Não sou nenhum Obdulio Varela. Sou o capitão surfista, um tipo hang loose que gosta de fazer tudo na vida com um sorriso. Me desculpem. Me desculpem. Não era nascido, mas vi imagens. Vi aquelas imagens que toda a gente quis esquecer. Não aprendemos nada com 50! Com o célebre Maracanazzo. E até tivemos por aí, nas ruas, um tipo a vestir-se de fantasma para nos meter medo. Não aprendemos com o excesso de euforia, não aprendemos na forma como se constrói uma equipa. Eu não aprendi. El Jefe sofreu um golo, pegou na bola e levou-a calmamente para o meio do campo. Por que é que eu não me lembrei disso? Por que é que eu não peguei na bola e fui ter com os meus colegas? O Thiago teria feito o mesmo? Talvez não! Mas o Obdulio fez. Era só lembrar-me do que toda a gente quis esquecer. O que é que um capitão faria? Depois daquele golo, nada ainda estava perdido. Mas, logo a seguir, não havia toalha para atirar ao chão que impedisse o massacre. Não havia nada a fazer da linha, tudo aconteceria tão depressa. Só eu podia ter feito alguma coisa. Pegava na bola, falava com os meus companheiros e levava-a até ao meio-campo. Jogávamos em casa. Tínhamos a força do povo, só precisávamos de acalmar os nervos. Sim, o Marcelo e o lado direito. Sim, o Fernandinho e o Luiz Gustavo e aquele trio assustador com Kroos, Khedira e Schweinsteiger. Sim, faltou-nos um treinador, alguém que pensasse no que ia acontecer se não fosse tão casmurro. Precisávamos de alguém que pensasse nas consequências, que tentasse evitar o descalabro. Mas só tínhamos o tio Scolari, que é... um tipo porreiro. Sei que as bancadas não vão engolir-me pelos golos que marquei. Sei que a garra vale muito para essa gente. Sei que viram que lutei. Sei que viram que suei. Já pedi desculpa, mas nem mil vezes mais será suficiente. Nunca será suficiente. Mas, por favor, deixem o Fred em paz. Ele jogou o melhor que sabe. Tentou. No meio do nosso zero, continuou a trabalhar. Caímos todos, temos de nos levantar todos, ao mesmo tempo. Não é o fim do mundo, apesar de parecer. Não, não é o fim do mundo! O que é que um capitão diria agora? O que dirias agora, Jefe?

«Agora que já esqueceram o Barbosa» (aka   «Não crucifiquem mais o Barbosa») é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.  É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo» . O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na  MFTotal. Pode segui-lo no   Twitter  ou no   Facebook.


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