Então, como foi o primeiro dia?

Foi intenso.

Tanto para fazer e o tempo a passar. Escrever, editar, preencher os campos no backoffice, essa entidade que passaria a consumir horas, dias das nossas vidas. Não dá. Foi abaixo. Tenta agora, espera, agora sim. Escrever mais, repetir tudo outra vez. E esperar. Tínhamos tanto para mostrar. A entrevista com vídeo a Rui Costa, tão inovadora como complicada de pôr no ar, o João Pinto que tinha acabado de rescindir com o Benfica e nós com a história para contar, a seleção em viagem para o Euro 2000 naquela tarde, o especial do Sporting campeão, as biografias que preparámos, o Nuno Madureira em Madrid a entrevistar o Jorge Valdano. E ainda ninguém via. Agora sim. Não, ainda não. Eu consigo. Eu não.

Quando finalmente o Maisfutebol ficou online ainda era 5 de junho, por pouco. Não havia smartphones nem redes sociais, não houve naquele open space de um primeiro andar da Mediacapital a tentação de registar o momento e provavelmente foi melhor assim, ninguém ali estaria muito apresentável.

Ao primeiro dia seguiram-se muitos primeiros dias, feitos de um entusiasmo criativo e teimoso e de doses iguais de frustração e alívio, de cada vez que a coisa, enfim, resultava. Era um mundo para criar. Quisemos sempre chamar-lhe jornal, porque era. Mas também não era, quando não havia gráfica para imprimir nem distribuição para o fazer chegar aos leitores, mas uma «estrutura» que não víamos e não dominávamos e de que dependia aquele punhado de gente que aprendia enquanto fazia. Dos jornalistas à equipa técnica, à procura de soluções para tornar real cada nova ideia. Jogos ao minuto, chats com jogadores, manchetes atualizadas em tempo real, que implicavam para o designer uma nova imagem e novo texto e novo upload a cada golo. Como diz o Luís Sobral, andámos a inventar a internet na forma de uma coisa a que chamámos jornal.

Há 22 anos não era tudo novo só para nós, era também para cada novo potencial leitor que se ligava à net. Primeiro através da linha de telefone, o dial up com o som da ligação a aumentar a expectativa do momento em que finalmente estaríamos na rede. Os CD’s que ajudavam na instalação, a banda larga, só muito mais tarde o wireless. O digital não era móvel. Nos estádios, no início, tínhamos lugar marcado e uma tomada telefónica com o nome do Maisfutebol e só podíamos esperar que o senhor da PT de serviço não tivesse aproveitado para fazer uma pausa no momento exato em que percebíamos que aquilo não funcionava.

Era o tempo em que fazia sentido escrever uma notícia a dizer como tinha sido acompanhado o título do Sporting na net. Ou outra a ver os resultados estranhos da pesquisa por Sporting Campeão nos arcaicos motores de busca de então. Quando um tal de Google aparecia no fim da lista.

Era o tempo em que faziam sentido títulos como «Beto liga-se à net», a dizer que o defesa do Sporting e da Seleção ia lançar um site oficial – para que conste, dois dias antes de David Beckham. Pelo menos nas notícias do Maisfutebol.

Não havia redes sociais, mas já havia quem aproveitasse o potencial da net para comunicar diretamente com os fãs. Rui Costa já tinha site oficial e foi lá que anunciou aos adeptos a saída da Fiorentina. E havia, pelo menos no Benfica, uma forma muito à frente de os adeptos manifestarem as suas opiniões, na maioria muito iradas: o fórum do próprio site oficial do clube. A sério.

Naquele Europeu memorável que acompanhou os primeiros dias do Maisfutebol tivemos crónicas de José Mourinho, de Jesualdo Ferreira e do árbitro Vítor Pereira. Também tivemos Capucho a responder às perguntas que os leitores mandavam por mail. E Beto a escrever para nós. Numa das crónicas, ele contava como tinha passado a manhã a navegar na net e a ler os faxes que recebia em Ermelo. Faxes, alguém?