Falar de Cristiano Ronaldo é falar de uma enxurrada de recordes, conquistas, troféus e proezas sem paralelo no futebol português. E é também – ou principalmente – falar de golos. São 463 em provas oficiais seniores, distribuídos por 720 jogos com quatro camisolas: Sporting, Manchester United, Real Madrid e, claro, Portugal. Entre tantos, e tão brilhantes, não é fácil fazer uma lista rigorosa dos mais marcantes. Mas só se fazem 30 anos uma vez na vida, por isso vale a pena fazer o esforço. Este são os 30 golos de Cristiano a que decidimos chamar «nossos».

V eja qual foi o melhor golo de Ronaldo em 2014, segundo os leitores da TVI 24

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A história começa a 7 de outubro de 2002, aos 34 minutos de um Sporting-Moreirense, para a 6ª jornada da Liga. No segundo jogo a titular pelos leões, Cristiano Ronaldo recebeu a meio campo uma bola entregue pelo calcanhar de Toñito, passou em velocidade por três defesas e picou a bola por cima do guarda-redes João Ricardo. O que mais impressiona no seu primeiro golo oficial – o primeiro dos cinco que marcou com a camisola do Sporting – é a naturalidade com que aquele rapaz franzino de 17 anos anunciava o furacão musculado que, a partir de 2007, teria a Europa a seus pés. Nesse mesmo jogo, Ronaldo consumaria o primeiro bis da carreira, cabeceando na pequena área um livre de Rui Jorge. Mas foi esta arrancada a dar um começo perfeito à lenda.



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Já não é fácil lembrá-lo, mas houve uma altura em que Cristiano Ronaldo não tinha grande relação com o golo. No seu primeiro ano em Old Trafford marcou apenas seis em 40 jogos. E foi preciso esperar pela nona partida oficial com os «red devils» para que chegasse o primeiro. Foi diante do Portsmouth, a 1 de novembro de 2003, cinco minutos depois de ter entrado como suplente. O livre directo e a camisola 7 faziam o narrador recorrer à comparação com Beckham. Nessa altura ainda era um elogio ao português. Em breve passaria a ser elogio a Beckham.



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O sexto golo de Cristiano Ronaldo na época de estreia foi o primeiro marcado por um português numa final da Taça de Inglaterra. A 22 de maio de 2004, em Cardiff, no Millenium, a nova coqueluche do United coroou uma atuação imperial, abrindo o marcador aos 44 minutos. Na altura, o goleador de serviço ainda era Van Nistelrooij, que bisou nesse jogo. Mas Ronaldo foi a estrela do show, no dia do seu primeiro troféu em Inglaterra. Veja por quê.





4 e 5
Se Ronaldo esperou nove jogos pelo primeiro golo no Man. United, a estreia a marcar na seleção surgiu apenas à oitava tentativa. E não foi um momento feliz: entrado ao intervalo diante da Grécia, com a equipa a perder por 2-0, marcou de cabeça, ao cair do pano, o golo de honra português, que não atenuou o impacto de um desaire a abrir o «nosso» Euro. Estávamos a 12 de junho de 2004, e nos 18 dias seguintes Cristiano viria a tornar-se titular indiscutível na equipa das quinas. E quando, a 30 de junho, marcou de cabeça, diante da Holanda, o golo que abriu as portas da final, o seu festejo sem camisola acabou de torná-lo um ícone global.



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A saída de nomes históricos da seleção, após o Euro-2004, acelerou a passagem de Cristiano Ronaldo a referência da seleção. Diante da Rússia, a 13 de outubro de 2004, em Alvalade, depois de um embaraçoso empate no Liechtenstein, o avançado ajudou a limpar a imagem dos homens da quinas contribuindo com dois golos para uma goleada (7-1) que correu mundo. E o seu segundo, o quarto de Portugal, foi uma autêntica obra de arte:



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A 7 de setembro de 2005, Cristiano Ronaldo jogou na Rússia, pela seleção portuguesa, poucas horas depois de saber que o seu pai tinha falecido. O empate, 0-0, deixou Portugal a um passo do Mundial. E esse contexto ajuda a explica o ar tenso e aliviado com que o número 17 da seleção festejou, de joelhos no chão, o seu primeiro golo em campeonatos do Mundo. Foi a 17 de junho de 2006, em Frankfurt, com um penálti diante do Irão. Duas semanas mais tarde, outro penálti, no desempate com a Inglaterra, permitiria uma dedicatória já sem margem para dúvidas, com o dedo apontado ao céu: «Tu aí!»



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O incidente entre Ronaldo e Rooney, em pleno Mundial, fez temer pela viabilidade da dupla maravilha em Manchester. Mas a 20 de agosto de 2006, no primeiro jogo da temporada, diante do Fulham, o quarto golo dos «red devils», construído pelo inglês e finalizado pelo luso e festejado de forma efusiva por toda a equipa, foi a demonstração mais evidente de que o mal-estar tinha sido ultrapassado. Após três anos de jejum, o Manchester United tinha acabado de salvar a fórmula para voltar a ser campeão.

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Por incrível que pareça, o homem que apontou, para já, 72 golos na Liga dos Campeões, teve de esperar quase quatro anos e 27 jogos para se estrear a marcar na competição. E não foi um jogo qualquer: a 10 de abril de 2007, Cristiano descobriu diante da Roma o caminho das balizas na Champions e nunca mais parou. E, tal como tinha acontecido na estreia a marcar pelo Sporting, o enguiço foi logo quebrado com um bis, num escandaloso 7-1 que pôs o Man. United nas meias-finais. Os golos? Nada maus, para não variar...

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A 19 de setembro de 2007 Cristiano Ronaldo fechou um ciclo e voltou ao berço, para, pela primeira vez, defrontar o Sporting. Em Alvalade, foi uma cabeçada sua, a cruzamento de Wes Brown, a ditar a derrota dos leões. Mas os braços erguidos para o público, em jeito de desculpas, valeram-lhe o perdão e, mais tarde, o aplauso dos adeptos.



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As horas extra depois dos treinos, no ginásio ou no relvado, a trabalhar os músculos ou as bolas paradas, fizeram de Ronaldo um dos melhores especialistas mundiais em livres diretos. A prova chegou a 30 de janeiro de 2008, com este livre ao Portsmouth. Simplesmente perfeito, e com a marca registada do remate em ziguezague, que os ingleses rapidamente batizaram como «tomahawk», em homenagem aos mísseis com o mesmo nome.





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Há quem diga que a melhor cabeçada de sempre aconteceu a 1 de abril de 2008. Não seremos nós a desmenti-los. Este monumento já foi descrito em pormenor, aqui. Pouco mais há para dizer, a não ser: «maravilhem-se».



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Tirando Ronaldo da ala e dando-lhe liberdade para ocupar qualquer posição na frente, Ferguson acordou o monstro: na temporada 2007/08, pulverizou o seu recorde de golos, que passou de 23 para uns inacreditáveis 42. O 42º e último foi marcado no maior dos palcos, com o mundo inteiro a ver. A 21 de maio de 2008, em Moscovo, na primeira final de Champions entre equipas inglesas, já não havia muitas dúvidas sobre o facto de Cristiano Ronaldo ser o jogador do ano. A cabeçada vitoriosa diante do Chelsea e de Petr Cech confirmou essa evidência – e ajudou a esquecer o penalti falhado, num desempate que, do mal o menos, acabou por sorrir aos «red devils».



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A expectativa de um super-Ronaldo no Europeu de 2008 acabaria por ser traída por uma lesão no pé, que o limitou no decisivo jogo com a Alemanha. Mas, antes disso, a vitória lusa sobre a Rep. Checa (3-1), a 11 de junho permitiu um vislumbre do que poderia ter sido, num mundo perfeito. Um recital, com participação direta no primeiro e terceiro golo e assinatura no segundo, com um belo remate rasteiro a bater Petr Cech (outra vez) e a valer-lhe o título de homem do jogo.



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Quartos de final da Liga dos Campeões, 2008/09. O Manchester United defende o título perante um FC Porto com muita personalidade, que arranca um empate 2-2 em Old Trafford. A segunda mão joga-se a 15 de abril, no estádio do Dragão, e Ronaldo só precisa de seis minutos para arrancar um dos melhores remates da carreira
a 35 metros da baliza de Helton.



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Com rumores cada vez mais persistentes sobre a transferência iminente para Madrid, Cristiano Ronaldo fechava o ciclo em Manchester levando novamente o clube a uma final da Liga dos Campeões. Em Londres, diante do Arsenal, foram dois golos seus a decidir a vitória na segunda mão das meias. O primeiro, um livre direto a 40 metros da baliza de Almunia, figura entre os mais espetaculares da sua carreira.



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O rótulo de futebolista mais caro de todos os tempos, e a legião de galácticos que o aguardava no Bernabéu, faziam com que os primeiros tempos de Cristiano Ronaldo no Real Madrid fossem especialmente escrutinados. Por isso, foi com alívio que, a 29 de agosto de 2009, aos 35 minutos do seu primeiro jogo na Liga, dispôs de um penálti para quebrar o enguiço, diante do Corunha. Sete golos nos cinco primeiros jogos, e 33 em 35 no final dessa época, ajudariam a acabar de vez com qualquer dúvida.



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Uma temporada sem troféus e Madrid e o peso das expectativas fez com que Cristiano Ronaldo chegasse ao seu segundo Mundial com uma pressão extra, acentuada pelos 12 jogos sem marcar na seleção, ao longo de ano e meio. A bola na trave no primeiro jogo, com a Costa do Marfim, não ajudou a tranquilizar os espíritos, apesar da metáfora do ketchup. Finalmente, a 21 de junho de 2010, com Portugal a vencer os frágeis norte-coreanos por 5-0, a tampa caiu do frasco e, com carambola pelo meio, Cristiano quebrou o enguiço, marcando o seu único golo na África do Sul. Entre Europeus e Mundiais, a quarta fase final consecutiva a marcar.




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Com o melhor Barcelona da história a impedir que o seu sucesso individual em Espanha se traduzisse em títulos, Cristiano Ronaldo e o Real Madrid, com José Mourinho aos comandos, conseguiram a primeira brecha na muralha a 20 de abril de 2011, em Valência. Aos 103 minutos, a cruzamento de Di María, Ronaldo surgiu ao segundo poste para concluir, de cabeça o golo que lhe deu o primeiro troféu em Espanha. Afinal, o Barça de Guardiola não era invencível, como tinha chegado a parecer.



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Os 42 golos pelo United em 2007/08 pareciam uma marca inatingível, mas a máquina ofensiva do Real e a rivalidade com Messi fizeram disparar os registos. Em 2010/11, CR7 superou pela primeira vez a barreira das cinco dezenas (53), na época seguinte foi ainda mais longe: 60 golos em 55 jogos pelo Real. Um dos mais memoráveis valeu a vitória por 1-0 em Vallecas, a 26 de fevereiro de 2012, de calcanhar. Foi assim:



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Depois de dois anos a ver o Barcelona festejar o título, a 21 de abril de 2012 Cristiano Ronaldo chegou ao Camp Nou em condições de escrever uma história diferente. Foi exatamente o que fez, aos 73 minutos, marcando o golo de uma vitória merengue (2-1) que, na prática, valeu o campeonato. E nascia nessa noite um festejo com patente: «calma, eu estou aqui!».





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Uma derrota com a Alemanha, a abrir, e uma vitória sofrida com a Dinamarca, no jogo seguinte, tinham deixado Portugal entre a espada e a parede no Euro 2012. No jogo com a Holanda, a 17 de junho, Cristiano Ronaldo, recém-sagrado campeão de Espanha, tinha os olhos do futebol mundial pousados em si. Os dois golos que puseram Portugal nos quartos de final foram a melhor das respostas, prolongada depois com mais um tento decisivo diante dos checos. Mas foi esta finalização para o 2-1, soberba de frieza, a mostrar novamente o melhor do capitão de Portugal, num momento decisivo.



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Depois de ter marcado ao Sporting com a camisola do Manchester United, Cristiano Ronaldo voltou a mostrar, à custa dos ingleses, que não mistura sentimentos com eficácia e profissionalismo. A 13 de fevereiro de 2013, na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, marcou o único golo merengue (1-1) diante da sua antiga equipa, numa daquelas cabeçadas em que o tempo parece suspenso da sua impulsão. Mas o momento decisivo da eliminatória aconteceu a 5 de março quando, depois de ter sido ovacionado pelos seus antigos adeptos, marcou o golo da reviravolta na eliminatória (1-2) deixando os «red devils» pelo caminho.





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A entrada em cena de Cristiano Ronaldo na Liga dos Campeões 2013/14 anunciava algo de grandioso. A 17 de setembro de 2013, o seu hat-trick em Istambul, diante do Galatasaray, mostrava-o com um apetite insaciável. E a facilidade com que passou por três adversários e bateu Muslera com um míssil cruzado, fazendo o 1-6 já em período de descontos, não podia deixar de inquietar os adversários. Com golos assim, Ronaldo prometia recordes e o Real Madrid cheirava a «décima»...


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Conjugando eficácia, importância e espectacularidade, é difícil não apontar o dia 19 de novembro de 2013 como o da maior proeza na carreira de Cristiano Ronaldo, até agora. Depois do golo solitário na Luz, que deixava Portugal em vantagem sobre a Suécia, no play-off de acesso ao Mundial do Brasil, o seu recital em Solna foi num crescendo de irrealidade, a exemplo dos seus três golos, cada um melhor do que o outro, até ao 2-3 libertador, para a consagração de um mosntro.



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Em condição física precária, e com a final da Liga dos Campeões, em Lisboa, no horizonte, Cristiano Ronaldo limitou os seus contributos ao Real Madrid na decisão do título espanhol, que acabou por fugir para o Atlético. O seu último golo na prova foi também o mais vistoso: a 4 de maio de 2014, numa conclusão de calcanhar, a passe de Di María, evitou a derrota merengue diante do Valencia, fixando o 2-2 com um toque de kung-fu.



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Longe da melhor forma, limitado por uma lesão que viria a deixar marcas no seu Mundial, Cristiano Ronaldo não deixou de assinalar a segunda vitória na Liga dos Campeões, décima para os merengues, com um golo na decisão diante do At. Madrid. De penálti, é verdade, e numa altura do prolongamento em que tudo estava já decidido. Mas o registo para a história foi cumprido, neste regresso a Lisboa, em 24 de maio de 2014. Segundo final ganha de Champions, segunda final a marcar. E, principalmente, um impressionante recorde de 17 golos marcados numa só edição da maior prova internacional de clubes.



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A encerrar um Mundial 2014 frustrante, com Portugal encaminhado muito cedo para a eliminação, depois da goleada diante da Alemanha e do empate com os Estados Unidos, faltava a um lesionado Cristiano Ronaldo cumprir os mínimos, marcando o «seu» golo na prova. Foi o que aconteceu a 26 de junho de 2014 assegurando a magra vitória sobre o Gana (2-1) numa tarde em que poderia ter assinado mais três ou quatro. Foi o seu nono golo em seis fases finais consecutivas com a seleção portuguesa, o terceiro em outros tantos Mundiais.



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A marca dos campeões é a frequência com que resolvem situações complicadas. E se era complicada a situação de Portugal, na estreia competitiva de Fernando Santos como selecionador! A derrota com a Albânia, na estreia, tinha complicado o objetivo do apuramento para o Euro-2016, e a visita a Copenhaga, a 14 de outubro podia deixar as contas ainda mais ameaçadas. Mas, no último minuto dos descontos, Quaresma inventou espaço para um cruzamento na direita, e o recordista-capitão apareceu, mais alto do que todos os outros, a marcar o seu 51º golo com a camisola das quinas e a dar uma vitória que mudou radicalmente o cenário. Um golo digno de um gigante.



30
Com golos marcados em quase todos os grandes palcos do futebol europeu, são raros os estádios que Cristiano Ronaldo não batizou com um golo dos seus. Um dos últimos a cair foi Anfield: o avançado português nunca tinha marcado aí, nos anos do Manchester United. As contas foram acertadas em 22 de outubro de 2014, quando abriu caminho à vitória do Real Madrid sobre os «reds» (3-0). Numa carreira pontuada por inúmeros golos em potência, este foi de uma requintada subtileza, tanto na construção como na finalização. E a história continua...