Teófilo Cubillas em entrevista ao Maisfutebol. Nesta peça fala-se de José Maria Pedroto, de Pavão e dos melhores amigos no balneário do F.C. Porto. O peruano recorda como chegou a Portugal e do contrato «longo e valioso» que o esperava.


Como é que uma das maiores figuras do Mundial de 70 só chega ao futebol europeu três anos depois?

As coisas eram muito diferentes. Eu estava bem no Alianza Lima e por mim ficava lá toda a vida. Por acaso fui jogar à Suíça pela selecção do Resto do Mundo, contra a selecção da Europa, num jogo da Unicef. Ganhámos 3-1, marquei dois golos e já não me deixaram ir embora. O Basileia contratou-me.


Mas só ficou seis meses na Suíça. Em Janeiro de 1974 o F.C. Porto contratou-o.

Não era feliz na Suíça. Andava sempre arrepiado. Era só frio e neve. Não conseguia ficar lá nem mais um dia. Certo dia estou em casa e o meu empresário disse-me que ia para o Porto. Foi o senhor Jorge Vieira, antigo dirigente, que me foi buscar.


Quais são as suas memórias mais fortes do F.C. Porto e de Portugal?

Olhe, antes de mais lembro-me de olhar para o contrato e ficar embasbacado. Em Portugal nunca ninguém tinha assinado um acordo tão longo e tão valioso. Senti que tinha de dar tudo de mim àquelas pessoas. Veja bem: no segundo ano fui eleito capitão de equipa pelos meus colegas. Foi um gesto lindo.


O Cubillas chegou poucos meses após a morte do Pavão. A equipa ainda estava traumatizada?

Bastante. No balneário falava-se muito sobre ele. Lamentavelmente, não cheguei a conhecê-lo. Gritávamos o nome dele antes dos jogos, no balneário. Apercebi-me da sua importância dentro da equipa. Como é que alguém tão jovem morre daquela maneira?


E quem eram os seus melhores amigos?

Nunca tive problemas com ninguém. Acho que não tenho mau feitio (risos). Mas era mais chegado ao Fernandinho Gomes, que estava a começar a jogar nos seniores. Também falava muito com o Rodolfo Reis, com o Teixeirinha, com o brasileiro Marco Aurélio¿ Os guarda-redes eram muito simpáticos. O Tibi e o Rui. Tínhamos uma bela equipa.


O seu último treinador foi o José Maria Pedroto. Gostou de trabalhar com ele?

Que grande homem! Era muito enérgico, dava tudo o que tinha nos treinos e nos jogos. O senhor Pedroto era um homem de carácter, inteligente e manhoso. Conhecia todos os segredos do futebol. Comigo até era meigo, mas vi-o aos berros com outros jogadores várias vezes.

Leia as outras partes da entrevista:

«Não fui campeão porque havia um senhor chamado Eusébio»
«Desculpem, nunca me despedi como devia»
Cubillas: «Pelé disse a todos que eu era o seu sucessor»