«Joguem futebol, mas não descurem os estudos, porque o futebol não é para todos!». Este conselho terá sido repetido infinitas vezes por todos os treinadores da formação. Muitas vezes, no braço de ferro, só um dos mundos ganha, mas também é verdade que há excepções. Uma delas tem 1,90 cm de altura, 22 anos, joga no Santa Clara e dá pelo nome de Matt Jones.
O guarda-redes que está em Portugal para «tentar construir uma carreira», formou-se no West Bromwich (WBA), mas cedo percebeu que as oportunidades não iam ser muitas. «Saí do WBA quando percebi que ia ter grandes dificuldades em jogar. O clube estava na Premier League, tinha outras opções, como o Kuszczak e o Russell Hoult, e deixaram-me sair. Fiquei um jogador livre e decidi que queria salvaguardar o meu futuro. Decidi ir para os EUA, para a Universidade Sacred Heart, em Connecticut. Foi a melhor decisão que podia ter tomado. Foi um tiro certeiro», conta o guarda-redes ao MaisFutebol.
Matt Jones passou a alinhar na equipa de futebol da sua Academia, os Pioneers, ao mesmo tempo que estudava. «Foi uma experiência muito boa, a melhor decisão que tomei na minha vida. Deu-me oportunidade de jogar futebol e, ao mesmo tempo, assegurar a minha educação. E a forma como eles lá encaram o desporto permite-me chegar ao futebol profissional e impor-me, porque saímos preparados para isso. Dão-nos uma boa base nas duas vertentes», garante.
Nos Açores, pela mão de Joe Barroso
Terminado o curso, era altura de dar um rumo à carreira. Aí, os contactos do treinador, o português Joe Barroso, foram essenciais: «O meu treinador tinha alguns amigos em Portugal e conseguiu que eu viesse fazer um teste ao Santa Clara. Correu bem e consegui ficar. Hoje sei que ele tinha razão e Portugal é um bom local para começar uma carreira».
Para além de Joe Barroso, nos Pioneers Matt Jones lidou de perto com o médio Sérgio Freitas, americano filho de pais portugueses, e André Faria, guarda-redes que não vingou no Belenenses, onde fez a formação. «Falei com eles sobre o Santa Clara e disseram-me que era uma boa equipa da II Divisão portuguesa, mas que ainda há poucos anos esteve no principal escalão. Sabia que, no ano passado, estiveram perto de subir, mas não conseguiram. Por isso já sabia que vinha para cá para tentar subir, se conseguisse ficar no plantel. E isso é bom para mim, porque se estivermos na luta para subir vamos ter mais atenção da comunicação social», afirma.
A primeira temporada está «a correr muito bem». Matt Jones já é titular e ajudou a equipa a ganhar destaque na Taça de Portugal, eliminando o Marítimo: «Mostramos não só com o Marítimo, mas também com a Naval para a Taça da Liga, que podemos fazer frente às equipas da primeira divisão, mas temos de nos concentrar no nosso objectivo que é a subida».
«Nos Açores não há distracções, concentro-me no futebol»
«Adoro viver nos Açores». É a sentença perfeita, espelho da forma como o inglês vê esta nova fase na carreira. «É um sítio muito bom para se viver, porque é pequeno e sossegado, comparado com os EUA. Não há grandes distracções, posso-me concentrar só no futebol», admite. A relação com os colegas e as gentes açorianas melhora à medida que as barreiras linguísticas se esbatem, até porque a vontade de aprender não ficou na América: «Já estou a ter aulas de português e há muita gente cá que fala inglês, o que torna tudo mais fácil. E eu vou treinando o português todos os dias e a cada dia que passa, fica melhor».
Matt Jones sempre mostrou saber dar o passo certo. E, mesmo entrando pelos infinitos caminhos de um sonho, continua com os pés assentes na terra: «O meu sonho no futebol? Já o estou a viver. O meu sonho sempre foi ser profissional de futebol e, felizmente, consegui. Gostava de construir uma boa carreira, mas o meu sonho era apenas jogar futebol. Neste momento, estou a viver o meu sonho».