jogadores, a comitiva e os adeptos nos estádios da África do Sul. Acredito que a população deste país tem muito para dar ao mundo. Mas ninguém o permite. Nem os seus governantes, nem os governantes dos outros países.»

No final desta curiosa entrevista, Robert Sanda projecta um futuro «optimista» e acredita que «um dia, a Coreia do Norte vai organizar um Mundial de futebol». «Nesse dia, o planeta vai ser o convidado de honra deste país tão misterioso. Espero estar vivo e assistir a isso», sublinhou o clínico nigeriano.