Vreme iza nas,

vremene ispred nas,

vreme iza nas,

vremene ispred nas.


[ O tempo atrás de nós,

o tempo à nossa frente,

o tempo atrás de nós,

o tempo à nossa frente.
]

A rouquidão controlada de Momcilo Bajagic no refrão. Vreme iza nas, vreme ispred nas. Versos simples, que nos metem a todos pelo meio, de uma ponta à outra da vida. Banda sonora. Acompanhamento. Uma canção. E uma bola dividida a meio-campo, até que os Instruktori, sempre com Bajaga a liderar, explodem em solos de rock de garagem.

Humilde. Tímido. Aquele jeito de correr em passo acelerado, como se quisesse ir longe sem sair do mesmo lugar. Bola colada ao pé, finta curta, lenta e sempre eficaz.

- Quantos de nós fomos assim no alcatrão, mas em muito pior?

- E nós fazíamos exactamente da mesma forma, não era?


Empurrando o rebanho para a frente, de cajado ao ombro, orientando-o. No meio de tudo, no centro de tudo, mas avesso à vertigem dos outros, à velocidade estonteante que acabará por levá-los todos ao sucesso. O tempo atrás de nós, o tempo à nossa frente. Matic gosta de pensar, saborear.

Ao lado, o fiel amigo. Empurrando todos, de um lado ao outro do campo, no prado. Impedindo que saiam desgovernados pelas faixas, levando-os para perto da baliza. Aproximando-os do destino, a cada minuto.

Não é ofensa, nem pensem nisso. É elogio. Ele, perro argentino de pastor, alarga o seu raio de acção a toda a cancha. O sérvio é o do cajado, o da altivez. O que gosta de absorver a brisa na cara, para que se refresquem as ideias. Aquele que talvez também seja poeta em part-time, quando olha para o horizonte. O tempo à nossa frente!

Durante dez minutos, Matic foi o pior pastor do mundo. No Saint James Park, deixou as ovelhas tresmalharem-se. Perdeu-as. Perdeu o discernimento. Perdeu-se. Todos, ao mesmo tempo, pareciam encurralados, sem saber o que fazer, para onde ir.

Naquele golo estranho, deixou a porta escancarada ao lobo inglês, esfomeado, que sempre deixou bem claro que ainda queria mais. Começou a duvidar de si. Dos passes laterais que não falha, dos momentos em que decide levar a bola e aparecer mais perto da área. O desgosto toldou-lhe o raciocínio e o rebanho esteve perto de ser perder por completo.

Esquece, Nemanja! Ouve o que diz o poeta-roqueiro. Como era mesmo? «O tempo atrás de nós, o tempo à nossa frente.» Leva a bola! Conduz o teu rebanho. Tu és o maior. O teu tempo está à tua frente!



«Era capaz de viver na Bombonera» é um espaço de opinião da autoria de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol. Pode segui-lo no FACEBOOK e segui-lo no TWITTER

Luís Mateus usa a grafia pré-acordo ortográfico.