«É um sacrilégio dizer isso!», alertou, em tempos, um amigo português a Laszlo Bölöni, treinador do Sporting responsável por colocar Cristiano Ronaldo em cena no futebol profissional, dentro e fora de portas. O romeno comparava, então, o jovem madeirense aos históricos Eusébio e Figo, dois dos melhores jogadores do mundo.
«Uma vez, em Portugal, comentei que Cristiano Ronaldo podia significar mais para os portugueses que Eusébio e Figo. O meu amigo respondeu-me: Cuidado! São símbolos nacionais!», contou, sem receio, Bölöni ao Maisfutebol. «E não só acredito que poderá igualar Eusébio e Figo, como mesmo ultrapassá-los. Tem todas as qualidades de um grande jogador. Para mim, hoje, é o melhor do mundo», insistiu.
Hoje é terça-feira, 5 de Fevereiro de 2008. O 23º aniversário de Cristiano Ronaldo, comemorado, pelo segundo ano consecutivo entre a Selecção A, que representa desde os 18, tal como o Manchester United, poderosa equipa da liga inglesa. Ascensão que «não!» surpreendeu o técnico romeno e que, apenas, reforçou a sua crença. «Para mim falta-lhe, essencialmente, uma coisa para atingir a dimensão que Figo e Eusébio têm para os portugueses: um campeonato pela Selecção Nacional. É preciso dar o pão ao povo, costuma dizer-se. Cristiano não joga em Portugal, ao contrário da carreira que Eusébio e Figo construíram antes de irem para o estrangeiro. Claro que ele tem imensas outras coisas a fazer, como ganhar títulos para confirmar o seu imenso talento e vai consegui-lo.»
E por acreditar no sucesso do madeirense, o actual treinador do Al-Jazira de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, não tem conselhos para dar ao miúdo que um dia orientou: «Ele sabe bem o que tem a fazer. Por isso, em vez de aconselhar, só lhe posso desejar que passe muitos anos sem lesões, porque o resto vai conseguir sozinho.»
«Impedi-lo de expressar o seu talento seria um grande erro»
O reconhecimento de Cristiano Ronaldo é recíproco, não na mesma proporção, mas quanto baste para colocar Bölöni num pedestal. «Foi quem me lançou no futebol profissional. Não sei, nem ninguém sabe, como teria sido a minha carreira sem ter passado pelas mãos dele, mas foi ele que me chamou à equipa principal quando tinha apenas 16 anos», escreveu o avançado, no livro Momentos, em 2007.
Assim não pensa, contudo, o antigo técnico e campeão nacional pelo Sporting. «Não acredito [que tenha sido decisivo]. O seu talento é imenso e isso é algo que um treinador não pode controlar. Podemos trabalhar aspectos físicos, tácticos, e foi muito, muito, o trabalho com ele, pois exagerava com a bola, era muito individualista», lembrou.
Mas os ensinamentos de Bölöni foram, realmente, «decisivos», na opinião do atacante, e obrigaram-no a crescer dentro de campo. Tarefa que não foi conduzida de ânimo leve, explicou o romeno: «Quando se trabalha com um jovem de 16/17 anos, muito talentoso, não podemos stressar, pois ele tem de compreender as regras. Não aceitei todas as suas exibições. Por vezes, fui muito severo com ele, devido aos exageros. Mas, ao mesmo tempo, é preciso ter cuidado, porque matar a melhor coisa que ele tem, que é o drible, impedi-lo de expressar o seu talento seria um grande erro da minha parte.»
Preocupação na altura acrescida face à fragilidade física do atleta. «Na primeira observação, tinha ele 16 anos, vi um jogador com muito talento, com larga capacidade de progressão. O primeiro ano foi difícil para ele, por causa do corpo franzino, precisava de trabalho específico de musculação, mas percebi logo que não o podia deixar sair. O segundo ano já foi mais fácil, integrado permanentemente no grupo e jogando várias partidas oficiais. No início teve medo, mas foi capaz de controlar-se. Rapidamente se percebeu que não tinha só talento e qualidade física, mas também inteligência», recordou, com satisfação.