Extenuado, mas orgulhoso. Jorge Franco já fez muitas loucuras pela Seleção Nacional. Em 2010, por exemplo, atravessou o continente africano de jipe só para estar no Mundial da África do Sul. Não falha, de resto, um jogo de Portugal desde 1996.

Desta vez levou ao limite a dedicação e o esgotamento físico: pedalou de Palmela a Opalenica, de modo a chegar antes de Paulo Bento e restante comitiva. «Saí dia 25 da minha terra, percorri 3700 quilómetros e cá estou desde o dia 1 de junho», relata ao Maisfutebol.

37 dias de solidão e sacrifício movidos por uma paixão que não se explica. Provavelmente como todas as outras paixões. A alma aguenta, o coração pulula, o corpo sofre. Jorge Franco jamais esquecerá o percurso entre Placencia e Ávila (Espanha).

«Apanhei chuva, gelo e fiquei paranoico em cima da bicicleta. Parecia um pinguim enregelado», conta o auto-intitulado fã número um da seleção. «A mente é o principal obstáculo. Resisti, resisti e consegui. Sinto-me um herói. O melhor prémio que me podem dar é o título de campeão da Europa».

Um bacalhau com cebolada para esquecer o azar

A fé de Jorge Franco move montanhas inexpugnáveis e contorna os obstáculos mais inesperados. Em França, estava já perto de um hotel, foi obrigado fazer 50 quilómetros extra. «Na reta final fui surpreendido por um sinal: proibido a bicicletas. Tive de ir para trás, já sem forças».

Valeu-lhe um bacalhau com cebolada e a simpatia de dois compatriotas à chegada ao porto de abrigo. «Já passava das 21 horas e eu esfomeado. No hall do hotel estavam dois portugueses. Mataram-me a fome», recorda o ciclista palmelão.

O desgaste extenua, leva o organismo a níveis que julga não ter. «Parava o menos possível para as necessidades fisiológicas. Não queria quebrar o ritmo. Em França, numa zona interdita a esse tipo de coisas, já não aguentava mais e parei para urinar. Mal salto da bicicleta surge um carro ao lado».

Para sorte do bravo Jorge, não era a polícia nem nenhum gaulês inflexível. «Era um português, veja lá. Fiz o meu xixi e ficámos logo à conversa».

Uma «maluqueira» levada a qualquer ponto do mundo

Jorge Franco é proprietário de um hotel familiar em Setúbal. Deixou-o, uma vez mais, «em boas mãos». A «maluqueira» pela seleção atira-o para estas aventuras. Não por vaidade, não por querer dar nas vistas, apenas pela certeza de querer motivar os jogadores com estes feitos.

«Eles chegaram, coloquei a minha bicicleta à frente do autocarro e fui até ao hotel. Quero que eles sintam que o país dá o máximo por eles. Sei que eles também darão o máximo pelo país».

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