Em agosto de 2003 a notícia era o interesse do Barcelona em Cristiano Ronaldo.
Os catalães tinham contratado Quaresma e estavam de olho na outra jóia leonina. Nesse sentido, Txiki Beguiristain disse ao Mundo Deportivo que vinha a Lisboa assistir à inauguração do Alvalade XXI e ver Ronaldo frente ao Man. United.
E veio: no dia 7 de agosto esteve nas bancadas de Alvalade a observar Cristiano Ronaldo e depois ainda se reuniu com José António Camacho para falar do benfiquista Tiago.
Ora por isso foi uma surpresa, ou pelo menos meia surpresa, quando a 8 de agosto o mesmo Mundo Deportivo anunciou que o Manchester United tinha apresentado uma proposta pelo jovem português. Dois dias depois, a 10 de agosto, Cristiano Ronaldo já não defrontou o Tottenham, supostamente por estar lesionado, no dia 11 de janeiro de manhã os dirigentes do Sporting ainda garantiam nos jornais que o jovem não ia sair, mas depois de almoço soube-se que já estava em viagem para Manchester.
Era público que o United tinha o jogador debaixo de olho, tal como o Real Madrid, o Valencia e o Inter Milão, mas era do Barcelona que se falava.
Jorge Mendes chegou a referir mais tarde, aliás, que todos os clubes queriam contratar Ronaldo, mas deixá-lo no Sporting mais um ano. Alex Ferguson, porém, ficou convencido com a exibição na inaguração do novo estádio, falou novamente com o empresário, revelou que queria Ronaldo de imeditato e garantiu que ele iria fazer pelo menos metade dos jogos.
A partir daí as coisas aconteceram muito depressa e quatro dias depois o jogador chegou a Inglaterra, fez exames médicos e assinou contrato por cinco anos. O Sporting recebeu 15 milhões de euros pela transferência da estrela de 19 anos.
A transferência caiu mal em Alvalade, tanto junto dos adeptos como da própria equipa, mas José Eduardo Bettencourt sublinhou que não podia fazer nada: o jogador quis sair.
«As negociações com o Manchester apontavam para a possibilidade de o jogador ficar este ano em Portugal, como sempre se falou. Foi sempre essa a nossa intenção, como garantimos ao engenheiro Fernando Santos. As circunstâncias posteriores, envolvendo a vontade do jogador, é que determinaram esta alteração», referiu o então presidente da SAD.
Memórias de um miúdo extraviado, que era difícil apanhar em casa
Ora a TVI acampanhou Cristiano Ronaldo na viagem para assinar pelo Manchester United e ouviu o português confessar, à saída da assinatura de contrato, que estava feliz e muito orgulhoso por assinar por aquele que considerava ser «o melhor clube do mundo».
Ainda sem os músculos que um ano depois impressionariam o mundo, com os dentes ligeiramente desalinhados e com duas madeixas loiras no cabelo que estavam longe de ser uma tendência de moda, Cristiano Ronaldo mostrava dificuldades em esconder o sorriso.
«Eles já vinham a observar-me há algum tempo, mas penso que a principal razão foi o jogo com o Manchester. Gostaram de mim e do meu valor. Foi um jogo que os marcou. No final do jogo o treinador Alex Ferguson e o Rio Ferdinand falaram comigo, disseram que iam começar em negociações com o Sporting e que contavam comigo para vir para o clube.»
Questionado se já se imaginava rico e famoso, Cristiano Ronaldo fez um sorriso tímido.
«Não... Eu deixo essas coisas à parte.»
Curiosamente no mesmo dia a TVI foi ao bairro social na freguesia de Santo António, nos arredores do Funchal, conhecer as raízes de Ronaldo e acabou a conversar com o pai.
Dinis Aveiro revelou que a vida do craque era jogar à bola nos caminhos de terra batida ou em qualquer lugar onde houvesse espaço. A maior parte das vezes descalço.
«Era um extraviado, apanhá-lo em casa era difícil. As irmãs cansavam-se à procura dele.»
Em dez anos fez-se jogador, encantou o mundo e transferiu-se para o Manchester United. Tornou-se, por fim, rico e famoso.
«Máquina do tempo» é uma rubrica do Maisfutebol que viaja ao passado, através do arquivo da TVI, para recuperar histórias curiosas ou marcantes dos últimos 30 anos do futebol português.