Por uma visão mais profissional do Desporto. Foi com este lema que o curso de especialização em Gestão Profissional do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) chegou ao fim do seu primeiro ano lectivo. Na acção participaram 35 alunos, todos eles ligados ao fenómeno desportivo. Entre os aprendizes, destacavam-se figuras como Rebelo, jogador do Estrela da Amadora, Nunes de Carvalho, presidente do Estoril-Praia, ou Patrícia Lopes, advogada ligada à SAD do Sporting. 

A ideia é ainda nova em Portugal, mas Eduardo Correia, director do curso e docente do ISCTE, está convicto de que este é mais um passo para o início de uma nova era no desporto português - o caminho da profissionalização: «O primeiro ano deste curso foi um sucesso. Alunos e professores chegaram ao fim muito mais valorizados e com uma experiência enriquecedora. É deste tipo de acções que o desporto português precisa». 

Os participantes distinguem-se por estarem todos ligados ao mundo do desporto: dirigentes, atletas e árbitros provenientes das mais diversas modalidades - futebol, natação, golfe, basquetebol... Uma abrangência que se completa com empresários e jornalistas. Em comum, estas pessoas têm o gosto pela sua valorização pessoal e cultural: «Na sua esmagadora maioria são licenciados, cerca de 90 por cento, mas entendemos que havia interessados que reuniam um perfil adequado para frequentar o nosso curso, mesmo que não tivessem preperação superior. Daí a nossa preocupação em fazer uma especialização, que não exige licenciatura, em vez de uma pós-graduação». Eduardo Correia destaca também a participação de 12 por cento de mulheres, entre o universo dos participantes. 

O curso visou abordar as mais variadas temáticas ligadas a uma gestão profissional: conceitos de gestão; organização do desporto; práticas computacionais; organização internacional; mercado de capitais no desporto profissional; marketing e vendas nas instituições desportivas; psicossociologia das organizações desportivas; contratação, compra, venda e formação de atletas; estratégia e viabilização de projectos; legislação laboral no desporto. 

Todos estes temas apontam para um cuidado especial em configurar a grande complexidade das questões que estão em causa. Uma realidade bem diferente daquela que, na perspectiva de Eduardo Correia, vigora ainda hoje no desporto português: «Há uma profunda reforma a fazer. Falta ainda muito rigor e muita transparência no desporto em Portugal. O caminho do profissionalismo tem que ir por esses conceitos. Há que ter regras claras e há que ser exigente». 

Eduardo Correia salienta que, depois de um ano de actividades lectivas, algumas conclusões foram tiradas: «Ficou claro que há muito trabalho a fazer. Há que incentivar o Desporto Escolar, que quase não existe em Portugal. Há que apostar claramente na formação. Há que exigir mais profissionalismo aos clubes, mas também dar-lhes condições para isso». E como é que isso se faz - será que as mentalidades mudam com meros instrumentos jurídicos? Eduardo Correia concorda que o caminho é longo: «Há muitas ideias erradas no desporto português: há uma excessiva futebolização, que esconde muita coisa. É óptimo termos o Figo, o Rui Costa, foi óptimo termos ganho a organização do Euro-2004, mas não se pode olhar só para a árvore: há que ver toda a floresta. Esquecemo-nos das nossas deficiências e inebriamo-nos com alguns sucessos».