O nome Da Silva deixa uma pista: pode ser português. E é, além de francês.

Da Silva foi autor de um dos golos da jornada no campeonato francês e é provável que este domingo tenha pegado no jornal e olhado com espanto para o seu nome ali impresso, um pouco abaixo de outros, fregueses habituais, como Ibrahimovic e Cavani.

De nacionalidade portuguesa, Marco da Silva é na verdade mais um portugais do que um português. Nascido em França, ambos os pais são emigrantes.

Quase tudo o que está disponível online sobre este médio defensivo foi contado pelo próprio ao site do clube onde joga, o discreto Valenciennes. Afinal, este foi apenas o quarto jogo na primeira divisão francesa. Estreou-se em 2011/12, mas até este sábado só tinha somado 18 minutos.

Num só dia jogou pela primeira vez um jogo inteiro e conseguiu um golo. O primeiro, claro, por sinal importante. O Rennes chegou a estar a vencer por 2-0, mas os visitantes chegaram ao empate. Da Silva marcou aos 73 minutos. Um remate forte, de pé direito, à entrada da área. A bola ainda colaborou ligeiramente ao embater num adversário e caminhar sobre o guarda-redes local. Faz parte.

O Valenciennes é penúltimo e este momento de felicidade garantiu-lhe um empate no estádio do Rennes, de Nelson Oliveira. Por sinal o primeiro ponto longe de casa, na estreia do novo treinador, o belga Ariel Jacobs, contratado porque a matemática dos pontos não estava a sair.

Mas regressemos às raízes de Marco, reveladas pelo próprio ao site do clube. «Fui português antes de ser francês, nacionalidade que adquiri antes de entrar Clairefontaine». Filho de pais nascidos no Souto (Douro), a família do pai emigrou, a da mãe permanece em Portugal. Marco considera-se um produto da cultura dos dois países. No verão de 2012, quando deu esta entrevista, há muito tempo que não visitava Portugal, mas em miúdo recorda-se das férias no Porto e no Faro. Até aos 11-12 anos dividiu o tempo entre o futebol e o ténis.
Admirador de Federer , foi obrigado a decidir qual o desporto em que realmente queria investir. O futebol ganhou, mas o ténis permanece uma paixão. «Só perdi um jogo na minha carreira de tenista», atira a rir.

Da Silva começou por jogar no AFC Compiègne. Dali seguiu para o centro de formação nacional Clairefontaine, onde só entra a elite da região. Ficou por lá três épocas, está no Valenciennes há quatro temporadas. Aos 21 anos, é por este clube de média dimensão, situado no norte do país, a poucos quilómetros da fronteira com a Bélgica, que está a entrar na principal montra do futebol francês.

Quando lhe pedem que enumere os pontos fortes, Marco da Silva refere três:
o passe, o remate e a resistência. Do lado errado da balança fica a velocidade, o que num médio defensivo não é especialmente grave. Quanto a ídolos, os nomes que refere não surpreendem: Gerrard, Xavi e Xabi Alonso. Quanto a desejos, no verão de 2012 ele era simples: participar num jogo da equipa profissional. Está cumprido, com distinção, quatro anos depois de ter treinado pela primeira vez com a equipa profissional. Tinha 17 anos e nem queria acreditar.

No mesmo trabalho sobre Marco da Silva, o treinador da equipa sub-19 do clube, Franck Triqueneaux, explica quem é o portugais. «É agradável trabalhar com ele, sabe ouvir e colocar-se em questão. Tem um projeto, sabe onde quer chegar. Possui um remate forte, sabe fazer jogar a equipa e utiliza como nenhum outro na nossa equipa as bolas longas».

Depois do jogo, depois do golo, Marco Da Silva passou pelo Twitter para agradecer. Pela primeira vez, ele tinha ajudado a salvar a equipa e era uma das figuras da jornada em França.