A pergunta é uma provocação, Thomas! Não leves a mal. Já sabes como nós, franceses, somos. Sim, chauvinistas, mas não era disso que estava a falar. Tu sabes! Todos gostamos de provocar. Está-nos no sangue. Mas olha, digo-te isto sem reservas: não encontro neste Campeonato do Mundo um alemão mais alemão do que tu. És igualzinho ao Karl-Heinz Rummenigge, e ele a tantos outros que vestiram a vossa camisola, porque se o encontrasse na rua diria imediatamente que era alemão, antes que tivesse tempo de proferir um ich. Por isso, não percebo! Qualquer estrangeiro, estrangeiro do vosso ponto de vista para que fique claro, conhece-vos de uma ponta à outra. Organizados, claros, objetivos, práticos e frios. Frios no sentido de que são impediosamente diretos. Arrogantes. Acham que sabem tudo e não gostam de coisas dúbias. Sim, não gostam de coisas dúbias, dissimuladas. São, repito, impiedosamente diretos. E volto a dizer que não percebo. Como é que se percebe ? Que raio foi aquilo frente à Argélia, rapaz ? Isso é coisa de asiático, Thomas. De alemão é que não é! Nunca foi! Simular uma queda para distrair a barreira e o resto da defesa ? E, para um povo tão perfecionista, não podia ter corrido pior. Finges que vais rematar e cais? Não tropeças. Não escorregas. Não esbarras em mais ninguém de carne e osso. Simplesmente cais. Não sei se já viste as imagens, mas até a queda dói de tão direta que é. Tão clara. Tão objetiva. É para marcar golos ? Marcas! É para cair ? Cais! Segues o caminho mais rápido e eficaz entre dois pontos. Mas tu, se bem me lembro, gostas de te chamar intérprete e não causador do espaço. Ou do riso. Que diz Van Gaal entredentes depois disto ? Ele que jurava que tu com ele jogavas sempre. Tu que nasceste para marcar golos. Muitos. Variados. De todos os tipos e feitios. Tu que herdaste mais do que a nacionalidade do Rummenigge. Deixa isso para os outros, OK ? Ou já sabes que serei eu que me vou atirar para o chão a rir, agora que te tiver pela frente.

«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.  É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na  MFTotal. Pode segui-lo no  Twitter ou no  Facebook   .