Viver depressa e morrer demasiado jovem. O lema de uma vida inacabada, a vida de Dener Augusto de Souza. Simplesmente Dener. No dia 19 de Abril de 1994, o craque do Vasco da Gama - então com 23 anos - encontrou a morte num acidente de viação. Faz hoje, precisamente, 16 anos.

Dener foi um cometa que virou o planeta-futebol de pantanas. Estrela da companhia na Portuguesa, no Grémio e no Vasco da Gama, representou duas vezes a selecção do Brasil. Morreu da forma como viveu e jogou. Em velocidade excessiva, a driblar adversários e convenções; num estilo revolucionário, algures entre a malandragem de rua e a genialidade.

«Um drible bonito é melhor que um golo». O título desta história ilustra a personalidade genuína e rebelde do antigo internacional brasileiro. A frase é da sua autoria. Para Dener, mais importante do que marcar era levantar o estádio, com truques e acrobacias. O brasileiro fazia isso melhor do que ninguém.

Cinco horas: um cadáver em exposição pública

A viagem já ia longa. 400 kms entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Dener dormitava no banco ao lado do condutor. Para trás haviam ficado uma reunião prometedora com dirigentes do Estugarda e uma noite de folia numa discoteca paulista. À passagem pela Lagoa Rodrigo de Freitas, o amigo Oto Gomes adormece ao volante, arrasado pelo cansaço.

«Até Maradona o aplaudiu»

O automóvel galga o passeio e atinge enfurecido uma árvore. Oto sobrevive, Dener morre asfixiado pelo cinto de segurança. Trágico, tenebroso. Durante cinco horas, o cadáver permanece no carro. Uma galeria do horror à vista de centenas de populares. A burocracia adia o transporte do corpo do futebolista, figura maior num cenário dantesco.

Valdir Bigode era, à altura do funesto acidente, colega de equipa de Dener no Vasco da Gama. «Fiquei chocado com a notícia. Ele viajava constantemente entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Muitas vezes lhe disse, a brincar, que era muito alcatrão para um franzininho como ele. Digo com orgulho: foi meu grande amigo e um dos melhores jogadores de futebol que jamais conheci», explica o ex-avançado do Benfica ao Maisfutebol.

«O futebol para mim é simples» (Dener)

O percurso meteórico de Dener não deixou ninguém indiferente. Desde o imortal Mané Garrincha o Brasil não via alguém tão moleque. Sempre descontraído, despreocupado, não distinguia o marcador directo, fosse ele grande ou pequeno, magro ou corpulento.

Dener queria era a bola no pé direito. «O resto eu resolvo», dizia muitas vezes em entrevistas. «O futebol para mim é simples. Não entendo por que o complicam.»

«A morte surpreendeu Dener enquanto ele dormia. Se ele estivesse acordado, até ela seria driblada.» Armando Nogueira (jornalista brasileiro)

A reportagem da televisão sobre a morte de Dener:



Um golo brilhante de Dener: