Cristiano Ronaldo
É provável que o
CR7 tenha sido a figura internacional do ano. Aliás, escrever CR7 já é dar um ar internacional à coisa. Por cá ele é o
Cristiano, o Ronaldo, até o Rónáldo. Seja qual for a forma de o designar, em 2013 ele foi nosso. Tudo porque Ronaldo decidiu o play-off do nosso contentamento. Mais do que decidir, arrisco, foi a forma como decidiu. Depois do golo e da bola à barra na Luz, aqueles três momentos inesquecíveis em Solna. Por aquela altura o mundo do futebol andava entretido com uma rábula de Joseph Blatter, com a Bola de Ouro pelo meio. A polémica com o presidente da FIFA e o duelo com Ibra deram dimensão mundial ao que era suposto ser só nosso: o sofrimento do costume para chegar a uma fase final do Mundial. E a solução maravilhosa de Ronaldo.

Paulo Bento
O selecionador jogava tudo no play-off. Antes dos jogos com a Suécia, o habitual. Que o grupo era fechado, que Portugal tinha poucas alternativas, que a equipa de todos nós falhava sempre que os jogos pareciam tranquilos e os adversários fraquinhos. E de facto assim tinha sido. Um selecionador é alguém que aparece de vez em quando na nossa vida. Passa muito tempo entre vídeos e observações, a atualidade raramente passa por ele. Num desses momentos, Paulo Bento comprou uma guerra com Pinto da Costa, presidente do FC Porto. Enfim, tudo foi esquecido durante os jogos com a Suécia, sem dúvida os momentos mais intensos de 2013. Para sempre ficará a imagem de Paulo Bento a correr rumo ao balneário, em Solna, e depois a voltar para o banco. Eufórico com o golo de Ronaldo. Como todos nós. E assim Portugal evitou mais um desempregado.

João Moutinho
O FC Porto de Vítor Pereira alimentava-se dos movimentos dele. Aquela forma de jogar, assim controlada, era a cara de João Moutinho. Como em todas as épocas que passou no Dragão, 2013 foi ano de festa para o pequeno médio. Ao contrário de épocas anteriores, desta vez chegou o mercado e as notícias da sua transferência não foram apenas notícias. O Mónaco chegou e pagou muito dinheiro. Por ele e por James, o que começou logo ali uma polémica ainda sem fim à vista. O Sporting, com direito a uma percentagem da venda, achou barato. Um dia a Liga decidirá. A opção terá sido financeiramente invejável para Moutinho. Mas foi desportivamente surpreendente. E questionável. O Mónaco contratou depois mais algumas estrelas e construiu uma equipa que fechou 2013 apenas a três pontos do líder do campeonato francês, o também multimilionário PSG. Moutinho ficou um ano sem Europa, o que teve pelo menos a consequência feliz de não o desgastar excessivamente. Quando chegou o Play-off ele disse presente. Como sempre. E foi decisivo na Suécia, o melhor português logo a seguir a Ronaldo. Entretanto, pelo Dragão continuava a falar-se em Moutinho, apesar de o novo treinador, Paulo Fonseca, rogar que parassem as lamúrias. O FC Porto experimentou Defour, Herrera, Josué e parece que só acertou quando escolheu Carlos Eduardo e fez Lucho baixar no terreno. Para substituir um craque, só outro.

Vítor Pereira
Três épocas no banco do FC Porto, a primeira com Villas-Boas na cadeira de sonho, três títulos. E mesmo assim Vítor Pereira nunca foi amado pelos adeptos. Os números impressionam. O treinador criou um FC Porto que assentava o seu jogo no controlo da bola e na gestão otimizada das emoções. Uma equipa que raramente se desequilibrava, montada sobre o ritmo constante de Moutinho, a segurança de Fernando, a inteligência de Lucho e os golos de Jackson. Depois de mais uma festa, a dúvida durou uns dias. Vítor Pereira continuaria? Acabou por sair. Em grande entrevista ao Maisfutebol, explicou o processo. Mas sobretudo deu a conhecer-se, como nunca antes. Ficou um retrato de alguém profundamente apaixonado pelo futebol, metódico, crente na sua capacidade de trabalho. Talvez tenha sido isso, mais o óbvio dinheiro grande, que o levou a aceitar o mais inesperado convite: treinar na Arábia Saudita. Manteve-se sem perder durante semanas, mas as últimas jornadas têm sido um duro choque com a realidade. O Al Ahli separou-se do líder, caiu cedo da Liga dos Campeões asiáticos. Vítor Pereira não precisará de voltar a preocupar-se com dinheiro, mas 2013 termina com uma dúvida: podia ter sido diferente?

Paulo Fonseca
O trabalho em Paços de Ferreira foi incrível. O melhor de sempre de um treinador naquele clube, claro, mas também um dos melhores de sempre fora dos grandes. Um pouco o que José Mourinho fez em Leiria, no início do século, mas levado até ao fim. A consequência foi o convite do FC Porto e a entrada imediata numa outra vida. Sem Moutinho e James, Paulo Fonseca tentou encaixar as suas ideias. Não se pode dizer que tenha tido sucesso. A instabilidade provocada na forma de jogar da equipa custou a Liga dos Campeões, alguns empates, uma derrota em Coimbra e consequente espera dos adeptos. Dentro do autocarro, Paulo Fonseca sentiu o que é perder num clube como o FC Porto. Apesar do sofrimento, 2013 nem termina mal. Parece ter descoberto como equilibrar o meio-campo, vai receber Quaresma e afinal até tem os mesmos pontos de Sporting e Benfica.

Jorge Jesus
Na história recente do futebol português não há memória de uma relação
tão forte e duradoura como a que une o treinador Jorge Jesus e o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. Só isso impediu o despedimento de Jorge Jesus no final da época 2012/13. Líder durante diversas jornadas, desperdiçou a vantagem ao empatar em casa com o Estoril e perder nos descontos com o FC Porto, no Dragão. Derrotado também na final da Liga Europa, curvou-se ainda perante o Vitória de Guimarães, na final da Taça de Portugal. Nessa tarde, foi envergonhado em pleno relvado pelo melhor marcador da equipa, Cardozo, que o desrespeitou. Meses depois, foi obrigado a aceitar a presença do paraguaio e fingir que não foi nada com ele. A segunda metade do ano, de resto, não tem sido melhor. Depois de mais uma cena em pleno relvado (outra vez num jogo com o Vitória, em Guimarães) foi castigado com a benevolente sanção de um mês na bancada. A equipa ainda não se encontrou, o treinador tem mudado de sistema e por causa dessas oscilações foi remetido à Liga Europa, incapaz de ser mais forte do que o modesto Olympiacos, na Liga dos Campeões. Jesus termina 2013 com hipóteses de voltar a ganhar tudo, em 2014. Mas desiludiu o presidente, que agora manda recados de Natal, e o estádio está cada jogo menos composto. Apontado como o 11º treinador mais bem pago, não foi em 2013 que justificou o salário.

Cardozo
Protagonizou a mais longa transferência (frustrada...) do Verão. Depois dos golos do costume, a inesperada discussão com Jesus em pleno Jamor. Cardozo foi de férias e logo apareceu o Fenerbahçe. O namoro durou semanas e dezenas de capas de jornais, em Portugal e na Turquia. Regressou, cumpriu castigo, foi impedido de treinar e até de ver jogos na Luz. Sem ele, a equipa perdeu na Madeira, salvou-se no último minuto com o Gil Vicente e empatou em Alvalade. Depois Cardozo trouxe golos. Não ficou tudo maravilhoso, mas deu para perceber que continuava a haver lugar para o melhor marcador estrangeiro do Benfica. Depois do espantoso jogo frente ao Sporting para a Taça, uma lombalgia. Primeiro apenas uma lombalgia, depois um verdadeiro problema. Desde o início de Novembro que não joga e termina 2013 sem que a situação tenha sido devidamente explicada pelo clube. Quando voltará? Ninguém sabe. Cardozo, figura do princípio ao fim.

Rui Vitória
O Vitória de Guimarães não se apurou para a Liga dos Campeões, como o Paços de Ferreira de Paulo Fonseca, mas o que Rui Vitória conseguiu no Minho não merece menos elogios. No arranque da época, a nova direção do clube começou por deixar sair os jogadores com salários mais elevados. O processo era difícil mas foi muito bem conduzido e explicado. Os adeptos compreenderam e isso deu tempo a Rui Vitória. A qualidade das escolas do clube permitiu ao treinador dispor de jovens talentos que, com paciência e qualidade, soube moldar. O Vitória foi sempre a crescer e terminou a época a vencer o Benfica, naquele que foi um dos melhores momentos da história clube. Rui Vitória provou que o trabalho dá frutos. Apesar de ter perdido alguns jogadores, a segunda metade do ano não foi pior. Saiu sem brilho da Liga Europa, mas está em quinto lugar no campeonato, apenas a dez pontos dos grandes. E, maior vitória de todos, hoje é seguro dizer que o clube está no bom caminho. Aconteça o que acontecer, se houver justiça o nome de Rui Vitória será para sempre lembrado em Guimarães.

Leonardo Jardim
Começou 2013 a ser despedido na Grécia, em circunstâncias que nunca foram claras. O Olympiacos liderava o campeonato sem problemas e acabou de resto por ser campeão. Acabou o ano no primeiro lugar da Liga portuguesa, ao lado de FC Porto e Benfica. Leonardo Jardim já tinha atrás de si bons trabalhos em Aveiro e Braga, mas o que está a fazer no Sporting é notável. Depois da pior época de sempre do clube de Alvalade, o treinador trouxe de volta o sol. Beneficia do facto de estar apenas concentrado no campeonato, sem o cansaço e os desafios das competições europeias. Saiu da Taça de Portugal depois de um dérbi fantástico na Luz e entrará em 2014 como óbvio candidato a fazer o Sporting regressar à Liga dos Campeões e a incomodar FC Porto e Benfica. Para mais é capaz de não dar, que a diferença de recursos é grande.

William Carvalho
O aparecimento do médio do Sporting foi a notícia do ano na Liga portuguesa. Produto da Academia, regressou de um empréstimo na Bélgica e Leonardo Jardim entregou-lhe de imediato a equipa. Essa terá sido, talvez, a melhor e mais importante decisão do treinador do Sporting. Para ele nunca houve dúvidas, à frente da defesa tem de jogar William Carvalho. Com enorme impacto na seleção sub-21, William Carvalho foi lançado por Paulo Bento no momento mais difícil do play-off com a Suécia: logo a seguir ao segundo golo de Ibrahimovic. E ninguém nega que desempenhou de forma muito competente o seu papel. O médio é o exemplo maior da aposta em jovens portugueses. No Sporting, Cédric, Adrien e Wilson Eduardo e até Carlos Mané também conquistaram o seu espaço. Existe uma atenção permanente à equipa B e a sensação de que se for preciso mais alguém aparecerá. No ano em que Bruma explodiu e logo foi embora, a seleção sub 21 começou de forma empolgante a fase de apuramento para o Euro 2015, na República Checa. A equipa de Rui Jorge tem sido a principal beneficiada por estes jovens jogadores terem encontrado um espaço onde competir de forma regular. Nomes como Ruben Vezo, Ivan Cavaleiro, André Gomes, Esgaio, Tiago Ilori, Luís Martins, Ricardo Pereira, Paulo Oliveira, Sérgio Oliveira, Rafa Silva, Tozé e até Bernardo Silva passaram a ser nomes de quem se fala. 

E ainda uma outra figura, a número 11.

Marco Silva
O treinador do Estoril não encaixa exatamente no perfil que se desenha quando se pensa em figura do ano. Pelo contrário, Marco Silva é quase sempre discreto e o clube onde trabalha não lhe garante uma exposição que dê excessiva visibilidade ao que diz e faz. No entanto,
o que Marco Silva fez é notável. O trabalho que tem sido feito no Estoril é moderno no sentido em que hoje, finalmente, se começou a perceber que é preciso aproveitar os recursos ao limite. Tomar decisões ponderadas, razoáveis, ser equilibrado e coerente. Foi com o Estoril e com Marco Silva que aprendemos, ainda em 2012, que ter um plantel formado por jovens de escassa experiência não impede a formação de uma equipa que jogue bem e tenha ambições. Um exemplo que o Vitória de Guimarães, por força das circunstâncias, também seguiu. E que tem no Sporting de Leonardo Jardim o máximo expoente.  No futebol, trabalhar bem compensa. Marco Silva tem explicado isso no Estoril. Depois do sucesso da época 2012/13, perdeu quatro dos melhores jogadores: Steven Vitória e Jefferson, na defesa. Carlos Eduardo, no meio-campo. Licá, na frente. Quase metade da equipa. Sem dinheiro que se veja, o clube procurou soluções e Marco Silva dispôs-se a introduzir os novos jogadores nos processos que existiam. É verdade que a Liga Europa não foi um momento de glória, mas dificilmente poderia ser. A equipa bateu-se em todos os jogos. Ficou pelo caminho, sim, mas deixou boa imagem e, mais importante, não se desequilibrou na Liga. Afinal, o mais importante. Marco Silva acaba a época em quarto lugar no campeonato, apenas a nove pontos dos três grandes. E ainda na Taça da Liga e na Taça de Portugal. Para a história do ano fica o grande jogo no Estoril na Luz. Ajudou a decidir o título.

(porque nos identificamos com a forma de estar e com o trabalho de Marco Silva, pedimos-lhe que fizesse as suas escolhas de 2013. Pode lê-las nesta edição da revista)