A pedido da Liga, os departamentos médicos dos emblemas do futebol profissional delinearam um plano de ação que define linhas orientadoras para o regresso ao trabalho, quando a Direção Geral da Saúde e o Governo entenderem que tal seja viável, mediante a evolução da pandemia de covid-19.

O documento foi inicialmente preparado por Arnaldo Abrantes, o antigo atleta olímpico que comanda o departamento médico do Estoril, depois desenvolvido também por João Pedro Araújo, do Sporting, e posteriormente debatido com os restantes médicos.

Um plano de ação finalizado no início desta semana, e entretanto distribuído aos clubes, de acordo com informações recolhidas pelo Maisfutebol.

«É um documento meritório, que pode servir de bases para os procedimentos que devemos ter. Mas não é vinculativo. Cada clube adota os procedimentos que entender. Dentro da legalidade, das indicações da Direção Geral da Saúde, cada clube faz aquilo que entender que é melhor para o seu atleta. É uma recomendação, não é uma obrigação», explica João Pedro Mendonça, médico do Nacional e presidente da Associação Nacional de Médicos de Futebol (AMEF), ao nosso jornal.

O plano de ação deixa sugestões de procedimentos para um regresso progressivo, dividido em três fases, sendo que recomenda a realização de testes à covid-19 quando faltarem 72 horas antes do início dos treinos, e depois repetidos na semana de regresso à competição.

Do treino individualizado ao trabalho em conjunto

A primeira fase desta retoma corresponde a «treinos individualizados no campo, de forma a que exista um risco muito baixo de contágio», e durante um período mínimo que, idealmente, seria de sete dias. É recomendado que os jogadores deixem as respetivas casas já equipados, e depois, ao chegar ao local do treino, entrem diretamente para o campo.

No máximo podem estar dois jogadores em campo (cada um na sua metade), na presença de dois treinadores e de um elemento do departamento médico. É recomendada a utilização de máscaras por estes elementos do staff e uma distância mínima de dois metros entre todos os participantes no treino. O documento sugere até que cada jogador tenha a sua própria bola, identificada e higienizada, e que use sempre a mesma.

Com base num treino de aproximadamente 45 minutos, o plano de ação estima que seriam necessárias nove horas para colocar todo o plantel em atividade, no mesmo dia, mas lembra também que alguns clubes têm vários campos, o que podia permitir ter várias duplas a treinar ao mesmo tempo.

Depois, ao fim de uma semana de treinos individualizados, num cenário ideal, os plantéis regressariam aos treinos em conjunto, para uma «mini pré-época», de aproximadamente 21 dias.

Como os clubes têm pelo menos três balneários à disposição para os treinos (equipa visitada, equipa visitante e arbitragem), é dada a indicação para que sejam utilizados os três para os treinos, de forma a que seja respeitada um padrão de um jogador por cada 25 metros quadrados.

O regresso à competição

A terceira fase, ao fim de sensivelmente um mês de treinos, seria o regresso à competição. A fase mais sensível, de resto, ainda que sem público. Isto tendo em conta as deslocações e o contacto com outras equipas, com elementos indispensáveis à organização dos jogos, etc.

Daí que o documento recomende que «o staff de acompanhamento das equipas, nos dias de jogo, deve limitar-se ao indispensável».

O plano de ação sugere ainda que os estágios tenham a menor duração possível, e se possível sejam até substituídos por viagens no próprio dia do jogo.

«Nas viagens de autocarro devem ir apenas os jogadores/staff definido como próximo dos jogadores para essa viagem, devendo os restantes, indispensáveis, deslocar-se em viatura própria. Cada elemento que viaje no autocarro deve sentar-se sozinho num lugar de dois e utilizando uma máscara», acrescenta-se.

O hotel deve estar preparado para receber as equipas neste contexto particular, e a recomendação é que a atribuição de quartos seja individual. Se tal não for possível, então as camas devem estar à distância de um metro, no mínimo. O documento alerta ainda para os cuidados necessários a ter com a partilha da casa de banho, e vai ao ponto de aconselhar o uso das escadas como alternativa ao elevador (mas lembra que não se deve tocar no corrimão). Também o uso do ar condicionado deve ser evitado.

«As refeições no hotel devem ser realizadas em espaços arejados e os jogadores / staff devem comer em mesas com o menor número de pessoas e maior distanciamento possível», refere ainda.

Relativamente às viagens de avião, é recomendado que as equipas «evitem aglomerados» nos aeroportos e «evitem sentar-se nos bancos» destes edifícios.

Isolamento fora da atividade desportiva... e máscaras

Ao abrigo de um regresso gradual, o documento alerta para a necessidade de manter alguns cuidados para reduzir o risco de contágio, mesmo perante o enquadramento competitivo.

O plano de ação recomenda que os jogadores e restantes elementos diretamente ligados às equipas mantenham o isolamento social. Aconselha a suspensão do cumprimento físico, das refeições conjuntas, e até dos banhos e saunas.

A utilização do ginásio deve ser reduzida ao estritamente necessário, pelo que os trabalhos de ativação física e de prevenção de lesões devem ser realizados no exterior, com equipamento individualizado e higienizado, e uma distância mínima de cinco metros entre os elementos. No gabinete médico deve estar um jogador de cada vez.

O documento vai ao detalhe de lembrar que cada jogador deve ter a sua própria garrafa de água.

De referir ainda que o plano de ação traçado pelos médicos dos emblemas profissionais sugere o uso de máscaras em quase todas as situações.

João Pedro Mendonça lembra que «é uma questão controversa», e até assume que tem uma opinião mais próxima daquela que tem sido adotada pela Direção Geral de Saúde.

«Eu acho que devo usar máscara quando existir suspeição de que eu próprio, ou alguém com que esteja a contactar, esteja infetado. Se eu estiver num ambiente em que pense que não exista risco, não devo usar máscara. Eu estou de serviço na urgência do hospital, neste momento, e quando vou à consulta, como não sei quais são o indicadores de quem chega, uso máscara. Mas no gabinete de ortopedia, como as pessoas chegam la após vários procedimentos e inquéritos, eu não uso», esclarece.

A fechar, o documento deixa indicações para um eventual teste positivo à covid-19 entre jogadores ou staff, reforçando a necessidade de colocar esse elemento em quarentena durante 14 dias, e realizar novos testes a todos os membros com quem tenha estado em contacto.

[artigo atualizado às 15h42]