Filipe Caetano, em Londres

No norte de Londres, mais propriamente nos arrabaldes da capital inglesa, a paixão pelo futebol não é menor do que noutros locais da metrópole. Aqui canta-se a plenos pulmões, ama-se a equipa, compra-se lugar anual e odeia-se todos os outros rivais locais. Neste caso, o Arsenal e o Chelsea, assim como os seus treinadores Wenger e Mourinho.

Villas-Boas ainda não é rei em White Hart Lane, mas já ganhou o respeito dos Spurs, que acreditam no seu poder de organização e ambição ofensiva. Aqui ninguém arrisca colocar a equipa no lote de principais candidatos à luta pelo título, mas raramente é desperdiçada a oportunidade para lembrar que o Tottenham vai na frente.

Assistir a um jogo em White Hart Lane não é tão especial como fazê-lo em Old Trafford, por exemplo. O estádio é relativamente pequeno - o clube tem projetada uma renovada estrutura -, os adeptos não são os mais efusivos de Inglaterra, mas na perspetiva portuguesa houve este sábado a interessante oportunidade de observar os comportamentos de André Villas-Boas e José Mourinho nos bancos de suplentes, colocados lado-a-lado, apenas com uma linha a separá-los.

Cá fora, ainda antes do jogo, vendiam-se as tradicionais camisolas e cachecóis, bebia-se cerveja e almoçava-se hamburgueres e cachorros quentes, porque o jogo foi às 12:45. Casa cheia, com os últimos bilhetes a serem vendidos a 150 libras no mercado negro.

Ambiente tranquilo apenas quebrado pela chegada de cerca de uma centena de adeptos mais violentos do Chelsea, protegidos por um gigantesco cordão policial, enquanto do outro lado os da casa gritavam: we hate Chelsea, fuck off Mourinho.

Equipas em campo, cumprimento frio entre os técnicos portugueses e muita expetativa. O golo de Sigurdson fez explodir de alegria os Spurs, que confirmavam ali o bom arranque de campeonato. Afinal parece ser possível sonhar. Outra vez Mourinho. Os adeptos viram-se para ele, dizendo que aqui não vai conseguir vencer. José continua imperturbável e vê Paulinho rematar ao poste. Villas-Boas desespera, porque sabe que podia ganhar o jogo naquele lance.

Intervalo morno, apenas para comentar as principais incidências, que não foram muitas, e como o Chelsea estava a jogar mal. O segundo tempo contou outra história. Com Mata em campo os blues cresceram e o empate surgiu naturalmente, num daqueles movimentos clássicos de John Terry. Quantos golo terá o capitão marcado assim? É certo que não esteve particularmente bem no golo sofrido, mas quando consegue momentos destes é difícil criticá-lo.

Mourinho e Villas-Boas continuavam a dar indicações para dentro de campo, sem cruzarem uma única vez os olhares. André lamenta o segundo golo sofrido esta época e aposta em Defoe, para euforia dos adeptos, que vêem no avançado o grande ídolo e esperança. Defoe haveria de ter oportunidade para rematar, mas o resultado estava feito.

A dez minutos do final aquele lance que veio manchar o jogo. Vertonghen simulou uma agressão de Torres e levou o árbitro a expulsar o espanhol. Mourinho não gostou, era demasiado evidente que nada se tinha passado, mas alguns momentos depois já estava a trocar piadas com os adjuntos portugueses de Villas-Boas, possivelmente dizendo que desta vez tinham conseguido empatar, mas com ajuda do árbitro.

O empate não prejudica ninguém e no final o ambiente entres as duas equipas técnicas foi absolutamente amigável. André e José trocaram palavras, combinaram alguma coisa e Rui Faria ainda segredou algo ao ouvido de Villas-Boas, o que lhe arrancou um sorriso. No primeiro duelo entre os dois treinadores da moda ninguém saiu vencedor, mas a guerra só agora começou.